País
Jogo político

Lula nega que governo tenha problemas com Congresso

Lula ressaltou que o Congresso aprovou a PEC da transição, antes mesmo de sua posse, para abrir espaço no Orçamento para o governo recompor programas sociais

Compartilhe:
23 de abril de 2024
Vinicius Palermo
Lula nega que governo tenha problemas com Congresso
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe jornalistas em café da manhã no Palácio do Planalto. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, negou na terça-feira, 23, que o governo tenha problemas com o Congresso, apesar do risco de o Palácio do Planalto enfrentar “pautas-bomba” e da tensão entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Para Lula, são “situações normais da política”.

“Não há divergência (com o Congresso) que não possa ser superada. Se não houvesse divergência, não haveria necessidade de a gente dizer que são três Poderes autônomos”, declarou Lula, em café da manhã com jornalistas.

E emendou: “A gente não vai viver uma eterna briga, porque, se você optar pela velha briga, você não aprova nada.”

Lula ressaltou que o Congresso aprovou a PEC da transição, antes mesmo de sua posse, para abrir espaço no Orçamento para o governo recompor programas sociais, além de ter aprovado propostas importantes como a reforma tributária. “Eu, sinceramente, não acho que a gente tenha problema no Congresso. A gente tem situações que são coisas normais da política.”

Lula confirmou que se encontrou com Lira no domingo, 21, no Palácio da Alvorada, mas se recusou a detalhar o conteúdo da conversa.

“Eu não tive reunião com Lira, eu tive uma conversa com Lira, é diferente”, disse o presidente. “Como foi uma conversa entre dois seres humanos, eu não sou obrigado a falar da conversa”, acrescentou.

Lula disse ainda que não se irrita com eventuais decisões do Congresso de derrubar vetos que ele faz a projetos aprovados pelo Legislativo. Afirmou que “tudo isso faz parte do jogo político” e que vê esse tipo de decisão pelos deputados e senadores com “normalidade”.

“Não fico nervoso ou irritado. É um papel deles, não tenho o que reclamar. Às vezes, fico incomodado com a minha incompetência de não tê-los convencido do contrário”, afirmou o presidente.

Em relação ao projeto de lei que proíbe as saídas temporárias de presos, Lula disse ter seguido uma recomendação do Ministério da Justiça e Segurança Pública para vetar um trecho da proposta. Defendeu também o direito de alguns presos, que não tenham sido condenados por crimes hediondos, terem contato com a família para a ressocialização.

“Se o Congresso derrubar, é um problema do Congresso. Posso lamentar, mas tenho de acatar”, afirmou o presidente da República.

Lula também disse na terça-feira que o preço da carne “tem que baixar muito mais”, apesar de já ter caído após pouco mais de um ano de governo. A declaração foi dada em meio a uma resposta do presidente no café da manhã com jornalistas, na terça, sobre promessas de campanha feitas em 2022.

“Eu não esqueci da cervejinha e da picanha. Eu ainda falo até hoje. O preço da carne já baixou, mas tem que baixar muito mais. Tudo isso está no nosso programa. Já fizemos a desoneração do Imposto de Renda até dois salários mínimos. Tenho compromisso de fazer até R$ 5 mil até o fim do meu mandato, e vou fazer”, disse Lula.

O aumento na faixa de isenção do Imposto de Renda foi aprovado no Senado na semana passada e encaminhado à sanção presidencial.

O presidente disse ainda que deve se reunir com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ainda nesta semana para discutir a pauta na Casa Alta do Congresso. Segundo Lula, a reunião poderia ter acontecido no fim da semana passada, mas Pacheco não estaria se sentindo bem por causa de uma vacina que havia tomado.

“Tentei falar com Pacheco na sexta e ele tomou uma vacina, acho que contra a dengue, e ele não estava bem. Preferi não ligar no sábado e no domingo, mas prefiro conversar com ele, Jaques Wagner e Randolfe Rodrigues para discutirmos a pauta no Senado. Isso é certo e possivelmente aconteça nesta semana”, disse o presidente, referindo-se aos líderes do governo no Senado e no Congresso, respectivamente.

Um dos principais itens na pauta do Senado é a proposta de emenda à Constituição (PEC) do Quinquênio, que tem um potencial de impactar as contas públicas em até R$ 40 bilhões, a depender da quantidade de categorias contempladas com o adicional de 5% a cada cinco anos de serviço público.

O presidente afirmou ainda que “acha normal” a volta do ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha à política. O petista, porém, fez a ressalva de que “anormal é se ele tiver tendo influência política nas decisões do Congresso Nacional” e que acredita que isso não ocorra.

Eduardo Cunha voltou a circular por Brasília. Ele tem frequentado o gabinete da filha, a deputada Dani Cunha (União Brasil-RJ), e garante que voltará a concorrer em 2026. O político foi responsável pela abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e articulou a sua aprovação num momento em que ele ainda gozava de plenos poderes na Câmara.

Para Lula, o ex-deputado “tem que saber que o poder que ele tinha jogou no lixo”. O presidente afirmou que Cunha teve uma votação ‘pífia’ e ‘vergonhosa’ nas eleições de 2022, mas que é normal ele visitar o gabinete da filha na Câmara. Ainda segundo Lula, “uma vez deputado sempre deputado”.

Cunha tem se movimentado para restabelecer o prestígio entre deputados. Ele foi um dos mais prestigiados na festa de aniversário do deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP) há duas semanas. Um beija-mão se estendeu noite adentro. Entre abraços saudosos, o ex-deputado foi chamado de “presidente” até pelo comunista Renildo Calheiros (PCdoB-PE).

Cunha foi cassado há oito anos por uma maioria esmagadora, de 450 votos a 10, sob acusação de utilizar o cargo para obstruir as investigações do Conselho de Ética na esteira de investigações da Operação Lava Jato.