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Desescalada

Lula diz que é preciso evitar que conflito entre Israel e Hamas se alastre 

Ao participar da Cúpula Virtual Extraordinária do Brics, Lula afirmou que é preciso acompanhar com atenção a situação na Cisjordânia ocupada.

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21 de novembro de 2023
Vinicius Palermo
Lula diz que é preciso evitar que conflito entre Israel e Hamas se alastre 
Presidente Lula, acompanhado do Ministro Fernando Haddad, é entrevistado pelo jornalista Marcos Uchoa para o programa Conversa com o Presidente, no Palácio do Alvorada. Imagem: Canal Gov

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na terça-feira (21) que é preciso evitar que o conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas se alastre para os países vizinhos. Ao participar da Cúpula Virtual Extraordinária do Brics, ele afirmou que é preciso acompanhar com atenção a situação na Cisjordânia ocupada. 

“Devemos atuar para evitar que a guerra se alastre para os países vizinhos. É valiosa e imprescindível a contribuição do Brics, em sua nova configuração, junto a todos os atores em favor da autocontenção e da desescalada”, disse. 

“Temos longa experiência nacional que reforça nossa fé na paz criada por justa negociação diplomática. Em segundo lugar, não podemos esquecer que a guerra atual também decorre de décadas de frustração e injustiça, representada pela ausência de um lar seguro para o povo palestino”, acrescentou. 

Para o presidente, os assentamentos ilegais israelenses na Cisjordânia continuam a ameaçar a viabilidade de um Estado palestino. “O reconhecimento de um Estado palestino viável, vivendo lado a lado com Israel, com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas, é a única solução possível. Precisamos retomar com a maior brevidade possível o processo de paz entre Israel e a Palestina”. 

Em agosto deste ano, na Cúpula do Brics, o bloco aprovou a entrada de seis novos países-membros: Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes, alguns deles diretamente envolvidos no conflito no Oriente Médio. A nova configuração passa a valer a partir de janeiro de 2024. 

Para Lula, neste momento o desafio é fazer com que a trégua humanitária determinada por uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) seja implementado imediatamente. No último dia 15, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a primeira resolução relativa à atual crise humanitária na Faixa de Gaza. O texto foi apoiado pelo Brasil. 

“Em várias ocasiões, reiteramos o chamado pela liberação imediata e incondicional de todos os reféns. No entanto, tais atos bárbaros não justificam o uso de força indiscriminada e desproporcional contra civis. Estamos diante de uma catástrofe humanitária. Os inocentes pagam o preço pela insanidade da guerra, sobretudo mulheres, crianças e idosos”, disse Lula, manifestando grande consternação diante do elevado número de mortos. 

Após pouco mais de um mês de conflito, mais de 12 mil pessoas morreram, sendo 5 mil crianças. Há ainda 29 mil feridos e 3.750 desaparecidos. “Como bem disse o secretário-geral da ONU, Gaza está se tornando um cemitério de crianças”, acrescentou o presidente. 

A resolução, com foco na proteção de crianças, foi proposta por Malta e aprovada com 12 votos a favor. Estados Unidos, Reino Unido e Rússia optaram pela abstenção. O texto pede a implementação de pausas e corredores humanitários urgentes e prolongados em toda a Faixa de Gaza por um número suficiente de dias, para que ajuda humanitária de emergência possa ser prestada à população civil por agências especializadas da ONU, pela Cruz Vermelha Internacional e por outras instituições humanitárias imparciais. 

No dia 7 de outubro, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou um ataque surpresa de mísseis contra Israel, com incursão de combatentes armados por terra, matando civis e militares e fazendo centenas de reféns israelenses e estrangeiros. Em resposta, Israel bombardeou várias infraestruturas do Hamas, em Gaza, e impôs cerco total ao território, com o corte do abastecimento de água, combustível e energia elétrica. 

A guerra entre Israel e Hamas tem origem na disputa por territórios que já foram ocupados por diversos povos, como hebreus e filisteus, dos quais descendem israelenses e palestinos. 

O presidente da República afirmou ainda que repassou “pontos nervosos” do acordo entre Mercosul e União Europeia à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em conversa na segunda-feira, 20. De acordo com o brasileiro, está sendo articulada uma reunião com von der Leyen durante a COP-28 para ser apresentada uma resposta definitiva do bloco europeu.

“Ontem (segunda), liguei para a Ursula von der Leyen, que é presidente da Comissão Europeia, para dizer a ela que estou querendo negociar o acordo UE-Mercosul ainda na minha presidência e gostaria que a gente conseguisse fazer o acordo”, declarou o presidente do Brasil na transmissão semanal ao vivo nas redes sociais Conversa com o Presidente, que nesta terça-feira contou com a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Lula afirmou que passou à presidente da Comissão Europeia “todos os pontos nervosos” do acordo e que ela “ficou de me dar uma resposta”.

Segundo o brasileiro, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está em contato com o chefe de gabinete de von der Leyen para analisar os “pontos mais problemáticos.”

“Ela (von der Leyen) ficou de tentar, quem sabe, lá na COP 28, fazer uma reunião comigo e apresentar a resposta definitiva dele sobre nossa demanda”, comentou Lula.

A conversa entre ambos ocorreu um dia após a vitória do novo presidente da Argentina, Javier Milei, no domingo, 19.

Apesar da vitória do ultradireitista, o governo brasileiro vê que a relação entre Brasil e Argentina é forte o suficiente para resistir a uma gestão declaradamente contra à de Lula.

A preocupação está concentrada, neste momento, com a integração regional, que pode ser enfraquecida. Um dos pontos de atenção é o acordo entre Mercosul e União Europeia, defendido por Lula. A vitória de Milei pode frear as negociações.