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Galípolo diz que, com o tempo, vai ficar cada vez mais claro que existe coesão do Copom

Galípolo defendeu que o consenso é importante porque a chance de os nove membros do Copom errarem é menor do que de um diretor errar sozinho.

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25 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Galípolo diz que, com o tempo, vai ficar cada vez mais claro que existe coesão do Copom
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou na terça-feira que existe “coesão” entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom). Na avaliação dele, a unidade nas avaliações vai ficar mais clara à medida que o tempo passar.

“Com o tempo, vai ficar cada vez mais claro que existe essa coesão, que é própria de quem está submetido aos mesmos dados o tempo todo, debatendo e em um ambiente de muita honestidade intelectual”, disse o diretor, em um webinar da Warren Investimentos.

Galípolo defendeu que o consenso é importante porque a chance de os nove membros do Copom errarem é menor do que de um diretor errar sozinho. Mesmo assim, disse considerar importante que cada um dos membros vote de forma coerente com o que acredita, e que o consenso “não vire um escudo” para evitar críticas.

“Quando eu entrar numa reunião do Copom pensando que vou fazer isso ou aquilo com receio de tomar críticas de A ou de B, eu vou começar a empilhar decisões equivocadas e vou ter muita dificuldade”, disse Galípolo. “Ser criticado ou não ser criticado não é uma opção, a gente não controla isso. A única coisa que a gente controla é ter a coerência para poder ter paz de espírito e fazer aquilo que a gente realmente acredita.”

O diretor acrescentou que as reuniões do Copom se dão em ambiente tranquilo e que isso foi verdade mesmo no encontro de maio, quando houve uma divisão dos membros. Ele lembrou que a divergência entre um corte de 0,5 ou 0,25 ponto porcentual ocorreu no intervalo de confiança dos modelos.

Galípolo ainda acrescentou que, embora tivesse votado por um corte de 0,5 ponto porcentual na Selic em maio, defendeu os méritos dos diretores que votaram por um corte menor, de 0,25 ponto. Também fez um elogio à equipe técnica do BC e ao diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, dizendo que os dados compilados por eles dão “muita segurança” na hora de definir os juros.

O diretor de Política Monetária do Banco Central disse também que o próximo Relatório Trimestral de Inflação (RTI) trará um estudo sobre o hiato de câmbio. O documento será divulgado na quinta-feira, 27.
“Vocês vão gostar bastante, elogiei privadamente a equipe do Diogo Guillen, diretor de Política Econômica e o próprio Diogo”, disse Galípolo.

Indagado sobre o impacto do carry trade na taxa de câmbio, Galípolo se limitou a repetir que esse fator não tem relação mecânica com a política monetária.

“Nós não temos uma meta de diferencial de juros, não temos uma meta de câmbio”, afirmou o diretor. “Eu acho que é muito cedo para a gente fazer qualquer tipo de sinalização e reafirmo a ausência de qualquer tipo de relação mecânica, seja da taxa de juros internacional ou da taxa de câmbio, com a nossa taxa de juros.”

Ele reconheceu, no entanto, que juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos, somados a um esforço do Tesouro norte-americano para rolar a dívida e à atração de investimentos pelas bolsas americanas, costuma ser mais adverso para países emergentes.

Galípolo afirmou ainda que o comitê usou a palavra interrupção para posicionar o colegiado em relação ao ciclo de juros para deixar o cenário aberto, sem fixar uma guidance. Ele afirmou que se ateria o máximo possível à comunicação oficial, com o que saiu no comunicado ou ata, porque qualquer fala dissonante seria interpretada como um deslize e tanto ata quanto comunicado representavam plenamente o que estava em sua cabeça.

“A palavra que usamos é interrupção, mas claramente não queremos fazer nenhum guidance a frente. Usamos a palavra interrupção, mas vamos deixar aberto para ver como as coisas vão se desdobrar”, disse Galípolo, ao ser questionado se o ciclo de corte de juros havia sido interrompido ou encerrado.

Galípolo afirmou que desde o Copom de maio, em que houve a divisão do colegiado, ele vinha afirmando que o tempo jogaria a favor do BC e que não havia divergências sobre o diagnóstico de cenário.

“A ata é uma reafirmação e corroboração nesse sentido da coesão que temos aqui dentro, do que está acontecendo no BC”, disse Galípolo.

O diretor de Política Monetária do Banco Central ainda afirmou que a desancoragem ou reancoragem parcial das expectativas era um ponto que já trazia incômodo em reuniões anteriores do Copom. “Passamos, no último ciclo, a dar mais ênfase à desancoragem das expectativas”, disse.

Ele explicou que a desancoragem das expectativas não é o único elemento que fundamenta a interrupção do ciclo de corte de juros “Tivemos uma mudança bastante acentuada no cenário de câmbio, do ponto de vista de inflação implícita, de taxa de juros longa, de demonstração de economia com dinamismo mais resiliente. Todos esses elementos juntos fundamentaram isso” comentou.

O diretor entende que cabe ao BC, e que a autoridade monetária vem fazendo isso, reafirmar o que é o arcabouço legal e institucional da política monetária no País. “Cabe ao poder democraticamente eleito, estabelecer meta de inflação para a autoridade monetária, que é o Banco Central. Cabe ao BC colocar a taxa de juros num patamar restritivo pelo tempo suficiente para atingir meta. É disso que se trata”, disse.

Ele reiterou que na política monetária, nada vai ser usado como pretexto para se esquivar de perseguir a meta. Galípolo avaliou que o relatório Focus é uma ferramenta “ultra relevante” para guiar a política monetária, e que o BC, em sua institucionalidade, sabe consumir a pesquisa e avaliar eventuais dissonâncias.

O diretor de Política Monetária do Banco Centra afirmou ainda que a autoridade monetária não tem de discutir a meta de inflação, atualmente fixada em 3% ao ano. “Tem quem faz a lei e tem quem cumpre a lei”, reiterou, sobre os papéis do Executivo e BC.

E pontuou: “A pergunta para mim é: se as coisas piorarem, o Banco Central vai agir? Sim, com certeza. E se as coisas melhorarem, o Banco Central vai reagir? Sim, também. Deixar as coisas em aberto já é uma linha que determina isso.”

Ele reiterou que, se o ambiente demandar a manutenção dos juros, eles serão mantidos. Caso a exigência seja por elevação dos juros, eles serão elevados. Por fim, se houver necessidade de corte de juros, eles serão reduzidos.