País
Fascismo

Gilmar Mendes diz que Lava Jato ameaçou a democracia

Gilmar Mendes atacou duramente os desdobramentos da Lava Jato e disse que a operação serviu como “germe do fascismo” no País.

Compartilhe:
09 de maio de 2023
Vinicius Palermo
Gilmar Mendes diz que Lava Jato ameaçou a democracia
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

Durante entrevista ao programa Roda Viva, na segunda-feira, 8, o ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, se negou a responder uma publicação do senador Sérgio Moro (União Brasil -PR) em suas redes sociais alegando que o ministro tem “obsessão” por ele. Ao final do programa da TV Cultura, entretanto, em tom irônico, Mendes sugeriu que o ex-juiz da Lava Jato fosse convidado pela emissora para um debate direto com ele.

Enquanto a entrevista acontecia – marcada por críticas à Lava Jato e à atuação do ex-juiz, Moro se manifestou sobre os comentários do ministro: “não tenho a mesma obsessão por Gilmar Mendes que ele tem por mim. Combati a corrupção e prendi criminosos que saquearam a democracia. Não são muitos que podem dizer o mesmo neste país”. Avisado da publicação pela apresentadora e jornalista Vera Magalhães, Gilmar desconversou. “Não vou falar sobre Moro agora. Vamos tratar de temas mais importantes”, rebateu.

Gilmar Mendes atacou duramente os desdobramentos da Lava Jato, alegando que o combate à corrupção “fora dos marcos legais” ameaçou a democracia e serviu como “germe do fascismo” no País. Segundo ele, a operação sediada em Curitiba disseminou a “antipolítica” que elegeu o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018.

“O germe desse fascismo vem desse modelo (extrapolar os marcos legais ao combater a corrupção) que levou a uma sucata do sistema político. Bolsonaro só se elegeu nesse contexto. O discurso antipolítica colou e fez com que ele surgisse como uma alternativa de decisão e as pessoas embarcaram nisso. A Lava Jato faz de Bolsonaro o seu candidato. É bom que isso seja dito. O discurso antipolítica vem da Lava Jato assim como o discurso antissupremo, o ataque contra o Supremo”, disse.

Questionado sobre a denúncia da PGR contra Moro, após o senador sugerir, em vídeo, que o ministro vendia habeas corpus, Gilmar Mendes fez questão de citar as acusações similares de que o próprio ex-juiz é alvo. “Eu achei estranho a revelação dessa ‘brincadeira’ feita exatamente no momento em que Moro está sendo acusado de vendas de decisões por Tacla Duran”, afirmou.

Em depoimento em março de 2023 ao juiz Eduardo Appio, novo responsável pela Vara Federal de Curitiba, o advogado Rodrigo Tacla Duran, à época defensor da empreiteira Odebrecht, afirmou que sofreu tentativas de extorsão durante a Lava Jato em troca de “facilidades” para clientes, e que passou a ser “perseguido” por não compactuar com o que chamou de uma “prática comercial corriqueira” da força-tarefa.

O deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), ex-procurador da Lava Jato, foi às redes sociais responder às críticas do ministro sobre a atuação da força-tarefa. Deltan acusou Gilmar de votar “sistematicamente em favor da absolvição e anulação de sentenças de corruptos”.

“Gilmar Mendes nunca respeitou a liturgia do cargo, vedações da lei da magistratura, regras de suspeição, distanciamento dos réus nem compreendeu o papel do combate à corrupção para a preservação da democracia”, afirmou o ex-procurador.

“Enquanto procura falhas na Lava Jato, o ministro tenta coar agulhas, mas engole camelos, votando sistematicamente em favor da absolvição e anulação de sentenças de corruptos, contra os votos técnicos de ministros como Edson Fachin. O ministro destila um ódio que mostra o que há em seu coração. Sua mensagem é perversa e avessa ao que é justo, moral e ético. Suas palavras ilustram a inversão de valores que injuriam os brasileiros.”

Segundo o agora deputado, que atua no Congresso Nacional alinhado ao ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil-PR), antigo titular da Vara de Curitiba onde se concentraram os processos relativos à força-tarefa eleito senador, Gilmar Mendes “precisa explicar” muitas questões sobre sua própria atuação. “O senhor já ligou para redações pedindo a cabeça de jornalistas? Já ligou para universidades pedindo a cabeça de acadêmicos cujo trabalho lhe desagradou? Já ligou para políticos para fazer indicações? Ligou para ministros de outros tribunais para influenciar votos?”, escreveu Deltan, negando em seguida que “sua luta” seja contra o ministro.

A troca de acusações entre Gilmar Mendes, Deltan Dallagnol e Moro não é recente. O ministro manifestou restrições ao modus operandi da Lava Jato diversas vezes. A tensão cresceu nas últimas semanas, após a revelação de vídeo em que Moro acusava Gilmar Mendes de vender habeas corpus no STF para liberar réus. O episódio acabou gerando uma denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o ex-juiz por calúnia.