Após a tragédia que causou pelo menos 50 mortes no litoral norte de São Paulo no carnaval, empresários do setor de hotelaria ou de imóveis para aluguel tentam evitar a onda de cancelamentos de reservas na região, uma das mais buscadas pelos turistas.
Em São Sebastião, ainda são calculados os prejuízos e há dificuldades de acesso. Em Ubatuba, eles argumentam com clientes que os estragos se concentraram em outras áreas para encorajar os hóspedes. Meteorologistas, porém, recomendam que visitantes evitem a região nos próximos dias. O mesmo apelo foi feito pelo ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França.
Segundo a Associação Comercial e Empresarial de São Sebastião, um quarto dos hotéis e pousadas do município fica na região do litoral mais atingida pelas chuvas. Olivo Ramirez Balut, presidente da entidade, diz que a maioria das pousadas entre Boiçucanga e Boraceia, na costa sul, foi atingida diretamente por alagamentos e inundações.
“Muitos desses estabelecimentos, além de terem de lidar com prejuízos próprios e dos hóspedes, ficarão impossibilitados de fazer reservas por semanas e até meses”, afirma.
Hotéis e pousadas da costa norte do litoral, centro e costa sul do litoral até Boiçucanga, que não tiveram prejuízos diretos, estão sendo afetados por uma onda de cancelamentos, segundo ele. “É normal que a pessoa que fez reserva se sinta insegura de vir nesse momento em que ainda há estradas bloqueadas e situação ainda de emergência. O que a gente vê nesse momento é o movimento de pessoas querendo deixar a região”, afirma.
A Pousada Ipê, na região central da cidade do litoral, não sofreu com a chuva, mas foi obrigada a atender a pedidos de cancelamentos de reserva. “A costa sul, que foi atingida, está bem distante, mas os reflexos chegam até aqui. Quando nos procuram para reservas, estamos informando que o acesso é só pela (rodovia dos) Tamoios, que ainda não dá para ir às praias da costa sul”, diz Jéssica, funcionária do local.
Corretoras e empresas de locação retiraram de suas páginas na internet ofertas de acomodações nas praias atingidas pelo desastre, como Juquehy, Camburi e Barra do Sahy. Por meio da assessoria de imprensa, a Airbnb informou que ainda não tem um balanço de cancelamentos.
Pousadas de Ilhabela, que dependem das balsas de São Sebastião para a chegada do turista, também sofrem. “Era muita água e nossa pousada foi alagada. Conseguimos salvar os carros dos hóspedes, mas perdemos muita coisa, inclusive meu próprio carro, camas e eletrodomésticos”, diz Ezequiel de Souza Vale, gerente de uma unidade.
Ele conta que, no domingo, estava com os oito apartamentos e o chalé ocupados. “Tivemos de devolver o dinheiro e ajudar os hóspedes a irem embora, pois até sem água ficamos. Alguns conseguimos remanejar para outras pousadas. Todas as reservas que tínhamos até o fim deste mês foram canceladas. Alguns hóspedes que são clientes antigos remarcaram para o fim de março e início de abril. Acredito que os próximos 30 dias ainda serão muito difíceis.”
De acordo com o presidente da Associação Comercial, o governo do Estado criou uma linha de crédito especial para socorrer o setor Para Balut, o momento não é favorável para chamar turistas para a região. “Se a pessoa precisar vir a São Sebastião por alguma necessidade, vai ter acomodação, mas esse não é um bom momento para turismo”, diz.
“As pessoas não sabem que em Ubatuba não houve tanto estrago como aconteceu em São Sebastião e cancelam com medo de vir para cá”, diz Salim Simão, gerente do Hotel Porto do Eixo, numa das praias do sul da cidade litorânea. O estabelecimento, de 38 quartos, já teve dois cancelamentos na quarta-feira, 22.
Na Praia do Sapê, também no sul de Ubatuba, a gerente da pousada de luxo Temoana, Juliana Netto, diz se esforçar para explicar aos clientes que nem a hospedaria nem a cidade foram atingidas tão fortemente como em São Sebastião, a 77 quilômetros.
“Já tivemos um cancelamento de hóspedes que viriam neste final de semana. Muitos estão pedindo informações. A gente explica a distância, manda fotos, e diz que os estragos aqui foram muito menores”, afirma Juliana Netto de Oliveira, gerente da pousada, que cobra diária média de R$ 900. No dia das chuvas, porém, algumas ruas nos bairros onde moram funcionários estavam alagadas. Outros tiveram a casa invadidas pelas águas.
Na Pousada Kaliman, na mesma cidade, o gerente Rui Ribeiro usa uma câmera que transmite imagens ao vivo da praia na tentativa de convencer os clientes. “O funcionamento do túnel para subida da serra pela Tamoios também ajuda a acalmar os clientes”, diz ele. O túnel de 12,5 km na nova pista da Rodovia dos Tamoios, na subida da Serra do Mar, foi inaugurado em março do ano passado.
Os problemas de esgoto na cidade também jogam contra os empresários. Uma das ruas que passa perto do hotel, segundo Simão, transbordava regularmente quando chovia. O próprio hotel, então, custeou uma obra para instalar galerias pluviais a fim de escoar a água que empoçou na via.
Por outro lado, tem quem acredite que a tragédia em São Sebastião faça os turistas migrarem para Ubatuba. “Creio que o movimento vai aumentar”, afirma Jefferson José dos Santos, que tem uma escola de surfe na praia do Sapê.