Um ano depois de os primeiros tanques russos invadirem a Ucrânia, a situação do conflito está tão estagnada quanto os avanços territoriais de ambos os lados em trincheiras enlameadas: congelada. Sem perspectiva de um acordo de paz, a guerra na Ucrânia enterrou de vez a ordem global do pós-Guerra Fria ao redesenhar alianças internacionais e despertar antigas tensões adormecidas.
Para analistas, 2023 é o ano fundamental para definir o que será do mundo pós-guerra. Se o conflito escalar, será neste ano. E se a guerra escalar de vez, pode se tornar um conflito global e reavivar disputas regionais e conflitos locais.
“A melhor maneira de Putin retaliar o apoio ocidental à Ucrânia é alimentar crises em série em outros países. Uma crise no Oriente Médio, por exemplo, aumentaria os preços da energia, nos forçaria a lidar com mais uma crise”, afirma Walter Russel Mead, professor do Bard College, prestigiosa universidade americana. “Este pode ser o começo. A Rússia vai agir cada vez mais na zona cinzenta”.
Ainda que o conflito não escale, ele já expôs uma profunda divisão global e os limites da influência dos EUA. O esforço para isolar Putin falhou, e não apenas entre os aliados russos que poderiam apoiar Moscou, como China e Irã.
A Índia anunciou na semana passada que seu comércio com a Rússia cresceu 400% desde a invasão. Nas últimas seis semanas, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, foi recebido em nove países da África e do Oriente Médio – incluindo a África do Sul, cujo ministro das Relações Exteriores, Naledi Pandor, saudou o encontro como “maravilhoso” e chamou a África do Sul e a Rússia de “amigos”.
Na semana passada, uma batelada de tanques de guerra M1A2 Abrams e centenas de sistemas de foguetes começaram a chegar no país. O arsenal é parte de gigantesca onda de gastos militares da Polônia, país vizinho à Ucrânia, após a invasão russa. O ministro da Defesa polonês, Mariusz Blaszczak, espera que os investimentos ajudem a construir “a maior força terrestre da Europa” – tudo com ajuda da Otan. A aliança também fez acenos e promete apoio militar crescente para os países bálticos, Lituânia, Letônia e Estônia.
Finlândia e Suécia também deve se juntar à Otan, o que trará um contingente, equipamento e competência em combate. A Finlândia, por exemplo, é capaz de reunir 280 mil soldados em poucas semanas, o que equivale a mais de duas vezes o tamanho do contingente militar na ativa e na reserva do Reino Unido.
“Não se trata de um ponto de inflexão geopolítica para o restante do mundo”, afirmou à revista Economist Shivshankar Menon, ex-diplomata-chefe da Índia, Menon. “Onde estamos, a falha sísmica geopolítica principal ainda é entre China e EUA – e a guerra na Ucrânia não altera essa situação”.
A invasão de Vladimir Putin à Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, revitalizou a aliança militar do Atlântico Norte (Otan) – que se armou com seu primeiro novo conjunto de objetivos desde 1967, ano em que seus escritórios foram inaugurados.
Enquanto a antiga Otan foi reativa, a aliança agora é reconstruída para dissuadir a Rússia em tempos de paz e responder a agressões com uso de força assim que Moscou ameaçar se intrometer em territórios de seus membros.
Para fazer isso, o centro de gravidade da Otan se voltou para o leste da Europa, após alguns anos de dormência e discordância entre seus líderes. O recente acordo dos EUA com a Polônia é o sinal mais recente desse apelo ao leste.
Na semana passada, uma batelada de tanques de guerra M1A2 Abrams e centenas de sistemas de foguetes começaram a chegar no país. O arsenal é parte de gigantesca onda de gastos militares da Polônia, país vizinho à Ucrânia, após a invasão russa. O ministro da Defesa polonês, Mariusz Blaszczak, espera que os investimentos ajudem a construir “a maior força terrestre da Europa” – tudo com ajuda da Otan. A aliança também fez acenos e promete apoio militar crescente para os países bálticos, Lituânia, Letônia e Estônia.
Finlândia e Suécia também deve se juntar à Otan, o que trará um contingente, equipamento e competência em combate. A Finlândia, por exemplo, é capaz de reunir 280 mil soldados em poucas semanas, o que equivale a mais de duas vezes o tamanho do contingente militar na ativa e na reserva do Reino Unido.
Conforme a guerra completa um ano, o impasse diplomático se impõe. Propostas de paz aparecem, mas são rechaçadas pelos envolvidos. Os Estados Unidos e seus parceiros do G-7 já propuseram um acordo de paz, lido como condições para a rendição da Rússia: Kyev recupera todo o seu território, recebe reparações de Moscou e assina acordos de segurança com os países ocidentais. A china também fez uma proposta, considerada muito pró-Rússia e descartada pela Otan.
Nenhum dos lados demonstra vontade de recuar em seus objetivos de guerra. Para a Ucrânia, repelir uma força invasora que reivindica quase um quarto de seu território é uma necessidade existencial. Para a Rússia, não existe vitória sem garantir o território ucraniano que reivindica como seu, da Crimeia ao Donbass.
O mantra em Washington é apoiar Kiev “por tempo necessário” e descartar, pelo menos por enquanto, passos práticos em direção à diplomacia. O risco que isso acarreta é manter as tensões altas, levar a uma escalada perigosa e prolongar o conflito indefinidamente. Mesmo na ausência de um ataque nuclear, o risco de um confronto direto entre a Otan e a Rússia permanece alto e tende aumentar enquanto a guerra continuar.
“As relações diplomáticas entre Rússia e EUA são praticamente inexistentes, sem contatos de alto escalão desde o começo da guerra. Entre EUA e China também não são muito melhores, ainda mais depois do episódio do balão”, diz Eugene Chausovsky, analista do centro de estudos americano NewLines Institute e ez- analista da Eurasia. “Hoje, o cenário mais otimista é o de um conflito congelado, no máximo um cessar-fogo duradouro, cujo efeito em cascata afetaria a cooperação diplomática no mundo todo por muito tempo”.