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Lula diz que dólar sobe porque há especulação com derivativos

O presidente ironizou que manchetes tenham atribuído a valorização da moeda norte-americana sobre o real a declarações ao site.

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29 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Lula diz que dólar sobe porque há especulação com derivativos
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu a abertura de uma investigação pelo Banco Central sobre a especulação com derivativos para valorizar o dólar. Em entrevista à Rádio FM O Tempo, na sexta-feira, 28, Lula afirmou que “o dólar está subindo porque tem especulação com derivativos” para enfraquecer a moeda brasileira. Declarações similares já haviam sido feitas na quinta-feira 27.

Essas reações se referem à alta do dólar na quarta-feira, 26, dia em que Lula deu uma entrevista ao portal UOL. O presidente ironizou que manchetes tenham atribuído a valorização da moeda norte-americana sobre o real a declarações ao site.

“Nós descobrimos que o dólar tinha subido 15 minutos antes da entrevista”, repetiu Lula. “E ontem (quinta) eu fiz a denúncia: por que o dólar está subindo? Porque tem especulação.”

Lula acrescentou: “Tem especulação com derivativos na perspectiva de valorizar o dólar e desvalorizar o real. E o Banco Central tem a obrigação de investigar isso.”

Na ocasião, Lula voltou a criticar a manutenção da taxa de juros em 10,5%, determinada recentemente pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O presidente da República disse que o porcentual “é irreal para uma inflação de 4%” e que “não tem necessidade”.

O chefe do Executivo também voltou a associar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao dizer que o economista “pensa ideologicamente igual” ao governo anterior.  Lula disse que Campos Neto “não está fazendo o que deveria fazer corretamente” e que pretende escolher um substituto “responsável” para iniciar o mandato no ano que vem.

Lula também relembrou que Henrique Meirelles presidiu o Banco Central por oito anos em seus dois mandatos nos anos 2000 e afirmou que, desde então, não tem “preocupação” de “ficar brigando com a taxa de juros”.

“O presidente da República não pode ficar brigando com o presidente do Banco Central”, disse Lula. “O presidente da República não vai ficar dando palpite para baixar ou aumentar os juros. O chefe do Executivo tem que confiar no presidente do Banco Central.”

Lula acrescentou: “Isso vai melhorar quando eu puder indicar o presidente do Banco Central, e vamos construir uma nova filosofia.”

O presidente defendeu ainda o controle sobre os preços dos alimentos para barateá-los e citou o arroz como exemplo. Na ocasião, Lula disse que decidiu importar 1 milhão de toneladas de arroz por ter visto um saco de cinco quilos do alimento a R$ 36, enquanto deveria, para ele, estar a R$ 23.

“Um saco de arroz de cinco quilos tem que estar de acordo com o poder aquisitivo do povo mais humilde”, afirmou. Lula disse, ainda, que houve barateamento nos preços do feijão e da carne, mas que ainda é preciso baixar os valores de outros produtos. “Mas ainda é preciso baratear tudo, para que o povo possa ter acesso”, disse. “Então, nós precisamos controlar melhor.”

O presidente destacou que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) passou a contar com estoque de alimentos para que parte seja utilizada quando o preço de determinado produto estiver em alta.

Além disso, segundo ele, o governo pode dar garantia de preço mínimo para a produção quando quiser que determinado item seja produzido.

Na ocasião, Lula também relembrou que a cesta básica de alimentos é um dos debates da regulamentação da reforma tributária. No projeto, os parlamentares discutem quais alimentos terão imposto zerado.

“Eu acho que tudo aquilo que for da cesta básica, tudo aquilo que for elementar para o povo trabalhador comer, não tem que se cobrar imposto”, afirmou.

O presidente afirmou que está “predisposto” para negociar com a mineradora Vale o que chamou de “dívida com o povo” e acusou a empresa de não querer pagá-la.

“Estou predisposto a negociar a dívida da Vale, não com Minas Gerais, a dívida da Vale com o povo da região que foi solapada pelas barragens de Mariana e Brumadinho”, disse Lula.

O presidente continuou: “Aquele povo tem que receber as suas casas. Aquele povo tem que receber indenização. O rio tem que ser recuperado.” Na sequência, Lula disse que a Vale está com dinheiro aplicado, mas não realiza pagamentos de indenização aos atingidos.

“E a Vale está lá, com o dinheiro aplicado, sem querer pagar. Nós vamos fazer acordo para que a Vale pague essa dívida e a gente zere os nossos problemas em Minas Gerais”, declarou.

A tragédia de Mariana ocorreu em 5 de novembro de 2015, e a de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019. Os desastres estão entre as maiores tragédias ambientais do Brasil.

O presidente afirmou ainda que pretende discutir uma solução para a dívida de Minas Gerais com a União na semana que vem, caso o Tesouro apresente ao governo uma proposta sobre o tema.

Lula lembrou que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), teve uma reunião com o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, na última quarta-feira, 26, para debater a renegociação das dívidas dos Estados.

Segundo Lula, a ideia é que, em seguida, a proposta do Tesouro seja exposta aos governadores. O presidente afirmou que os Estados que mais devem à União são Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

“O Pacheco teve uma reunião com o pessoal do Tesouro essa semana Se, na semana que vem, o Tesouro tiver a proposta pronta e elaborada, eu vou discutir”, declarou.

Lula acrescentou: “Quando eu discutir a proposta, se eu falar, bom, vamos fechar? Vamos. Aí vou chamar os governadores para fechar a proposta.”

A dívida mineira com a União chega aos R$ 170 bilhões. Na entrevista, Lula afirmou que o atual governador, Romeu Zema (Novo), foi beneficiado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que livrou o Estado de pagar parcelas da dívida. No entanto, o petista reivindicou a quitação das pendências.

“O Estado tem que dar à União determinadas coisas em pagamento, porque não pode, simplesmente, o cara ficar sem pagar R$ 170 bilhões e ganhar como prêmio o não pagamento. Não é possível”, disse.