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Governo inicia distribuição da vacina da dengue para crianças de 10 a 11 anos

De acordo com a nota técnica da pasta sobre o início da vacinação, todas as cidades devem receber doses suficientes

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10 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Governo inicia distribuição da vacina da dengue para crianças de 10 a 11 anos
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, acompanha o início da vacinação contra dengue no Distrito Federal, na UBS1 do Cruzeiro. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O Ministério da Saúde recebeu os primeiros lotes nesta semana e iniciou a distribuição da vacina contra a dengue na quinta-feira, 8. As primeiras 712 mil doses serão direcionadas ao grupo de crianças de 10 a 11 anos que vivem em 315 municípios (60% dos selecionados para receber o imunizante em 2024).

Goiás e o Distrito Federal já estão em posse de suas doses. A capital federal já iniciou a vacinação na sexta-feira, 9. Bahia, Acre, Paraíba, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Amazonas, São Paulo e Maranhão receberão a vacina nos próximos dias.

O objetivo do ministério é vacinar as crianças de 10 a 14 ainda de 521 municípios ainda neste ano. De acordo com a nota técnica da pasta sobre o início da vacinação, todas as cidades devem receber doses suficientes para vacinar os pequenos de 10 a 11 anos até a segunda semana de março.

A ampliação das faixas etárias vai depender da efetivação do cronograma de entregas combinado com a empresa Takeda, responsável pela Qdenga, de acordo com Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. A farmacêutica japonesa comunicou que vai priorizar a distribuição de doses para o Sistema Público de Saúde (SUS) por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

A estimativa da pasta é vacinar 3,2 milhões com as 6,5 milhões de doses contratadas para 2024. O esquema vacinal será composto por duas doses, com intervalo de três meses entre elas.

O anúncio do início da distribuição da vacina ocorre em meio ao que a pasta classificou como uma “antecipação de casos” da dengue no País. “Em geral, o crescimento de casos acontecia no final de março, abril. Começamos a ver o crescimento dos casos já em janeiro”, afirmou Ethel, em entrevista coletiva na manhã desta sexta.

De acordo com o painel de arboviroses do Ministério da Saúde, o Brasil já acumula mais de 395 mil casos prováveis da doença e 53 mortes. A estimativa da pasta é de que o País ultrapasse os 4 milhões de casos neste ano, algo nunca antes visto, por isso, há uma grande preocupação com a pressão no sistema de saúde.

A secretária listou alguns fatores que podem estar causando essa antecipação. O primeiro deles, diz, é a circulação dos quatro sorotipos da doença ao mesmo tempo. “Alguns deles não circulavam no Brasil há 15 anos.” Muitas pessoas, principalmente crianças e adolescentes, diz Ethel, não passaram por uma infecção por esse tipo do vírus, o que as torna mais suscetíveis a ele.

Por outro lado, a pasta também se preocupa com um “comportamento diferente” do mosquito Aedes Aegypti, vetor da dengue. “Tínhamos um mosquito que picava mais no final da tarde e no começo da manhã. Agora, vemos ele (picando) durante todo o dia”, afirmou Ethel. As altas temperaturas, embaladas pelo El Niño, também favorecem a reprodução do inseto.

Desde o final do ano, de acordo com o Ethel, a pasta está em contato com Estados e municípios alertando sobre a previsão de explosão de casos em 2024, reforçando as medidas de manejo desses pacientes e sobre a necessidade de iniciar antecipadamente medidas de controle do vetor; e fez um aporte de R$ 256 milhões para que colocassem essas ações em prática.

“Nós podemos ter dengue, mas precisamos evitar os casos graves que vão levar as pessoas ao óbito”, falou Ethel. “O tratamento para isso é simples, é hidratação.”

A dengue é considerada uma doença bifásica. Quando a febre alta, da fase inicial, começa a ceder é quando, tradicionalmente, os sinais de alarme têm início O adequado é buscar atendimento de profissional de saúde logo nos primeiros sintomas, para que outras doenças sejam descartadas, e o paciente receba orientações sobre a hidratação e também sobre quando deve retornar à unidade de saúde.

“Qualquer sintoma que impeça a pessoa de estar hidratada é um sinal importante de que a pessoa precisa procurar um serviço de saúde”, disse.

Ao comentar o início da vacinação contra a dengue em crianças de 10 e 11 anos no Distrito Federal, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, avaliou o momento como histórico. “Há 40 anos, se espera uma vacina para a dengue. Tentamos trabalhar, já havia vacina desenvolvida, mas não tão bem sucedida. Agora, temos uma vacina incorporada ao SUS.”

“Mesmo sem epidemia, nós começaríamos essa vacinação porque a dengue é um problema de saúde pública há muito tempo. Neste momento, é muito importante falar dessa conquista que é termos uma vacina”, reforçou Nísia.

Segundo a ministra, a pasta trabalha em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e outros laboratórios nacionais para ampliar a produção da vacina, atualmente fabricada pelo laboratório japonês Takeda. “Vamos apoiar também a vacina do Instituto Butantan, que ainda não foi submetida à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).”

“Falei, inclusive, para todas as crianças: ‘vocês, nas escolas, nos ajudem na campanha de combate aos focos do mosquito[Aedes aegypti . Também vamos estar atentos aos sinais da doença, para não nos automedicarmos, cuidarmos da hidratação. Estas são as mensagens mais importantes neste momento”, afirmou Nísia.

“Como eu disse, a gente começaria a vacinação mesmo sem surto epidêmico porque finalmente temos uma vacina vista como eficaz, segura. A gente está contribuindo também, no Brasil, com estudos que estão sendo feitos para avaliar a dose para outras faixas etárias. É um trabalho que envolve muitas frentes”, completou.