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Desestabilização

Governo da Bolívia nega que tenha forjado golpe

O general segue detido e pode pegar até 20 anos de prisão pelos crimes de terrorismo e levante armado contra o Estado.

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28 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Governo da Bolívia nega que tenha forjado golpe
O ministro do Interior da Bolívia, Eduardo del Castillo.

O governo da Bolívia negou que tenha forjado a tentativa de golpe, como acusa Juan José Zúñiga, que comandou o cerco com tanques do Exército ao palácio presidencial na Praça Murillo. O general segue detido e pode pegar até 20 anos de prisão pelos crimes de terrorismo e levante armado contra o Estado.
Junto com Juan José Zúñiga, uma dezena de soldados foi detida pela tentativa de golpe que deixou pelo menos 12 feridos.

Ministros do governo afirmam que o general foi informado na noite anterior à tentativa de golpe que seria dispensado do cargo de comandante do Exército por suas declarações políticas. No começo da semana, Zúñiga disse em entrevista que prenderia o ex-presidente Evo Morales, caso ele insistisse em disputar as eleições de 2025, mesmo tendo sido desqualificado pela Justiça.

“Ele foi informado da perda do cargo porque violou a Constituição. Um soldado não pode deliberar sobre política, não pode deliberar sobre assuntos do território nacional”, afirmou o ministro do Interior da Bolívia, Eduardo del Castillo.

O ministro disse ainda que o golpe vinha sendo planejado há três semanas, com a participação de um grupo de soldados. E que o governo chegou a receber informações sobre tentativas de desestabilização, mas que ninguém poderia imaginar nada dessa magnitude.

“Este delinquente teve a ousadia de usar armas de guerra contra o povo, destruindo um patrimônio que é de todos. Este delinquente lançou um tanque de guerra na porta do palácio”, declarou o ministro.
O planejamento do golpe, afirma Eduardo del Castillo, envolveu inclusive uma tentativa de conseguir apoio popular de protestos que haviam sido convocados para esta semana.

“O objetivo de Zúñiga era assumir o controle do país. Queria se converter em governo de fato, mudar o gabinete de ministros e desrespeitar a vontade do povo”, enfatizou Eduardo del Castillo. “O que ele estava buscando era um golpe de Estado.”

O ministro da Justiça Ivan Lima Magne disse que o processo penal contra o general foi aberto logo após a tentativa de golpe, ainda na noite de quarta-feira. Juan José Zúñiga pode pegar de 15 a 20 anos de prisão. “Zuñiga mente e tenta justificar uma decisão que é sua, pela qual será responsabilizado judicialmente”, disse o ministro.

Ao ser preso, Zúñiga acusou o presidente Luis Arce de forjar o golpe para elevar a sua popularidade.
“O presidente me disse que a situação estava muito difícil, com muitas críticas”, disse Zúñiga enquanto era levado por policiais. Ainda de acordo com o general, Arce teria dito que era preciso fazer alguma coisa para levantar a sua popularidade.

“Tiramos os blindados?”, teria perguntado o militar, segundo o relato. Ao que o presidente teria respondido que sim. “Então, na noite de domingo, os blindados começaram a descer”, disse.
Com o cerco ao palácio, Luis Arce denunciou uma tentativa de golpe e pediu à população que saísse em defesa da democracia. O ex-presidente Evo Morales, padrinho político com quem Arce rompeu mais recentemente, convocou uma mobilização nacional, com greve geral e bloqueios em estradas.

Fora da Bolívia, líderes da América Latina condenaram rapidamente a tentativa de golpe e reforçaram o apoio ao governo Arce. Horas depois, a quartelada foi desmobilizada com a troca no comando militar.

Ministros do governo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, rechaçaram, na quinta-feira, 27, a tentativa de golpe de Estado que ocorreu na quarta-feira na Bolívia. Os chefes das pastas destacaram o sistema democrático brasileiro como um valor fundamental ao Brasil.

As declarações ocorreram no período da manhã de quinta, durante a 3ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o chamado Conselhão.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que o encontro de quinta-feira simboliza a retomada de políticas sociais e a defesa da construção de diálogos plurais e inclusivos.

“A democracia é um valor fundamental do Brasil, como reafirmamos na quarta ao rechaçar a inaceitável tentativa de golpe de estado na Bolívia”, disse Vieira.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que a posição do governo brasileiro foi decisiva para reverter o quadro no país vizinho. “Mais uma vez a democracia na América Latina esteve em risco. A posição do presidente Lula e do ministro Mauro Vieira foram decisivas para apoiar as forças democráticas da Bolívia”, comentou.

“Dizer que não aceitamos mais ditaduras e golpes na América Latina, para o bem da economia, da sociedade, da sustentabilidade precisamos de democracia”, complementou Padilha. A declaração foi seguida de aplausos pela plateia.

Na quarta-feira, o governo brasileiro condenou a tentativa de golpe de Estado na Bolívia. A gestão federal manifestou, em nota, apoio e solidariedade ao presidente Luis Arce e ao governo boliviano.
“O Governo brasileiro condena nos mais firmes termos a tentativa de golpe de estado em curso na Bolívia, que envolve mobilização irregular de tropas do Exército, em clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país”, divulgou o Palácio Itamaraty em nota. “O Governo brasileiro manifesta seu apoio e solidariedade ao Presidente Luis Arce e ao Governo e povo bolivianos.”

O Ministério das Relações Exteriores afirmou que o governo federal estará em “interlocução permanente” com as “autoridades legítimas bolivianas” e com os governos dos demais países da América do Sul. O diálogo, segundo a gestão brasileira, será “no sentido de rechaçar essa grave violação da ordem constitucional na Bolívia e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região”.