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Lula quer discutir uso de moedas alternativas ao dólar

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender o uso de moedas alternativas ao dólar para transações comerciais internacionais.

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24 de junho de 2023
Vinicius Palermo
Lula quer discutir uso de moedas alternativas ao dólar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com o presidente da França, Emmanuel Macron, em París. Foto: Ricardo Stuckert/ PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender na sexta-feira, 23, o uso de moedas alternativas ao dólar para transações comerciais internacionais. Em Paris, Lula disse que irá pautar o debate nas cúpulas do Brics (bloco formado com Rússia, China, Índia e África do Sul), em Johanesburgo, em agosto, e do G20, em Nova Délhi, em setembro.

A pauta agrada a potências rivais dos Estados Unidos, por contestar a predominância da moeda norte-americana como padrão internacional.

O presidente já propôs a criação de uma moeda sul-americana com essa finalidade, bem como uma no âmbito do Brics. Brasil e China estabeleceram neste ano as bases para transações diretas entre real e yuan, sem necessidade de conversão ao dólar.

“Tem gente que se assusta quando eu falo que é preciso a gente criar novas moedas para fazer comércio. Não sei por que Brasil e Argentina têm que fazer comércio em dólar. Não sei por que Brasil e China não podem fazer nas nossas moedas. Por que eu tenho que comprar dólar? Essa discussão está na minha pauta e se depender de mim ela vai acontecer na reunião do Brics e também na reunião do G20.” impedem

O presidente afirmou também que tem intenção de fechar o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia (UE), mas que as exigências ambientais impedem. “Estou doido para fazer o acordo com a União Europeia, mas não é possível, a carta adicional não permite que se faça um acordo. Não é possível a gente ter uma parceria estratégica e fazer uma carta fazendo ameaça”, disse Lula, ao discursar na cúpula do Novo Pacto Financeiro Global.

Na França, diante do presidente Emmanuel Macron e do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, Lula voltou a externar a posição que o governo brasileiro adotou em maio, de rejeitar a carta adicional por meio da qual os europeus apresentaram condicionantes à assinatura e posterior ratificação do acordo.

O presidente do Brasil também pretende discutir as resistências do agro francês com Macron, em almoço de trabalho no Palácio Eliseu. O líder francês sofre pressão interna e o parlamento da França aprovou moção de veto ao acordo.

Segundo o governo brasileiro, essa carta (side letter, no jargão diplomático) torna obrigatórias metas que o Brasil instituiu voluntariamente no Acordo de Paris – e ainda prevê punições em caso de descumprimento.

O texto está alinhado com a nova lei antidesmatamento adotada nos 27 países – determina o banimento de produtos que tenham sido produzidos em área desmatada de 2021 em diante. Lula já havia dito que essa lei tornava o acordo desequilibrado. Ele já havia reclamado da desconfiança diretamente à presidente do Conselho Europeu, Ursula von der Leyen.

O Brasil ainda articula com os sócios do Mercosul uma resposta conjunta, mas já rechaçou adotar a proposta da UE. Desde a apresentação dos termos europeus, o acordo emperrou e se acirraram as divergências de lado a lado.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que manteve um ótimo almoço de trabalho com o presidente da França, Emmanuel Macron. Lula foi recebido no Palácio Eliseu, sede da presidência francesa. “Ótima reunião, ótimo almoço e vai ser ótima a próxima conversa”, disse Lula, ao sair do Eliseu e abraçar Macron. “Formidável”, disse o presidente francês, cumprimentando ministros de Lula após o que chamou de uma “boa troca”.

O encontro foi ampliado com os ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, da Defesa, José Múcio, de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Fazenda, Fernando Haddad. Dois comandantes militares participaram: o almirante Marcos Olsen, da Marinha, e o brigadeiro Marcelo Damasceno, da Força Aérea.

Macron afirmou à delegação de Lula no almoço que irá ao Brasil no segundo semestre, atendendo convite do petista. A data não está fechada, mas Lula quer a presença dele em uma reunião do Tratado de Cooperação Amazônica, a ser realizada em agosto, em Belém (PA).

Os presidentes discutiram entraves ao Acordo Comercial do Mercosul com a União Europeia. Lula manifestou reiteradamente que não aceita condicionantes ambientais propostas pelo bloco europeu e considera que os franceses precisam ceder no protecionismo do setor agrícola. Macron sofre pressão interna do segmento para não avançar no acordo.

Lula disse na cúpula do Novo Pacto Financeiro Global que estava “doido” para fechar a negociação, mas que as exigências ambientais impedem um acordo.

Conversaram ainda, segundo um integrante da comitiva, sobre a revisão do contrato de construção de submarino a propulsão nuclear, que envolve os dois países, o Pro-Sub. As comitivas trataram também da cooperação de segurança na zona de fronteira, entre o Amapá e a Guiana Francesa, sobre intercâmbio cultural e mudanças climáticas.