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Lagarde admite que esforços do BCE contribuíram para a queda da inflação

No mês passado, o BCE elevou suas principais taxas de juros pela 10ª vez consecutiva, mas também sinalizou que pode ter encerrado seu longo ciclo de aperto monetário,

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09 de outubro de 2023
Vinicius Palermo
Lagarde admite que esforços do BCE contribuíram para a queda da inflação
A presidente do BCE, Christine Lagarde

A inflação da zona do euro está caindo graças em parte aos esforços da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), afirmou a presidente do BCE, Christine Lagarde, em entrevista ao jornal francês La Tribune. “A inflação persiste, mas está cedendo e até diminuindo de forma constante. É uma boa notícia”, disse ela, na entrevista, que foi reproduzida no site do BCE.

No mês passado, o BCE elevou suas principais taxas de juros pela 10ª vez consecutiva, mas também sinalizou que pode ter encerrado seu longo ciclo de aperto monetário, à medida que a taxa anual de inflação desacelerou para 4,3% em setembro.

“Acho que nossos esforços tiveram um papel nisso, assim como algumas das políticas econômicas implementadas na Europa”, disse Lagarde.

Ela também observou que o crescimento da zona do euro está se enfraquecendo, principalmente em relação ao dos Estados Unidos.

O membro do BCE e presidente do BC de Portugal, Mário Centeno, reforçou o coro para que a política monetária na zona do euro siga focada em combater a inflação e manter a estabilidade de preços. Apesar da melhora do custo de vida identificada no início deste ano, os índices ainda estão acima das metas, afirmou.

“A normalização nas restrições da oferta e a evolução favorável nos preços de matérias primas explicam a moderação de preços nos primeiros meses de 2023, contudo, a inflação está ainda acima dos referenciais objetivos dos bancos centrais no fim de 2023”, disse Centeno, na abertura do XXXIII Encontro de Lisboa entre os bancos centrais dos países de língua portuguesa. “As políticas monetárias na zona do euro deverão continuar a perseguir a estabilidade de preços”, acrescentou ele.

Segundo Centeno, a prudência é essencial na atuação dos bancos centrais para que evitem reagir de forma excessiva e sem dar tempo de que a política monetária atue no combate à inflação. Os riscos ao sistema financeiro têm de ser, contudo, mensurados. Esse é, na sua visão, um “equilíbrio difícil, mas crucial”.

Centeno disse que os bancos centrais têm de atuar com base em dados e na compreensão dos impactos dos mecanismos adotados para combater a inflação.

Isso não é, porém, motivo para deixar de lado o foco fiscal e relativizar o problema da dívida, disse. Ele afirmou que as políticas orçamentárias têm também de ser pautadas pela prudência, voltadas à redução da dívida e no apoio às populações vulneráveis.

“A redução da dívida é a melhor herança e um dos maiores desafios globais”, concluiu Centeno. O membro do BCE classificou os conflitos no Oriente Médio como “dramáticos” e que assolam os povos israelense e palestino.

Ele disse que tais acontecimentos reforçam a necessidade de dar espaço à paz. “Estes acontecimentos dramáticos e que assolam os povos israelense e palestino convocam todos, enquanto nos preparamos para os debates a cerca de desafios globais, a necessidade de darmos oportunidade à paz”, afirmou Centeno.

No início de seu discurso, o dirigente também dirigiu palavras de solidariedade ao Marrocos, anfitrião das reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, e que foi atingido por um terremoto que devastou a região há cerca de um mês. Os debates ocorrem em meio à preocupação com desafios sistêmicos e globais nos últimos anos, como a pandemia e a guerra na Ucrânia, e são essenciais para encontrar respostas, conforme ele.

Segundo o dirigente do BCE, momentos de crise incitam instituições a inovar, o que também tem acontecido no mercado financeiro em meio aos avanços tecnológicos. Apesar de os bancos centrais serem vistos como órgãos conservadores, também precisam inovar, defendeu.
“Para cumprirem sua missão, os bancos centrais também dependem da capacidade de inovação tecnológica, o que permite a atuação eficaz nos seus mandatos”, avaliou Centeno.