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Ajuda humanitária

Israel concorda com pausas diárias de quatro horas no confronto em Gaza

O movimento ocorre no momento em que o governo Joe Biden afirmou ter assegurado uma segunda rota para os civis fugirem dos confrontos.

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09 de novembro de 2023
Vinicius Palermo
Israel concorda com pausas diárias de quatro horas no confronto em Gaza
Refugiados na região de Gaza.

A Casa Branca afirmou que Israel concordou em estabelecer pausas humanitárias de 4 horas por dia em sua incursão contra o Hamas no norte da Faixa de Gaza, a partir de quinta-feira, 9. O movimento ocorre no momento em que o governo Joe Biden afirmou ter assegurado uma segunda rota para os civis fugirem dos confrontos.

Biden pediu ao premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, que institua as pausas diárias durante telefonema nesta segunda-feira. Porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby disse que a primeira pausa será anunciada na quinta-feira e que os israelenses haviam se comprometido a anunciar cada janela de quatro horas com ao menos três horas de antecedência. Israel, segundo ele, também estava abrindo um segundo corredor para retirada de civis.

Biden disse a repórteres que havia pedidos aos israelenses uma “pausa mais longa do que três dias”, durante negociações sobre a liberação de alguns reféns mantidos pelo Hamas, embora ele tenha dito que “não havia possibilidade” de um cessar-fogo geral. Questionado sobre a demora de Netanyahu para instituir as pausas humanitárias, ele disse: “Está levando um pouco mais de tempo do que eu esperava”.

Kirby disse que as pausas podem ser úteis para retirar todos os 239 reféns da região, entre eles menos de dez americanos.

O coordenador humanitário da ONU, Martin Griffiths, esteve na conferência humanitária em Paris, França, sobre Gaza na quinta-feira. Ele renovou o apelo por uma pausa nos combates e expressou preocupação com a segurança dos civis que fugiram para o sul da região.

Em mensagem de vídeo apresentada no evento, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou novamente que os civis em Gaza devem receber ajuda humanitária e condenou os “atos de terror do Hamas” em Israel.

Ele lembra que ainda que alguma ajuda esteja começando a chegar a Gaza, ela é apenas “uma gota no oceano”. Para Guterres, é necessário um “cessar-fogo humanitário imediato” e a proteção de hospitais, instalações da ONU, abrigos e escolas. 

Ao reforçar seu apelo por doações, ele afirmou que a solidariedade pode ajudar os “civis de Gaza a verem, finalmente, e no mínimo, um vislumbre de esperança” e “um sinal de que o mundo vê sua situação difícil e se importa o suficiente para ajudar”.

O chefe da Agência da ONU para Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, Philippe Lazzarini, enfatizou a situação das crianças no território, que ele viu na semana passada “implorando por um pedaço de pão e um gole de água”. 

Segundo Lazzarini, o deslocamento em massa levou a uma grave superlotação nos abrigos e bairros inteiros foram transformados em escombros com os ataques de Israel em retaliação aos atos do Hamas em 7 de outubro.

Na capital francesa, Griffiths descreveu o encontro com as famílias de algumas das 240 pessoas mantidas como reféns pelo Hamas em Gaza desde que o grupo realizou seu massacre no sul de Israel há mais de um mês. 

Depois de conversar com as famílias, o chefe humanitário da ONU disse que a situação era “insuportável” e que permitir que ela continuasse seria absurdo.

Ele enfatizou a necessidade urgente de um cessar-fogo humanitário, “silenciando as armas” para dar descanso aos habitantes de Gaza e permitir a retomada de serviços fundamentais.

Griffiths também pediu a proteção dos civis “onde quer que estejam” e reiterou a preocupação com o deslocamento de milhares de pessoas do norte para o sul do enclave para as “chamadas zonas seguras”.

No entanto, ele ressalta que ainda nesses locais, a segurança não é garantida. Para o chefe humanitário, a ONU não pode fazer parte dessa proposta.

De acordo com o Escritório da ONU para Assistência Humanitária, Ocha, outras 50 mil pessoas teriam deixado o norte de Gaza para o sul na quarta-feira por meio de um “corredor” aberto pelos militares israelenses.

Na conferência de Paris, os representantes das Nações Unidas pediram respeito à lei humanitária internacional no conflito, que já registrou um número de vítimas civis considerado “inconcebível”.

Eles pediram o acesso desimpedido de centenas de caminhões de ajuda para levar alimentos, água, suprimentos médicos e combustível aos habitantes de Gaza situação de desespero. 

Para Lazzarini, limitar severamente os alimentos, a água e os medicamentos é uma “punição coletiva”, o que viola a lei internacional.

Eles também defenderam a abertura de outras passagens de fronteira para a ajuda, incluindo Kerem Shalom, na fronteira com Israel, já que o volume de assistência que chega do Egito pela passagem de Rafah continua insuficiente. 

Para prestar serviços humanitários diante do aumento das necessidades, no início desta semana, a ONU e seus parceiros lançaram um apelo de financiamento de US$ 1,2 bilhão.

O valor permitiria com que as operações humanitárias apoiassem 2,2 milhões de pessoas na Faixa de Gaza e 500 mil na Cisjordânia. Ajudar a mobilizar esse financiamento está entre os objetivos da conferência de Paris.