Economia
Crédito impossível

Lula diz que taxa de juros no Brasil é irracional

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros da economia em 13,75%.

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22 de junho de 2023
Vinicius Palermo
Lula diz que taxa de juros no Brasil é irracional
presidente Lula se encontra o Presidente da República da África do Sul, Senhor Cyril Ramaphosa. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros da economia em 13,75%, sem indicar uma queda futura. O presidente afirmou que o nível da Selic é “irracional” e que a direção do Banco Central (BC) joga contra os interesses do País.

“É irracional o que está acontecendo no Brasil, uma taxa de 13,75% e inflação de 5%”, afirmou, sem citar Roberto Campos Neto, presidente do BC.

Lula concedeu entrevista coletiva antes de decolar da Itália para a França. O chefe do Executivo argumentou que a Selic acaba por aumentar o juro real, quando há queda da inflação, e que ninguém no Basil está tomando crédito porque a sociedade não consegue pagar.

O presidente afirmou ainda que o questionamento ao BC, vocalizado por ele desde o início do mandato, não é apenas do governo federal, mas da sociedade como um todo, inclusive dos industriais.

“O problema com o BC não é do governo, é da sociedade”, afirmou Lula. “Não é o governo que está brigando com o BC, quem está brigando com o Branco Central é a sociedade brasileira, a Confederação Nacional da Indústria está brigando, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a maior do Brasil, está brigando com taxa de juros, os maiores varejistas estão brigando com taxa de juros.”

Segundo Lula, os senadores que autorizaram a indicação de Campos Neto ao BC durante o governo passado agora devem tomar providências.

“Foram os senadores que colocaram o cidadão lá, tem que verificar se ele está cumprindo com o que tem de cumprir. Ele tem que ser cobrado”, disse. “Acho que esse cidadão joga contra a economia brasileira. Ele não tem explicação, não existe explicação aceitável por que a taxa de juros está em 13,75%, Não temos inflação de demanda.

O presidente disse que passou a cobrar os senadores para pressionar a diretoria do Banco Central. Integrantes do governo falaram em “declaração de guerra” e “boicote” por parte do presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicado no governo Jair Bolsonaro. Lula evitou os termos. Ele tem mandato de quatro anos no cargo e já disse que não pretende encurtar sua gestão, prevista para terminar no ano que vem.

Na primeira reunião bilateral após chegar a Paris, na França, Lula se reuniu com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. No encontro, os dois líderes falaram sobre a cúpula do Brics – bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, que ocorre entre os dias 22 e 24 de agosto em Johanesburgo, na África do Sul. De acordo com a Presidência, Lula e Ramaphosa também discutiram opções para solução pacífica do conflito entre Rússia e Ucrânia. 

O presidente sul-africano contou sobre sua participação na comitiva de altos representantes de países africanos (junto com Comores, Congo, Egito, Senegal, Uganda e Zâmbia) que esteve em Kiev para uma audiência com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e em Moscou para conversar com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. 

No encontro em Moscou, o presidente sul-africano defendeu o fim da guerra, especialmente pelas consequências do conflito nos países de seu continente. Segundo ele, as dificuldades para importar grãos da Ucrânia e fertilizantes da Rússia estão comprometendo a segurança alimentar em diversos locais da África e do mundo. 

As falas, entretanto, não foram bem recebidas por Putin, que apresentou uma lista de motivos pelos quais acredita que as propostas dos líderes africanos são equivocadas. Segundo o presidente russo, a Ucrânia e os países do Ocidente são os responsáveis pelo aumento agudo dos preços globais dos alimentos. 

Na quinta-feira, Lula também se reuniu com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, e com a ex-presidente do Brasil e presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff. Com o cubano, Lula tratou sobre as potencialidades para aumentar a cooperação em áreas de interesse dos dois países e sobre assuntos relativos à conjuntura mundial. 

O presidente também tem audiências marcadas com o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, e com o presidente da COP-28 nos Emirados Árabes, Sultan al Jaber. 

À noite, Lula ainda fará o discurso de encerramento do evento Power Our Planet, a convite da banda Coldplay. O evento será realizado no Campo de Marte, em frente à Torre Eiffel, e também terá as presenças de líderes do Timor Leste, Barbados, Gana e Quênia, além da prefeita de Paris, Ane Hidalgo. 

O último compromisso do dia é um jantar oferecido pelo presidente da França, Emmanuel Macron. O presidente Lula está em Paris para participar da Cúpula para o Novo Pacto Global de Financiamento, promovida pelo francês. Na sexta-feira (23), Lula também terá um encontro bilateral com Macron. 

A cúpula deve contar com a participação de mais de 300 entidades públicas, privadas ou não governamentais, incluindo mais de 100 chefes de Estado. Nela, Lula vai defender que o combate às mudanças climáticas precisa ser acompanhado de ações contra a pobreza