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Lula enfrenta protestos da extrema-direita ao discursar no Parlamento português

Lula relembrou fatos históricos do Brasil e Portugal e homenageou as duas democracias, além de ter feito críticas ao governo de Bolsonaro.

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25 de abril de 2023
Vinicius Palermo
Lula enfrenta protestos da extrema-direita ao discursar no Parlamento português
Lula e o presidente do Parlamento português, Santos Silva: “na Europa, políticos demagogos negam os benefícios conquistados com a paz e a cooperação na União Europeia”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou protestos dos parlamentares de extrema direita durante seu pronunciamento na sessão solene em que foi homenageado no Parlamento português. Liderado por André Ventura, o partido tem hoje doze deputados e é a terceira força política portuguesa, com fatia de 7%. O Partido Socialista detém maioria absoluta, com 120 deputados.

Em sua fala na terça-feira, 25, o presidente relembrou fatos históricos do Brasil e Portugal e homenageou as duas democracias, além de ter feito críticas ao governo de Jair Bolsonaro. “No Brasil, as forças democráticas demonstraram solidez e resiliência”, disse Lula, reafirmando, em seguida, que “o Brasil voltou a ser internacional”.

Num segundo momento, o presidente, que encerrou as suas atividades oficiais com essa sessão solene, abordou os assuntos que fizeram parte da sua viagem a Portugal. Mais uma vez disse que o Brasil “condena a violação da integridade territorial da Ucrânia” e que “é preciso falar em paz.

O presidente também discorreu sobre a sua vontade de viabilizar o acordo entre Mercosul e União Europeia e ressaltou a importância e disposição pela proteção ambiental. “O Brasil reconhece a importância da proteção ambiental e está preparado para ajudar o mundo com a transição energética”, continuou. As questões sociais e a diversidade de gênero e raça também foram temas da fala do presidente.

Para Lula, na Europa, “políticos demagogos” negam os benefícios conquistados com a paz e a cooperação na União Europeia. “Quem acredita em soluções militares para os problemas atuais luta contra os ventos da história. Nenhuma solução de qualquer conflito, nacional ou internacional, será duradoura se não for baseada no diálogo e na negociação política”, disse Lula.

O presidente apontou, novamente, a preocupação com as crises alimentar e energética provocadas pela guerra e defendeu a ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para torná-lo “mais representativo em seu processo deliberativo e mais eficaz na implementação de suas decisões”.

Lula também citou que a falta de regulação das redes sociais está impulsionando ideologias extremistas. “O mundo tem visto o recrudescimento de ideologias extremistas, impulsionadas pela ditadura dos algorítimos. Elas reduzem o espaço para o diálogo e a empatia, propagam o ódio e constrangem a expressão de nossa humanidade”, disse.

“Eu considero a integração resultante da União Europeia um patrimônio democrático da humanidade. E eu vi no Brasil, a consequência trágica que sempre acontece quando se nega a política, se nega o diálogo”, acrescentou o presidente.

Durante o discurso, Lula foi alvo de protestos de parlamentares do partido Chega, de extrema-direita. As manifestações começaram quando Lula disse que se sentia em casa em Portugal.

O presidente do Parlamento português, Santos Silva, interrompeu a fala e cobrou respeito. “Os senhores deputados, se querem permanecer na sessão plenária, devem comportar-se com urbanidade, cortesia e a educação que é exigida a qualquer representante do povo de português, chega de degradarem as instituições, chega de porem vergonha no nome de Portugal”, disse o português.

Lula encerrou o discurso com a frase: “Viva a liberdade e democracia, não ao fascismo”. Após o evento, o presidente falou à imprensa que quando as “pessoas não têm uma coisa boa para aparecer” fazem “essa cena de ridículo”, “um papelão”.

A cerimônia em homenagem a Lula antecedeu a sessão solene da Assembleia da República em comemoração aos 49 anos da Revolução dos Cravos. Em 25 de abril de 1974, um movimento político e social pôs fim à ditadura de António Salazar em Portugal. Na ocasião, a população distribuía cravos vermelhos a soldados dissidentes, que os colocavam nos canos de suas armas.

Lula lembrou a democracia que começou em Portugal depois do 25 de abril, “criando as bases para o desenvolvimento econômico com justiça social”, e acrescentou que “a democracia no Brasil viveu recentes ameaças”.

“Saudosos do autoritarismo tentaram atrasar nosso relógio em 50 anos e reverter as liberdades que conquistamos desde a transição democrática. Os ataques foram constantes. Os irmãos portugueses assistiram a tudo, preocupados com a possibilidade de que o Brasil desse as costas ao mundo. A notícia que lhes trago é que as forças democráticas brasileiras demonstraram sua solidez e resiliência”, disse.

O presidente Lula está em visita oficial a Portugal desde sexta-feira (21). Na segunda-feira (24), participou de encontro com empresários e da cerimônia de entrega do Prêmio Camões a Chico Buarque. Em 2019, Chico Buarque foi o vencedor da 31ª edição do Prêmio Luiz Vaz de Camões de Literatura, mas o ato de entrega não foi assinado pelo então presidente Jair Bolsonaro.

Após a homenagem na Assembleia da República, a comitiva brasileira encerrou a agenda em Portugal e embarcou para Madri, capital da Espanha, último trecho da visita oficial à Europa.