O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou na manhã de quinta-feira, 9 para Washington DC, nos Estados Unidos, onde se reunirá pela primeira vez com o chefe da Casa Branca, Joe Biden. Lula vai acompanhado de uma comitiva ministerial. Imagens divulgadas pelo Palácio de Planalto mostram que o vice-presidente Geraldo Alckmin o acompanhou até a entrada no avião presidencial.
“Embarcando para os EUA para encontro com o presidente Biden. Até a minha volta no sábado, @geraldoalckmin fica na Presidência”, escreveu Lula, em seu perfil no Twitter.
A previsão é de que o presidente desembarque em Washington DC no início da noite, por volta das 18h, pelo horário de Brasília, duas horas atrás dos EUA. Não há compromissos oficiais para quinta-feira.
Além da comitiva ministerial, o presidente brasileiro viaja acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva. Eles ficarão hospedados na Blair House, residência oferecida a convidados internacionais de relevância.
Lula se reúne com o chefe da Casa Branca na sexta-feira, 10, às 17h30, no horário de Brasília, pela primeira vez desde a sua posse, em janeiro.
A rápida visita aos EUA, a agenda divulgada pelo Planalto prevê encontros com o senador Bernie Sanders, deputados do partido Democrata e ainda com representantes da Federação Americana de Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO, na sigla em inglês). O último compromisso da sexta-feira será o encontro com Biden.
Na pauta, a união dos dois chefes de Estado para defender a democracia e combater o extremismo catapultado por seus rivais, os ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, após os episódios antidemocráticos ocorridos nos EUA e no Brasil, e a retomada das relações bilaterais entre os países. Temas como agenda ambiental, além de questões econômicas, com as cadeias de suprimentos no foco após os estragos deixados pela pandemia, também integram a pauta.
O presidente brasileiro será acompanhado dos ministros Mauro Vieira, de Relações Exteriores; Fernando Haddad, da Fazenda; Marina Silva, do Meio Ambiente; Anielle Franco, de Igualdade Racial; do assessor especial, embaixador Celso Amorim, e do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento e Comércio, Marcio Elias Rosa. Lula deve deixar Washington DC no sábado, dia 11, às 12h30, no horário de Brasília, retornando ao Brasil.
A conversa preliminar de Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, com o presidente, em dezembro passado, despertou nos americanos a sensação de que a reunião entre o brasileiro e o presidente Joe Biden terá um tom construtivo.
“Pelo que tive notícia, quando Jake Sullivan esteve no Brasil houve uma reunião extraordinária, na qual os dois passaram por uma série de temas internacionais, domésticos”, afirma Ian Bremmer, fundador da consultoria de risco político Eurasia Group, que avalia que é de interesse da Casa Branca construir uma relação sólida com o Brasil, durante o governo Lula.
“Biden certamente quer um relacionamento forte com o Brasil, especialmente depois da Cúpula das Américas do ano passado”, disse Bremmer, que classificou o evento como um dos piores fóruns multilaterais. Realizada em Los Angeles (EUA), em junho de 2022, a Cúpula das Américas foi um evento esvaziado, que deixou claro o declínio da influência americana no hemisfério.
A decisão dos americanos de excluir Venezuela, Cuba e Nicarágua do fórum gerou boicote de outros países da região, como o México, importante parceiro dos americanos. Os presidentes de El Salvador, Guatemala e Honduras também não compareceram. O cenário levou Biden a fazer uma inflexão na sua política de não se encontrar com o ex-presidente Jair Bolsonaro e convidar o brasileiro para um encontro bilateral, o que garantiu a presença do Brasil na Cúpula, que vinha sendo descrita por analistas como um fracasso.
A intenção de criar um forte laço com o Brasil, na avaliação de Bremmer, fará Biden colocar a discussão sobre democracia no centro do debate, mas também dar espaço para outros assuntos, como meio ambiente e comércio. “Lula é uma voz forte sobre meio ambiente, em oposição a Bolsonaro, e Biden também deve abrir questões como comércio, investimentos, há oportunidade para discutirem mais sobre essas áreas”, afirma o fundador da Eurasia.
A ideia de Lula de discutir um “clube da paz” para intermediar negociações para o fim da guerra da Ucrânia, na visão de Bremmer não deve receber o respaldo de Biden. “Não há negociações sobre a Ucrânia. No momento, os dois países estão apenas escalando a guerra. As coisas não estão se movendo na direção em que Lula estaria confortável para discutir, não acredito que essa será uma prioridade para o encontro dos dois”, afirma Bremmer. O brasileiro propõe que países que não estejam envolvidos, ainda que indiretamente, na guerra entre russos e ucranianos, negociem uma solução para o fim do conflito.