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Lula volta a criticar Lava Jato e reafirma que operação quebrou empresas

Lula acredita que a Lava Jato foi orquestrada pelo MP junto com autoridades do governo dos EUA para atacar as empreiteiras brasileiras.

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22 de março de 2023
Vinicius Palermo
Lula volta a criticar Lava Jato e reafirma que operação quebrou empresas
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre sentimento de vingança com a Lava Jato

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na terça-feira, 21, que é preciso fazer com que novas empresas de engenharia cresçam e se desenvolvam no País. Ele voltou a criticar a Lava Jato e disse que a operação poderia ter prendido um empresário que roubou, mas mantendo o funcionamento da empresa. “O que não pode é quebrar empresa como quebrou”, disse.

“Muitos confessaram que fizeram bobagem e se fizeram bobagem tem que pagar o preço de fazer bobagem. O que não dá é para um País do tamanho do Brasil, com as empresas de engenharia que tinha, ter de trazer empresas chinesas, espanholas … para fazer uma obra qualquer”, disse, ao comentar sobre as consequências da Operação Lava Jato.

O presidente revelou pela primeira vez que, quando estava preso em Curitiba, tinha uma ideia fixa e a declarava quando recebia visitas formais de procuradores e delegados na cadeia. Segundo o petista, em todas as visitas as autoridades lhe perguntavam se estava bem. Lula diz que dava sempre a mesma resposta: “Só vai ficar bem quando eu f**** com o Moro”.

O presidente foi condenado e preso por sentença assinada pelo então juiz Sergio Moro (União Brasil), hoje senador pelo Paraná. O petista foi acusado de se beneficiar de desvios de recursos na Petrobras a partir de investigações na operação Lava Jato. A condenação acabou anulada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou a 13ª Vara Federal de Curitiba incompetente e Moro parcial ao julgar Lula.

A revelação de Lula sobre os dias da prisão foram feitas durante entrevista ao site 247. O presidente disse acreditar que a Lava Jato foi orquestrada pelo Ministério Público junto com autoridades do governo dos Estados Unidos para atacar as empreiteiras brasileiras.

Lula disse ainda ter a palavra do Exército, Marinha e Aeronáutica de que haverá um esforço de despolitização das Forças Armadas no País. Ao afirmar que não ficará de “biquinho” com elas, ele declarou que só quer que as Forças cumpram aquilo que está na Constituição.

“Tenho hoje a palavra das 3 Forças de que vai ter um esforço muito grande para despolitizar as Forças Armadas. Inclusive, vamos discutir com o Congresso Nacional, temos interesse em mandar um Projeto de Lei dizendo que quem quiser ser candidato a alguma coisa, vá para a reserva. O que não pode fazer é ficar utilizando as Forças Armadas para fazer política”, disse.

Lula comentou que os militares têm um compromisso com a Constituição de garantir a soberania nacional e integridade do território. “Elas têm que atender ao presidente da República, independentemente de que partido pertence o presidente”, pontuou “Tem que obedecer dentro das regras que estão estabelecidas na Constituição.”

O presidente disse querer almoçar nas Forças, em referência ao almoço que teve na semana passada na Marinha. “Vou tratar eles com respeito que eu acho que eles merecem e quero que eles tratem a democracia do jeito que merece”, disse. O chefe do Executivo afirmou que nunca acreditou no risco de golpe no País.

Na avaliação de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro queria que os atos antidemocráticos que ocorreram no dia 8 de janeiro em Brasília tivessem acontecido no dia 1º de janeiro, dia da posse presidencial. “Acontece que dia 1º tinha muita gente e eles resolveram recuar e fizeram aquilo dia 8”, comenta. De acordo com Lula, as pessoas que participaram da movimentação de 8 de janeiro serão punidas.

Questionado se Bolsonaro deveria ser preso, o petista disse que não é o presidente da República que decide isso. “Quero que Bolsonaro tenha a presunção de inocência, que eu não tive”, pontuou. “Se ele for julgado culpado, que ele pague o preço da sua culpabilidade”, emendou.

O presidente afirmou também que pretende discutir uma mudança na Constituição para determinar um período de mandato para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Hoje, para ser indicado pelo presidente, um ministro do STF precisa ter mais de 35 e menos de 70 anos de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada. A aposentadoria compulsória é aos 75 anos.

Lula relembrou proposta feita pelo então candidato à presidência, Fernando Haddad, em 2018, sobre a possibilidade de limitar o mandato de ministros do STF ao período de 15 anos. “Em 2018, no programa de governo do Haddad, estava a discussão de um mandado para o ministro da Suprema Corte. Eu não sei se na época era um mandato de 15 anos em que você poderia entrar e ficar 15 anos ou você poderia entrar a partir de uma idade e terminar aos 75 anos. Eu acho que é um assunto que vamos discutir proximamente”, disse Lula.

Este ano, Lula tem direito a duas indicações de ministros para o STF devido às aposentadorias compulsórias de Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, que deixarão o Supremo em maio e outubro respectivamente, quando completarão 75 anos.

A declaração de Lula na terça-feira foi feita em meio às especulações sobre a indicação de Cristiano Zanin, seu advogado, que ganhou notoriedade nos processos relacionados à Operação Lava Jato. Lula reforçou elogios e enfatizou que o advogado foi “uma revelação extraordinária no campo jurídico”.

“Cristiano Zanin foi a grande revelação jurídica nesses últimos anos. Ele foi muito criticado (…) eu tinha consciência de que o meu processo era jurídico e por isso eu queria o Zanin. Ele nunca tomou uma decisão que não fosse conversar comigo. Ele terminou sendo uma revelação extraordinária”, declarou.

Lula tem sido cobrado, especialmente por movimentos sociais, para indicar uma mulher para assumir a cadeira do ministro Ricardo Lewandowski. Movimentos de mulheres e entidades jurídicas apelam para que o presidente opte por uma mulher e diversifique a composição da Corte. Lula afirmou que trata-se de uma discussão “sem lógica” e reforçou que a validação da escolha será feita pelo Senado.

“Essa discussão que está sendo feita não tem sentido (…) Eu não vou indicar o ministro para ser meu amigo (…) quero alguém que seja competente do ponto de vista jurídico e que faça a constituição ser respeitada”, comentou.

“Eu não sei quem eu vou iniciar, não tenho compromisso oficial com ninguém. No dia que tiver que tomar uma decisão, vou tomar sozinho e mandar o nome para o Senado. Eu vou indicar uma pessoa que eu acho que possa ser útil para o Brasil”, citou.