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Israel reabre passagem de Kerem Shalom para entrada de ajuda humanitária em Gaza

Uma brigada de tanques israelense tomou a vizinha passagem de Rafah, entre Gaza e o Egito, na terça-feira cedo

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09 de maio de 2024
Vinicius Palermo
Israel reabre passagem de Kerem Shalom para entrada de ajuda humanitária em Gaza
A população de Gaza sofre com a falta de ajuda humanitária por conta do fechamento da passagem

Os militares israelenses disseram na quarta-feira, 8, que reabriram a passagem de Kerem Shalom para Gaza, um terminal importante para a entrada de ajuda humanitária fechado no fim de semana depois que um ataque com foguetes do Hamas matou quatro soldados israelenses nas proximidades.

Uma brigada de tanques israelense tomou a vizinha passagem de Rafah, entre Gaza e o Egito, na terça-feira cedo, e ela permaneceu fechada, mas essa incursão limitada não parece ser o início da invasão em grande escala da cidade sulista lotada que Israel prometeu repetidamente.

A operação iminente ameaça aumentar a distância entre Israel e seu principal apoiador, os Estados Unidos, que dizem estar preocupados com o destino de cerca de 1,3 milhão de palestinos amontoados em Rafah, a maioria dos quais fugiu dos combates em outros lugares. Israel afirma que Rafah é o último reduto do Hamas e que uma ofensiva mais ampla é necessária para desmantelar as capacidades militares e de governo do grupo.

Os EUA suspenderam um carregamento de bombas para Israel na semana passada devido a preocupações de que Israel estivesse se aproximando de uma decisão sobre o lançamento de um ataque em grande escala a Rafah, disse um alto funcionário do governo Biden na terça-feira.

Enquanto isso, os EUA, o Egito e o Qatar estão intensificando os esforços para fechar as lacunas de um possível acordo para um cessar-fogo pelo menos temporário e a libertação de alguns dos inúmeros reféns israelenses ainda em poder do Hamas. Israel vinculou a ameaça de operação em Rafah ao destino dessas negociações.

A passagem de Rafah tem sido um canal vital para a ajuda humanitária desde o início da guerra e é o único lugar por onde as pessoas podem entrar e sair. Israel agora controla todas as passagens de fronteira de Gaza pela primeira vez desde que retirou as tropas e os colonos do território há quase duas décadas, embora tenha mantido um bloqueio com a cooperação do Egito durante a maior parte desse tempo.

Os jornalistas da Associated Press ouviram explosões esporádicas e tiros na área da passagem de Rafah durante a noite, incluindo duas grandes explosões na quarta-feira. Os militares israelenses relataram seis lançamentos de Rafah em direção à passagem de Kerem Shalom na terça-feira.

Enquanto isso, o Ministério da Saúde de Gaza disse que pelo menos 46 pacientes e feridos que estavam programados para sair na terça-feira para receber tratamento médico ficaram retidos.

As agências da ONU e os grupos de ajuda humanitária aumentaram a assistência humanitária nas últimas semanas, já que Israel suspendeu algumas restrições e abriu mais uma passagem no norte, sob pressão dos Estados Unidos, seu aliado mais próximo. Mas os trabalhadores humanitários dizem que o fechamento de Rafah, que é a única porta de entrada de combustível para caminhões e geradores, pode ter graves repercussões. A ONU diz que o norte de Gaza já está em um estado de “fome total”.

A Faixa de Gaza não está recebendo qualquer ajuda humanitária desde o início de operações militares israelenses na passagem de fronteira de Rafah, ao sul da Faixa de Gaza. 

O diretor de assuntos da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, afirmou em sua rede social na quarta-feira que houve bombardeios na área durante todo o dia. Segundo Scott Anderson, nenhum combustível ou suprimento entrou no enclave, o que é “desastroso para a resposta humanitária”.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, com a escalada em Rafah, centenas de famílias com crianças começaram a fugir de suas casas e abrigos para lugares que poderiam ser mais seguros.

A equipe do Unicef continua a atender às necessidades críticas das crianças na Faixa de Gaza, mas o acesso está se tornando cada vez mais difícil e perigoso.

Também em seu perfil nas redes sociais, o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths, ressaltou que as equipes das Nações Unidas permanecem em Rafah, onde mais de 1 milhão de pessoas buscam abrigo, sendo 600 mil, crianças.

Para ele, as decisões tomadas e suas consequências no “sofrimento humano” serão lembradas por gerações.

Segundo o Ocha, milhares de famílias palestinas iniciaram novas viagens de deslocamento de Rafah para as áreas centrais da Faixa de Gaza após as operações militares de Israel nas áreas orientais da cidade.

Ruas da área oeste do enclave ficaram lotadas com milhares de carros e caminhões transportando pessoas deslocadas e suas tendas para serem instaladas no centro da Faixa de Gaza, em meio a um estado de tensão e ansiedade vivido pelos residentes.

A Unrwa reforça que “nenhum lugar é seguro em Gaza”. As instalações da agência foram atacadas 368 vezes desde o início da guerra e pelo menos 429 pessoas deslocadas que estavam abrigam nas estruturas da agência foram mortas.

O comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazarini, publicou em sua rede social um vídeo em que mostra que a sede da agência em Jerusalém Oriental foi vítima de um protesto convocado por um membro eleito do município. 

Para ele, os atos são de “assédio, intimidação, vandalismo e danos à propriedade da ONU” e ocorreram sob a vigilância da polícia israelense. Lazarini lembra que é esperado que os países anfitriões, neste caso Israel, “protejam as instalações, as operações e a equipe das Nações Unidas em todos os momentos”.

O chefe do Escritório de Direitos Humanos na Palestina, Ajith Sunghay, sobre o aumento da violência na Cisjordânia ocupada. Ele afirmou que a Forças de Defesa Israelense “está agindo como se houvesse um conflito armado” na área. 

Ele explicou que a forma como as forças israelenses estão conduzindo operações na região “são geralmente usadas em um conflito armado, não na aplicação da lei”. 

Outro ponto de preocupação citado por ele são as restrições de movimento, prisões e detenções. Segundo Ajith Sunghay, as pessoas não podem se deslocar entre as cidades e comunidades dentro da Cisjordânia. 

O representante da ONU afirma que isso teve um grande impacto na economia, nas estruturas familiares e na comunidade palestina em geral.