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Ibovespa cai 1,69%, aos 129,2 mil pontos, com foco nos juros dos EUA

Nesta terça-feira, 16, o índice da B3 oscilou dos 129.146,61 aos 131.516,52 pontos, saindo de abertura aos 131.514,92 pontos

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17 de janeiro de 2024
Vinicius Palermo
Ibovespa cai 1,69%, aos 129,2 mil pontos, com foco nos juros dos EUA
A bolsa acumula perda na semana.

O Ibovespa perdeu a linha de 130 mil pontos, encerrando o dia no menor nível desde 12 de dezembro passado – também o primeiro fechamento de 2024 abaixo daquele limiar -, hoje aos 129,2 mil. Nesta terça-feira, 16, o índice da B3 oscilou dos 129.146,61 aos 131.516,52 pontos, saindo de abertura aos 131.514,92 pontos – ou seja, praticamente operou apenas no negativo ao longo do dia. O giro desta terça-feira, pós-feriado nos Estados Unidos, subiu a R$ 23,5 bilhões. Nas duas primeiras sessões da semana, o Ibovespa recua 1,29%, com perda a 3,65% no mês.

O dia foi de correção bem distribuída pelas ações de maior peso no índice, como Vale (ON -1,30%), Petrobras (ON -1,10%, PN -1,24%) e as de grandes bancos (Bradesco ON -1,60%, Santander Unit -1,75%, Itaú PN -1,41%), além das siderúrgicas (CSN ON -3,64%, Gerdau PN -2,82%). Apenas uma (SLC Agrícola +1,97%) das 87 ações que integram a carteira teórica do Ibovespa conseguiu evitar perdas na sessão. Em porcentual, a queda de 1,69% no fechamento desta terça-feira, aos 129.294,04 pontos, foi a maior para o Ibovespa desde 21 de setembro (-2,15%).

Na ponta perdedora na sessão, destaque para Soma (-6,18%), Cosan (-6,14%), Azul (-5,28%), Raízen (-5,25%) e Pão de Açúcar (-4,80%). A aversão a risco desde o exterior resultou em pressão sobre o câmbio nesta terça-feira – elevando o dólar a R$ 4,93 na máxima do dia – e também na curva de juros doméstica, que respondeu ao ajuste nos rendimentos dos Treasuries: combinação que levou o Ibovespa a renovar mínimas da sessão ao longo da tarde, chegando a cair 1,81% no pior momento.

Em Nova York, os três principais índices de ações fecharam em baixa, com Dow Jones à frente (-0,62%) nas perdas. O dia foi marcado pelo prosseguimento da reprecificação de expectativas quanto aos juros do Federal Reserve, com efeito direto para a curva futura nos Estados Unidos e resquícios para a dos DIs, no Brasil. Os rendimentos dos Treasuries voltaram a operar acima do limiar de 4% nesta terça-feira, desde vencimentos curtos, como o de 2 anos, a 4,26% na máxima da sessão, como também nos mais longos, de 10 anos (4,07%) e 30 anos (4,32%).

“Dia negativo para os ativos de risco lá fora, com os juros abrindo e, também, apreciação global para o dólar. Nesta semana, a política monetária permanece no foco das atenções, com falas de autoridades de BCs, como o da zona do euro (BCE), expressando cautela quanto aos juros, sobre quando poderão começar a cair. E hoje, nos Estados Unidos, Christopher Waller diretor do Fed ainda mostrou cautela com relação aos juros americanos”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas. Ele acrescenta que o noticiário doméstico, sem muitas definições e em marcha lenta, reforça a reação dos ativos do Brasil a desdobramentos externos.

Dólar

A percepção de que os juros dos Estados Unidos podem cair mais lentamente do que o mercado espera, somada às preocupações dos investidores com o ritmo de crescimento da China e com o conflito no Mar Vermelho, que aumentaram a aversão ao risco e a busca por ativos considerados seguros, favoreceram o dólar em escala global, levando a moeda americana a subir mais de 1% na comparação com o real.

O dólar à vista subiu 1,22%, a R$ 4,9256, mas na máxima intradia atingiu R$ 4,9333 (+1,37%). Foi a maior cotação em um mês. O contrato da moeda para fevereiro subiu 1,46%, aos R$ 4,9350, mas na cotação mais alta do pregão chegou a R$ 4,9430 (+1,62%). O movimento no mercado futuro foi de US$ 16 bilhões.

No final do ano passado, os investidores aumentaram as apostas de que o Federal Reserve começaria a reduzir os juros rapidamente a partir de março, mas nas últimas semanas parte desta expectativa se desfez, tanto por indicadores apontando para a resiliência do mercado de trabalho e de alguns componentes da inflação quanto por declarações das autoridades do banco central americano sugerindo que a instituição será conservadora ao afrouxar a política monetária.

Juros

Os juros futuros avançaram em bloco nesta terça-feira, 16, com altas de quase 20 pontos-base nos trechos intermediário e longo da curva. O firme aumento dos rendimentos dos Treasuries deu o tom para o mercado doméstico de renda fixa. Investidores passaram o dia calibrando apostas na trajetória da política monetária americana.

Lá e aqui, as taxas subiram desde a manhã, mas ganharam novo impulso à tarde, com declarações do diretor do Federal Reserve (Fed) Christopher Waller. Em um evento nos Estados Unidos, ele disse ver espaço para apenas três cortes de juros de 0,25 ponto porcentual este ano – bem menos do que o precificado na curva de juros.

Depois dos comentários, a taxa da T-Note de dez anos foi a uma máxima de 4,079%, o maior patamar intradiário desde 13 de dezembro. Aqui, o juro do mais negociado contrato de depósito interfinanceiro (DI) do dia, para janeiro de 2026, subiu até 9,815%, 0,19 ponto porcentual acima do ajuste anterior, de 9,628%.

O movimento amainou ao longo da tarde, mas, no fim do dia, a taxa do DI para janeiro de 2026 ainda era de 9,810%, 0,18 ponto maior que no ajuste. O DI para janeiro de 2025 passou de 10,054% no ajuste para 10,135%, e o para janeiro de 2027, de 9,761% para 9,965%. A taxa do contrato para janeiro de 2029 passou de 10,163% para 10,360%.

Para o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal, a alta das taxas, hoje, é explicada principalmente pelos ajustes nas apostas de cortes de juros nos Estados Unidos. Esse movimento vem após um rali que derrubou os juros, lá e aqui, em dezembro, depois de sinais mais dovish do Fed, lembra.

“De fato, talvez o mercado tenha sido otimista demais com o que o Fed iria fazer, inclusive porque a previsão dos próprios dirigentes é de três cortes ao longo deste ano, e o mercado está precificando seis”, afirma o analista. “O mercado quer apostar em seis cortes, mas vira e mexe tem uma reversão parcial desse sentimento, e hoje é um bom exemplo disso.”