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Hamas diz que aceitou proposta de cessar-fogo de Egito e Catar

As duas nações do Oriente Médio estão mediando meses de negociações entre Israel e o Hamas. Não houve nenhum comentário imediato de Israel.

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07 de maio de 2024
Vinicius Palermo
Hamas diz que aceitou proposta de cessar-fogo de Egito e Catar
O Hamas emitiu uma declaração na segunda-feira, 6, dizendo que seu líder supremo, Ismail Haniyeh

O Hamas afirmou ter aceitado uma proposta de cessar-fogo para interromper a guerra com Israel. O grupo emitiu uma declaração na segunda-feira, 6, dizendo que seu líder supremo, Ismail Haniyeh, deu a notícia em uma ligação telefônica com o primeiro-ministro do Catar e o ministro da inteligência do Egito.
As duas nações do Oriente Médio estão mediando meses de negociações entre Israel e o Hamas. Não houve nenhum comentário imediato de Israel.

O anúncio foi feito horas depois que Israel ordenou que os palestinos começassem a evacuar a cidade de Rafah, no sul de Gaza, antes de uma operação militar israelense. Israel diz que Rafah é o último reduto do Hamas. A notícia do anúncio do Hamas fez com que as pessoas em Rafah se animassem.

Os detalhes da proposta não foram divulgados imediatamente. Mas, nos últimos dias, as autoridades egípcias e do Hamas disseram que o cessar-fogo ocorreria em uma série de etapas, nas quais o Hamas libertaria os reféns que mantém em troca da retirada das tropas israelenses de Gaza. Não está claro se o acordo atenderá à principal exigência do Hamas, que é o fim da guerra e a retirada completa de Israel do território ocupado.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou na segunda-feira, 6, com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Segundo comunicado emitido pela Casa Branca, o norte-americano reiterou a sua posição clara sobre as ações do exército de Israel em Rafah, que é no sentido de alertar sobre os potenciais riscos envolvendo a morte de civis.

Biden ainda atualizou o primeiro-ministro sobre os esforços para garantir um acordo sobre os reféns, inclusive por meio de negociações em andamento na segunda em Doha, no Catar.

De acordo com a publicação, o primeiro-ministro concordou em garantir que a passagem de Kerem Shalom esteja aberta para assistência humanitária aos necessitados.

O grupo militante palestino Hamas alertou Israel na segunda-feira que qualquer operação militar na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, “não será um piquenique”. Em uma declaração, o Hamas afirmou que os grupos militantes palestinos, liderados pela ala militar do grupo, as Brigadas Qassam, “estão prontos para defender nosso povo e derrotar o inimigo”.

A declaração foi o primeiro comentário oficial desde que o exército israelense ordenou que dezenas de milhares de palestinos em Rafah começassem a evacuar, sinalizando que uma invasão terrestre há muito prometida poderia ser iminente.

O Hamas pediu que a comunidade internacional aja rapidamente “para impedir o crime que está ameaçando a vida de centenas de milhares de civis”.

Também pediu às agências internacionais, incluindo a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados palestinos, que permaneçam em Rafah e apoiem a população local.

A Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, afirmou que “uma ofensiva israelense em Rafah significaria mais sofrimento e mortes de civis”, adicionando que as consequências seriam arrasadoras para 1,4 milhão de pessoas.

A agência declarou que não irá evacuar seu pessoal e “manterá a presença em Rafah o máximo de tempo possível”, para continuar a prestar serviços de salvamento e ajuda às pessoas.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, alertou que “um cerco militar e uma incursão terrestre em Rafah representaria riscos catastróficos para as 600 mil crianças” abrigadas na cidade mais ao sul de Gaza.

Muitas delas “estão altamente vulneráveis ​​e no limite da sobrevivência”, afirmou a agência da ONU em um comunicado, destacando o aumento da violência em Rafah e o fato de potenciais corredores de evacuação estarem “provavelmente minados ou repletos de explosivos não detonados”.

O Unicef adicionou que qualquer movimento militar em Rafah resultará em um número muito elevado de baixas civis e ao mesmo tempo destruirá “os poucos serviços básicos e infraestruturas restantes” de que as pessoas necessitam para sobreviver.

A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, disse que muitas crianças foram “deslocadas diversas vezes e perderam casas, pais e entes queridos”. Ela afirmou que milhares de crianças estão “feridas, doentes, desnutridas, traumatizadas ou vivendo com deficiências”.

No domingo, a diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos da ONU, Cindy McCain, ressaltou preocupações com restrições de ajuda e atrasos impostos por Israel. 

O comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, disse que “as autoridades israelenses continuam negando acesso humanitário às Nações Unidas”.

Ele explicou que nas últimas duas semanas, foram registrados 10 incidentes envolvendo disparos contra comboios, detenções de funcionários da ONU, incluindo intimidação, despimento, ameaças com armas e longos atrasos nos postos de controle. Esses eventos forçaram os comboios de ajuda a realizar deslocamentos durante a noite ou a abortar missões.

O chefe da Unrwa também condenou os ataques com foguetes na passagem Kerem Shalom, que supostamente mataram três soldados israelenses, levando ao seu fechamento. A travessia é um importante ponto de entrada de ajuda humanitária.

De acordo com relatos de agências de notícias, panfletos lançados pelos militares israelenses acima do leste de Rafah aconselhavam as comunidades a se mudarem para a chamada zona segura de Al Mawasi, a oeste de Rafah, junto ao Mar Mediterrâneo.

Os profissionais humanitários da ONU rejeitaram anteriormente iniciativas de evacuação semelhantes levadas a cabo pelos militares israelenses, alegando que representavam deslocamento forçado.   

A representante de comunicação da Unrwa em Gaza, Louise Wateridge, disse que “em “Al Mawasi, há uma grave falta de infraestruturas suficientes, incluindo água”.

Mais de 400 mil pessoas já estão abrigadas na região costeira, de acordo com a última avaliação da agência da ONU, que relatou um fluxo de pessoas deslocadas da cidade vizinha de Khan Younis. 

Para apoiar esta população, a Unrwa tem dois centros de saúde temporários em Al Mawasi, juntamente com outros pontos médicos recém-criados na área.

A porta-voz da Unrwa, Juliette Touma, disse que Al Mawasi “está longe de ser seguro, porque nenhum lugar é seguro em Gaza”.

A A.P. Moeller-Maersk alertou também na segunda-feira que os conflitos geopolíticos no Oriente Médio podem diminuir entre 15% e 20% a capacidade do transporte marítimo entre a Ásia e a parte norte da Europa e no mercado mediterrâneo durante o segundo trimestre de 2024.

Em nota divulgada na segunda-feira, a empresa afirmou que “a complexidade da situação no Mar Vermelho se intensificou nos últimos meses”, com expansão da zona de risco devido a ataques que alcançam distância maior. “Essa situação forçou nossos navios a fazer jornadas ainda maiores, resultando em tempo e custos adicionais” para transportar as cargas ao seu destino final, apontou.

A Maersk listou os efeitos indiretos observados sobre a indústria de transportes, incluindo gargalos e atrasos na entrega de equipamentos, aglomeração de navios e falta de capacidade para cumprir as rotas.
A empresa afirmou que manterá o redirecionamento das rotas pelo Cabo da Boa Esperança, localizado na África do Sul, ao mesmo tempo em que trabalha para aprimorar a confiabilidade do transporte marítimo ao adicionar mais “velocidade e capacidade” nos trajetos.