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Galípolo diz que reformas permitiram que taxas do Brasil descolassem das internacionais

Galípolo salientou que, mesmo antes de o BC iniciar o seu ciclo de corte de juros, foi possível identificar que a curva de juros futura apresentou expectativas de queda.

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09 de outubro de 2023
Vinicius Palermo
Galípolo diz que reformas permitiram que taxas do Brasil descolassem das internacionais
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse na segunda-feira, 9, que as decisões tomadas no início do ano, como a realização de reformas, permitiram que as taxas do Brasil descolassem das internacionais.

“O cenário no primeiro semestre, a gente assiste a uma descorrelação entre a evolução das taxas de juros de médio e longo prazo no Brasil e as taxas de juros internacionais, em especial as norte-americanas”, afirmou, em reunião do Conselho Empresarial de Economia da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

O ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda salientou que, mesmo antes de o Banco Central iniciar o seu ciclo de corte de juros, foi possível identificar que a curva de juros futura apresentou expectativas de queda.

Segundo ele, isso se deu por causa do ambiente de maior credibilidade, em função da apresentação – e depois aprovação – do arcabouço fiscal e da expectativa de uma maior eficiência do sistema tributário doméstico.

“Os senhores, mais do que ninguém, sabem que chamar o nosso sistema tributário de sistema é um elogio, pois ele não funciona como um sistema”, afirmou Galípolo. “Ele funciona de maneira caótica.” Por isso, de acordo com ele, melhorar o sistema aumentará a produtividade e deixará a indústria mais competitiva.

O diretor de Política Monetária do Banco Central disse também que a equipe econômica deve explicar para a sociedade os custos de cada decisão que toma e, por isso, a comunicação é um tema fundamental. “O Ministério da Fazenda e o BC vêm tentando ser menos herméticos”, afirmou.

De acordo com ele, o uso de jargões da área quase “interdita o debate econômico de maneira mais republicana e democrática”. “Todo debate deve ser feito à luz do sol”, disse, salientando que é preciso explicar para a sociedade as implicações de cada escolha tomada pelo governo e os trade-offs existentes para que a sociedade tenha clareza sobre o caminho que deseja tomar.

O diretor de Política Monetária do Banco Central salientou que a instituição deve ter “a devida humildade” no enfrentamento de um ambiente de incertezas e que por isso a comunicação da instituição empregou palavras como parcimônia e serenidade para falar com a sociedade.

“Com o caminho que se desenhou, a gente entende que o passo de corte de juros brasileiro, de 0,50 ponto porcentual, permite simultaneamente ajustar o nível de contração em que a política monetária se encontra e ir observando esses fenômenos domésticos e internacionais para entender e depurar o que está acontecendo na economia”, argumentou.

Segundo ele, as reações da economia não têm acontecido sempre da forma esperada pelos analistas. Galípolo citou o caso do mercado de trabalho, que apesar de aquecido, não vem se refletindo em pressões inflacionárias maiores. Este é um tema, segundo ele, que está sendo discutido no mundo como um todo, e não é uma jabuticaba brasileira.

O diretor também comentou que, apesar da mudança vista recentemente no mercado internacional, o comportamento da moeda brasileira está relacionado com o quadro externo, mas de acordo com seus pares, outros países emergentes.

“O Brasil conseguiu e consegue, apesar disso, seguir corte de juros no passo que foi anunciado pelo BC desde agosto, primeiro porque a inflação vem demonstrando um comportamento benigno, com surpresas positivas tanto do crescimento econômico quanto da inflação”, disse Galípolo. “Além disso, a inflação de serviços tem sido mais resiliente, mas historicamente esse grupo sempre roda acima dos outros preços”, continuou, dizendo que o tema vem sendo olhado com muito cuidado pelo BC.

O diretor de Política Monetária do Banco Central disse que as mudanças recentes no quadro econômico mundial têm feito com que boa parte das moedas de países emergentes percam valor. “Os países emergentes costumam pagar um diferencial de juros como um prêmio para atrair investimentos”, afirmou.

Segundo ele, num cenário de prêmio mais elevado nos EUA, o diferencial se estreita para os emergentes.
Conforme o diretor, o estreitamento leva esses países a ficarem com um espectro da política monetária mais restrito. “A gente tem um cenário internacional agora, no segundo semestre, mais desafiador e desafios novos têm surgido”, pontuou, citando a guerra deflagrada neste fim de semana em Israel.

O diretor de Política Monetária do Banco Central apontou ainda que as reservas internacionais proporcionam uma posição privilegiada ao Brasil em relação aos pares emergentes e que a busca por explicações domésticas para o enfrentamento de um quadro internacional mais adverso tem sido uma prática em vários países do mundo. Por isso, de acordo com ele, pode ser que exista “alguma coisa para além disso”.

Além da questão das reservas internacionais no montante de US$ 350 bilhões, que levou o País a ser um credor líquido internacional, outros pontos dão base para que o diretor siga otimista, conforme explicou.
O ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda comentou que o País está em combate contra um processo inflacionário e que é um quadro “vantajoso ou privilegiado” ante os pares.

“O Brasil foi um dos primeiros a conseguir iniciar seu ciclo de corte de juros”, justificou Galípolo. “O Brasil se enquadra nesse esforço de combate da última milha para poder reancorar completamente as expectativas e fazer a inflação voltar exatamente para o centro da meta”, completou ele.

Sobre a questão fiscal, Galípolo reforçou que a equipe econômica tem compromisso com reequilíbrio das contas públicas. Ele também enfatizou o fato de o País ter vantagens competitivas para protagonismo na transição ecológica.

“Percebemos que este é um tema que está colocado no globo todo”, comentou Galípolo, citando um projeto americano de transição e que foi comentado como algo que impõe maiores custos.
O diretor de Política Monetária do Banco Central disse ainda que a mudança no cenário global restringiu alternativas ao investidor que olha para o mundo de economias emergentes. “Muitas delas hoje se tornaram menos atrativas do que eram no passado”, comentou, durante a reunião do Conselho Empresarial de Economia da Firjan.

De acordo com ele, o Brasil compete com alguns desses países. É o caso do México, por exemplo, em relação ao ‘nearshoring’, prática de produzir perto de um mercado comprador, como é o americano.
O diretor também citou o friendshoring – de mercados amigáveis – como uma vantagem doméstica para fornecer para cadeias produtivas. “O Brasil pode e deve se colocar como um polo de atração de investimento até porque, do ponto de matriz energética e de sustentabilidade, reúne uma série de características que permite essa transição com um custo inferior”, argumentou.

Essa atração de investimentos para o Brasil, conforme Galípolo, aconteceria por meio de duas pernas. Uma é por meio do “diferencial de carry” e outra por meio de atração de investimentos físicos. Essas questões, de acordo com ele, passam muito pela volatilidade e o patamar do câmbio. “O mecanismo de transmissão para essa taxa de juros mais alta nos EUA se dá pelo câmbio”, disse.