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Kashkari: a economia norte-americana continua a mostrar sinais divergentes

Segundo o dirigente, o corte na taxa de juros de 50 pontos-base na semana passada pelo Fed foi a decisão correta a ser tomada

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23 de setembro de 2024
Vinicius Palermo
Kashkari: a economia norte-americana continua a mostrar sinais divergentes
Kashkari disse que, apesar de ter apoiado o corte de juros de 50 pontos-base (pb) em setembro, o ritmo de flexibilização monetária deve diminuir nas próximas reuniões do BC dos Estados Unidos.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Minneapolis, Neel Kashkari, disse na segunda-feira, 23 que a trajetória das taxas de juros dos Estados Unidos dependerá da totalidade de dados que o BC do país irá receber. Segundo o dirigente, o corte na taxa de juros de 50 pontos-base na semana passada pelo Fed foi a decisão correta a ser tomada, mas a política monetária continua restritiva.

“Ainda é muito cedo para declarar vitória em nossa luta contra a inflação, mas fizemos progressos substanciais, e o processo de desinflação parece estar no caminho certo”, escreveu o dirigente
De acordo com Kashkari, uma recessão não pode ser descartada, mas seus contatos não veem nenhuma próxima.

Ele afirmou também que a economia norte-americana continua a mostrar sinais divergentes de força, mas ressaltou: “O PIB (Produtos Interno Bruto) e os gastos do consumidor continuam a mostrar resiliência surpreendente.”

Kashkari disse que, apesar de ter apoiado o corte de juros de 50 pontos-base (pb) em setembro, o ritmo de flexibilização monetária deve diminuir nas próximas reuniões do BC dos Estados Unidos. O dirigente afirmou que vê mais 50 pb de redução acumulada dos juros em 2024, com dois cortes de 25 pb cada em novembro e em dezembro.

“Estamos cautelosos sobre declarar vitória contra a inflação, mas a balança de riscos claramente mudou. Queremos manter o mercado de trabalho forte”, afirmou Kashkari. “Estive no lado mais hawkish do comitê nos últimos anos e ainda vejo a política monetária restritiva, mesmo com o corte de 50 pontos-base”, pontuou.

O dirigente afirmou que o Fomc espera alcançar o pouso suave cumprindo ambos os mandatos e que cortes maiores do que os previstos atualmente só devem acontecer se os dados exigirem. De acordo com ele, o Fed gostaria de eventualmente retornar os juros para o nível neutro, mas os dirigentes ainda não sabem “exatamente” qual seria este nível.

De todo modo, a visão sobre a necessidade de reduzir o nível de restrição dos juros foi “unânime”, segundo Kashkari. “Apesar das divergências sobre o tamanho da redução, ninguém no FOMC considerou a manutenção dos juros, nem mesmo Bowman”, afirmou, em referência a diretora do BC norte-americano, Michelle Bowman, a única a votar por um corte menor, de 25 pontos-base.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Atlanta, Raphael Bostic, enfatizou que o corte de 50 pontos-base (pb) na taxa de juros na semana passada não garante o ritmo de futuras reduções. O dirigente defendeu ainda que a política monetária continua restritiva, apesar da flexibilização. “Minha abordagem para formulação de políticas será orientada pelos dados recebidos”, disse.

Bostic afirmou que o Fed tem dois riscos amplamente equilibrados: o risco de se mover muito rápido para reduzir o nível de restrição e o de deixar a política restritiva por muito tempo.

O presidente do Federal Reserve de Atlanta disse ainda que a economia está “efetivamente” perto das condições que seriam consideradas normais. O dirigente afirmou que o progresso na inflação aconteceu mais rápido do que era esperado e que o aumento de preços está quase em linha com a meta de 2%.

“Os dados mais recentes solidificam a minha convicção de que a economia dos Estados Unidos está de fato voltando de forma sustentável para a estabilidade de preços”, disse Bostic.

“Está na hora de o Federal Reserve fazer as taxas voltarem ao território neutro”, disse Bostic, acrescentando que sua estimativa está na faixa de 3% a 3,25%. Segundo ele, a inflação está se aproximando da meta do BC norte-americano e o mercado de trabalho em melhor equilíbrio.

Por outro lado, se o mercado de trabalho se deteriorar, o Fed terá motivos para adotar um ritmo mais rápido de cortes até chegar ao juro neutro, mas esse não é o seu cenário base, ponderou Bostic. “Espero alguma instabilidade na inflação daqui para frente, vamos esperar para ver o que é necessário fazer nas taxas”, disse, durante evento no Centro Europeu de Economia e Finanças, na Universidade de Londres.

O banqueiro central comentou ainda que, antes de o Fed iniciar o ciclo de afrouxamento com corte de 0,5 ponto porcentual, ele estava preocupado baixar os juros liberaria demanda reprimida, mas agora entende que essa dinâmica pode ser substancialmente menor do que o pensado. “As expectativas de inflação de longo prazo permanecem relativamente estáveis”, diz.