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Israel nega 40% das operações de ajuda alimentar

Entre os maiores desafios da Agência de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, estão as restrições de acesso devido à falta de autorização de passagem

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11 de abril de 2024
Vinicius Palermo
Israel nega 40% das operações de ajuda alimentar
Uma campanha de vacinação contra a poliomielite na Faixa de Gaza focada em crianças deve começar no próximo domingo

As Nações Unidas informaram que 40% de todas as operações de ajuda alimentar na Faixa de Gaza foram negadas por Israel em fevereiro e março. O Escritório da ONU para Assistência Humanitária, Ocha, alerta que a crise atual não tem precedentes.

Entre os maiores desafios da Agência de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, estão as restrições de acesso devido à falta de autorização de passagem de comboios para o norte desde janeiro passado.

Estima-se que 33.360 palestinos foram mortos e 75.993 ficaram feridos em ataques israelenses em Gaza que ocorrem desde 7 de outubro. Com base em dados do Ministério da Saúde de Gaza, a Unrwa revela que a maioria são mulheres e crianças e “outros milhares de corpos podem estar sob os escombros”.

Esta semana, o Ocha coordenou com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras entidades a realização de enterros dignos para corpos não identificados no Hospital Al Shifa na sequência do cerco de forças israelenses na semana passada.

Para os sepultamentos, feitos no local e nas proximidades, também houve apoio dos Serviços de Ação contra as Minas da ONU e o Departamento de Segurança e Proteção em coordenação com autoridades de saúde de Gaza.

Nas redes sociais, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, reportou que havia corpos parcialmente enterrados ou envoltos em plásticos. Com enterros dignos, estes poderiam “ser identificados posteriormente com exames forenses, dando algum consolo aos seus entes queridos”.

A Unrwa calcula haver atualmente 300 mil habitantes nas províncias do norte e na Cidade de Gaza. A capacidade de fornecer apoio humanitário e de obter dados atualizados sobre os sobreviventes nestas áreas foi severamente limitada. 

Por causa de confrontos ainda em curso, as ordens de evacuação emitidas pelas Forças de Defesa de Israel e a necessidade constante de busca de locais mais seguros ocorreram repetidos deslocamentos.

Em nível de atendimento, estão atualmente operacionais somente 10 dos 36 hospitais primários que antes atendiam às necessidades de mais de 2 milhões de habitantes em Gaza.

Mesmo em meio a restrições significativas, apenas oito dos 24 centros de saúde da Unrwa continuam em funcionamento. Dois deles foram recentemente criados por causa do aumento das populações deslocadas.

Ao mesmo tempo em que a agência reitera os pedidos por uma “mudança significativa no volume de entregas”, a Unrwa revela ter alcançado mais de 1,8 milhões de pessoas, ou 85% da população de Gaza. 

Quase 600 milhões de beneficiários tiveram cestas básicas de emergência e aproximadamente US$ 3,6 milhões de consultas foram efetuadas a pacientes em centros e postos de saúde. 

Apesar de ter perdido um total de 178 funcionários desde o início do conflito em 7 de outubro, a Unrwa diz que seguirá “fazendo o armazenamento e a distribuição de produtos alimentares de outras agências”. 

O porta-voz do Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, afirmou que os comboios de alimentos que deveriam ir para o norte de Gaza têm “três vezes mais probabilidade de serem negados do que qualquer outro comboio humanitário com outros tipos de material”.

Jens Laerke afirmou que até a noite de segunda-feira, os compromissos feitos por Israel para facilitar e aumentar o fluxo de ajuda, incluindo a abertura de novos pontos de passagem na fronteira, “ainda estavam pendentes”. 

Ele explicou que os caminhões que passam pela triagem das autoridades israelenses normalmente estão apenas “meio cheios”. Esse é um requisito implementado para fins de checagem. 

Após cruzar a fronteira, os caminhões são descarregados e o material é recolhido por outros que ficam em Gaza e fazem a distribuição. 

No entanto, o representante do Ocha citou uma série de entraves, como a restrição imposta pelo lado israelense de que os motoristas e caminhões egípcios nunca podem estar na mesma área ao mesmo tempo que os motoristas e caminhões palestinos.

Por isso, essa transferência entre caminhões ocorre de forma lenta. Primeiro, os itens têm que entrar, ser descarregados e todo mundo tem que sair antes que um novo conjunto de caminhões vindos de dentro de Gaza, com placas palestinas e motoristas palestinos autorizados, possam chegar e recolhê-los.

Segundo Laerke, essa dinâmica resulta em atrasos na travessia e no posterior movimento para os armazéns. Além disso, existem divergências nos dados diários, pois Israel contabiliza os caminhões que passam pela fronteira, já as agências da ONU registram aqueles que chegam nos armazéns. 

Para o especialista os movimentos dentro de Gaza envolvem diversas complicações. Uma delas é chegar ao armazém, que é só a primeira etapa antes que a ajuda seja de fato distribuída para quem precisa. Segundo ele, dentro de Gaza, muitos movimentos não são possíveis nem realmente facilitados. 

O representante do Ocha disse que as entregas de alimentos coordenadas pela ONU “são muito mais propensas de serem impedidas ou negadas o acesso” dentro de Gaza do que qualquer outra missão humanitária. Isso impacta especialmente o norte do enclave onde 70% das pessoas enfrentam condições de fome.

Ele afirmou que as negativas muitas vezes não são acompanhadas de nenhuma explicação ou justificativa. 

Laerke ressaltou que a distribuição dentro de Gaza é um grande desafio devido a questões de segurança e proteção e o “colapso da lei e da ordem”. Mas ele também sublinhou que “a obrigação recai sobre as partes em conflito e, em particular, sobre Israel, enquanto potência ocupante de Gaza”. 

O especialista enfatizou que “facilitar e garantir o acesso humanitário não termina na fronteira”, também envolve os movimentos dentro de Gaza.