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Israel dá ao Hamas uma semana para fechar um acordo

O Egito trabalhou com Israel em uma proposta revisada de cessar-fogo que apresentou ao Hamas no fim de semana passado, segundo autoridades egípcias.

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04 de maio de 2024
Vinicius Palermo
Israel dá ao Hamas uma semana para fechar um acordo
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu

Israel deu ao Hamas uma semana para concordar com um acordo de cessar-fogo ou iniciará uma operação militar em Rafah, disseram autoridades egípcias informadas sobre o assunto na sexta-feira, 3, enquanto o grupo militante espera por melhores condições que garantam sua sobrevivência. O Egito trabalhou com Israel em uma proposta revisada de cessar-fogo que apresentou ao Hamas no fim de semana passado, segundo autoridades egípcias.

Esperava-se que a liderança política do Hamas consultasse o seu braço militar em Gaza e voltasse à proposta. Mas Yahya Sinwar, o líder militar do grupo em Gaza, que se acredita estar escondido nos túneis do enclave e que toma as decisões finais, não respondeu.

Autoridades egípcias disseram que convidaram altos funcionários do Hamas a retornar ao Cairo nos próximos dias para continuar as negociações.

O Hamas disse em comunicado na quinta-feira que sua equipe de negociação irá ao Egito em breve para discutir os termos. Autoridades egípcias dizem que o Hamas está buscando uma trégua de longo prazo e garantias dos EUA de que um cessar-fogo será respeitado por Israel.

Autoridades do Hamas expressaram preocupação com o fato de a última proposta ainda ser muito vaga e dar espaço a Israel para reiniciar os combates.

A última proposta apela a um período inicial de calma até 40 dias, durante os quais o Hamas libertaria até 33 reféns, seguindo-se a possível negociação de um cessar-fogo de longo prazo.

As fases seguintes incluiriam um cessar-fogo de pelo menos seis semanas, durante o qual o Hamas e Israel tentariam chegar a acordo sobre a libertação de mais reféns e uma pausa prolongada nos combates que poderia durar até um ano.

O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, afirma que os militares enviarão forças terrestres para Rafah – uma cidade no extremo sul da Faixa de Gaza onde mais de um milhão de civis palestinos estão abrigados – independentemente de um acordo ser alcançado.

Os militares israelenses disseram que Rafah é o último reduto do Hamas. Mas, a portas fechadas, as autoridades israelenses estão considerando adiar a invasão de Rafah indefinidamente se for alcançado um acordo a longo prazo, dizem as autoridades egípcias.

Autoridades do Hamas expressaram preocupação de que Netanyahu estivesse provocando o grupo a recusar a proposta a fim de invadir Rafah e culpar o Hamas pelo fracasso das negociações.

Espera-se que o grupo responda à proposta com uma contraproposta, em vez de rejeitá-la imediatamente, segundo as autoridades egípcias.

Uma operação militar israelense em Rafah, cidade do sul da Faixa de Gaza que abriga muitos refugiados, “poderia causar um massacre” e prejudicar o trabalho humanitário no enclave. O alerta foi feito pelo Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, na sexta-feira.

O porta-voz do Ocha, Jens Laerke, afirmou em coletiva de imprensa na sede da ONU em Genebra que “qualquer operação terrestre significaria mais sofrimento e morte” para os 1,2 milhão de palestinos deslocados que se abrigam no local.

Preocupada com uma incursão militar em grande escala, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que foram feitos planos de contingência, mas eles não serão suficientes para evitar o agravamento da situação humanitária em Gaza.

O representante da OMS no Território Palestino Ocupado, Rik Peeperkorn, afirmou que o plano funciona como um “curativo” e não evitará a “mortalidade e a morbidade adicionais substanciais causados por uma operação militar”. 

Falando de Jerusalém, o médico da OMS alertou que uma operação militar provocaria uma nova onda de deslocamento, mais superlotação, menos acesso a alimentos essenciais, água e saneamento e mais surtos de doenças.

Ele ainda observou que a piora na situação de segurança também poderia impedir seriamente o movimento de alimentos, água e suprimentos médicos para Gaza e através dos pontos de fronteira.

Apesar de “uma ligeira melhora” na disponibilidade e na diversidade de alimentos em Gaza nas últimas semanas, Peeperkorn negou qualquer sugestão de que a ameaça iminente de desnutrição aguda tenha diminuído para os mais vulneráveis do enclave.

Ele explicou que os efeitos serão vistos nos próximos anos, observando que 30 crianças já morreram devido a doenças ligadas à desnutrição.

Depois de quase sete meses de bombardeios israelenses, provocados pelos ataques terroristas liderados pelo Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro, apenas 12 dos 36 hospitais de Gaza e 22 das 88 instalações de saúde primária do enclave estão “parcialmente funcionais”.

A agência da ONU revelou que entre eles está o Hospital Najjar, em Rafah, que oferece tratamento de diálise a centenas de pessoas. 

O líder da equipe da OMS em Gaza, Ahmed Dahir, afirmou que o sistema de saúde “mal está sobrevivendo”, assim, se houver alguma operação, a população e os pacientes não poderão acessar esses hospitais, o que pode causar uma “catástrofe”.