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Lula afirma que quem apostar no fortalecimento do dólar vai ‘quebrar a cara’

A declaração ocorreu durante o “Conselhão”, evento do governo com representantes de diversos setores da sociedade civil, em Brasília, nesta quinta-feira, 27.

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28 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Lula afirma que quem apostar no fortalecimento do dólar vai ‘quebrar a cara’
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da 3ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), no Palácio do Itamaraty. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que aqueles que apostarem no fortalecimento do dólar ante o real “vai perder dinheiro” e disse que a moeda norte-americana subiu pouco antes da entrevista cedida ao portal UOL, na manhã da quarta-feira, 26.

A declaração ocorreu durante o “Conselhão”, evento do governo com representantes de diversos setores da sociedade civil, em Brasília, nesta quinta-feira, 27. Em discurso, Lula disse que “é preciso distensionar a ganância por acúmulo de riqueza de alguns e repartir um pouco” e criticou notícias sobre a alta do dólar na quarta-feira.

Na ocasião, Lula chamou de “cretinos” aqueles que teriam atribuído a alta do dólar à entrevista ao site.
“Quando eu terminei a entrevista, a manchete de alguns comentaristas era de que o dólar subiu pela entrevista do Lula. E os cretinos não perceberam que o dólar tinha subido 15 minutos antes de eu dar entrevista”, afirmou o presidente.

Lula prosseguiu: “Ou seja, então esse mundo perverso das pessoas colocarem para fora aquilo que querem sem medir a responsabilidade do que vai acontecer é muito ruim.”

O presidente também afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, “sofre injustiça”, porque, segundo ele, “as pessoas que vêm, só vêm para pedir, não vêm para oferecer”.

Em certo momento, Lula se dirigiu a Haddad e declarou que apostadores de derivativos perderão dinheiro. “Pode ter certeza, Haddad, quem estiver apostando em derivativo vai perder dinheiro neste País”, disse. “As pessoas não podem ficar apostando no fortalecimento do dólar e no enfraquecimento do real. Eu já vi isso em 2008”, continuou.

O presidente prosseguiu: “As pessoas achavam que era importante ganhar dinheiro apostando no fortalecimento do dólar e quebraram a cara. E vão quebrar outra vez. Vão quebrar porque não voltei para ser presidente para dar errado. Eu só voltei porque tenho consciência de que vai dar certo esse País.”

Durante o evento, Haddad defendeu a política econômica do governo e projetou uma inflação média abaixo dos 4% até o fim do mandato. “É absolutamente possível”, declarou o ministro.

Ele também disse considerar um crescimento médio “beirando os 3%”. Entre as medidas necessárias, segundo ele, estão a aceleração de reformas econômicas no Congresso e a “busca pelo equilíbrio fiscal”.

Para o presidente, o otimismo é amparado não apenas pelos indicadores macroeconômicos, mas que confia no avanço da microeconomia, que para ele “ainda está muito aquém do que acho que tem que funcionar”.

“Muitas vezes, a macroeconomia não representa tudo o que está acontecendo no País”, disse Lula, ao se referir aos indicadores como inflação e taxa de juros. Contudo, afirmou que o governo deseja que inflação seja baixa.

Ao defender políticas de incentivo à indústria nacional, observando as demandas específicas do setor automobilístico, disse que é preciso que se pense numa tributação de aço que seja “justa para quem está no Brasil e para quem importa”. “Se a construção civil, automobilística e naval não crescerem, vai faltar aço”, afirmou.

O presidente comentou sobre a desoneração da folha de pagamento aos 17 setores da economia, vetada pelo governo, mas mantida pelo Congresso. Lula disse que nunca foi contra desoneração, mas que defende equilíbrio e diálogo. “O que não pode é cada setor achar que tem que ganhar”, comentou.

O presidente defendeu a ampliação dos investimentos públicos, desde que os gastos permitam o aumento de patrimônio. “Vamos parar de olhar a dívida pública brasileira com o medo que se olha. Dívida do Brasil não é dívida, é troco, de tão pequena que é se comparada a de outros países”, disse.

“O que falta para nós é um pouco de senso de responsabilidade e de amor por esse país. Como vamos fazer empresários investir se o mercado não reage? O mercado geral, que envolve 203 milhões de habitantes”, afirmou ao citar a necessidade de garantir poder de compra e disponibilidade de crédito.

Segundo o presidente, o desafio para o crédito tem sido percebido nos últimos 15 meses com dados que apontam maior volume de empréstimos por parte dos bancos públicos na comparação com os privados. “Possivelmente porque alguns bancos estão comprando títulos do governo, porque interessa comprar com a taxa de juros em 10,5%”, disse.

O presidente defendeu investimentos em educação e disse que é preciso “mudar o conceito e saber que investir em educação é o mais extraordinário investimento”. “Ao invés de saber o quanto custa isso, vamos ver o quanto custou não investir na hora certa”, defendeu.