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General G. Dias é ouvido na CPI dos atos antidemocráticos

G. Dias, como é conhecido, foi exonerado do governo Lula em 19 de abril após a divulgação de imagens das câmeras de segurança internas do Palácio do Planalto

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22 de junho de 2023
Vinicius Palermo
General G. Dias é ouvido na CPI dos atos antidemocráticos
Ex-ministro do GSI Gonçalves Dias em depoimento.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antimodecráticos, instaurada na Câmara Distrital de Brasília, ouviu na quinta-feira, 22, o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Gonçalves Dias.

G. Dias, como é conhecido, foi exonerado do governo Lula em 19 de abril após a divulgação de imagens das câmeras de segurança internas do Palácio do Planalto durante os ataques golpistas do dia 8 de janeiro, em Brasília. O general e outros servidores do GSI são vistos indicando aos invasores a saída do prédio e, inclusive, dando água aos bolsonaristas.

Ele é ouvido na CPI em condição de testemunha. Em depoimento já prestado à Polícia Federal, G. Dias explicou que estava fazendo um gerenciamento de crise e negou responsabilidade sobre os atos.
O general argumentou que não tinha “condições materiais” de fazer as prisões sozinho e que, em sua avaliação, houve um “apagão” do sistema de inteligência. Ele também apontou “falta de informações para tomada de decisões”.

Na quinta-feira, 22, o general repetiu que não recebeu alertas sobre risco de ataques e que fez tudo que estava ao seu alcance. Ele contou ainda que um subordinado, que já trabalhava no GSI com seu antecessor no governo Bolsonaro, o general Augusto Heleno, tinha garantido que estava tudo normal naquele dia 8 de janeiro. “O general Carlos José Assunção Penteado me disse, por volta de 14h, que estava tudo normal, tudo tranquilo, mas ainda assim decidi ir ao Palácio”, afirmou.

Ele também disse que a antiga gestão não colaborou com a transição de governo. E negou que o GSI fora convidado para uma reunião, no dia 6 de janeiro, dois dias antes da atos golpistas. A reunião foi organizada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSPDF), então comandada pelo bolsonarista Anderson Torres.

G Dias afirmou não ter fraudado ou falsificado documentos entregues à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso Nacional. Documentos enviados em maio ao órgão apontavam que o general de Lula teria recebido 11 alertas da Abin via WhatsApp sobre os ataques golpistas. A informação havia sido retirada de uma primeira remessa dos documentos enviada durante a gestão de G Dias à mesma comissão e sobre o mesmo assunto.

“A CCAI solicitou ao GSI o que a Abin tinha produzido de informação. Esse documento passou para a Abin. A Abin respondeu com um compilado de mensagens de aplicativos. Esse documento tinha lá, ministro do GSI, mas eu não participei de nenhum grupo de WhatsApp. Eu não sou o difusor daquele compilado de mensagens Então o documento não condizia com a verdade”, disse.

A relatora da CPMI que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), informou que vai incluir no relatório final da comissão uma sugestão de notícia-crime contra o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques.

A senadora acredita que o ex-policial pode ter falsificado os dados sobre as operações da PRF no segundo turno das eleições presidenciais que ele apresentou à comissão na última sessão. “Aceitei pedido do PSOL que sugere ao Ministério Público a abertura de notícia-crime contra Silvinei Vasques por, supostamente, ter apresentado dados falsos em sua oitiva”, afirmou Eliziane.  

O pedido foi motivado por uma questão de ordem do deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ). Ele informou que a bancada do PSOL havia solicitado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo anterior os dados sobre as operações da PRF no dia 30 de outubro de 2022 na região Nordeste.

“Ele mentiu ou ele forjou dados de acordo com a reposta do próprio Ministério da Justiça. O número de operações na região Nordeste foi 50% a mais do que na região Sudeste”, destacou o parlamentar.  

Durante o depoimento na última terça-feira (20), Silvinei Vasques informou que foram montados 694 pontos de fiscalização no segundo turno das eleições de 2022.

“O Nordeste, juntamente com o Norte, foram os locais em que a polícia menos realizou fiscalização. Onde mais se fiscalizou foi no Sudeste; depois, no Sul, no Centro-Oeste, e o Nordeste, empatado com o Norte, ficou em quarta posição”, informou o ex-policial.  

Isso tudo porque existe a suspeita de que a PRF tentou dificultar o transporte de eleitores na região Nordeste, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva historicamente tem mais votos.