Estados
Cooperação econômica

G20 reúne no Rio chanceleres de EUA e Rússia

A reunião discute a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza, e entre a Rússia e a Ucrânia, no Leste Europeu.

Compartilhe:
21 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
G20 reúne no Rio chanceleres de EUA e Rússia

O encontro de ministros das Relações Exteriores do G20 reuniu autoridades de 28 países e 15 organizações internacionais, entre elas a União Africana e a União Europeia, no Rio. Eles chegaram à Marina da Glória sob forte esquema de segurança, com batedores da Polícia Rodoviária Federal e sobrevoo de helicópteros.

A reunião discute a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza, e entre a Rússia e a Ucrânia, no Leste Europeu. Por causa da divisão que marca as controvérsias as entre potências, o governo brasileiro busca formas de concentrar as discussões na realização da Cúpula de Líderes, a ser realizada em novembro.

Nesse sentido, o Itamaraty quer evitar impasses e desistiu de tentar elaborar uma declaração consensual subscrita pelos ministros e representantes dos países.

O encontro de dois dias terá enviados das principais potências do mundo, mas nem todos os chanceleres vieram. Quatro países não enviaram chanceleres: China, Índia, Itália e Austrália.

Dos cinco membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, somente a China decidiu enviar um representante de menor escalão Wang Yi, chanceler chinês, visitou o Brasil em janeiro. Estados Unidos, Rússia, Reino Unido e França despacharam ao Rio seus ministros de Relações Exteriores.

A Índia, última organizadora do G20 em 2023, também não enviou o ministro Subrahmanyam Jaishankar, que tem compromissos políticos no país. China e Índia são, respectivamente, segunda e quinta maior economia do mundo, e somam as maiores populações, com ligeira vantagem dos indianos, mas ambos na casa de 1,4 bilhão de habitantes cada.

Os chanceleres da Itália, Antonio Tajani, e da Austrália, Penny Wong, não vieram ao Rio – no caso da australiana, por razões de saúde de sua mãe.

Dos países convidados, a organização não divulgou representantes do Uruguai e dos Emirados Árabes Unidos. Os uruguaios, no entanto, enviaram uma delegação ao Rio.

O encontro de chanceleres é a primeira grande reunião do principal fórum de cooperação econômica e financeira do mundo, com representação das maiores e mais industrializadas economias. Segundo a organização, atualmente o G-20 representa 85% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, mais de 75% do comércio mundial e cerca de dois terços da população mundial.

Na tarde de quarta-feira, dia 21, os ministros compartilharam visões sobre a conjuntura global, e na manhã de quinta-feira, dia 22, vão discutir a reforma das instituições de governança global, sobretudo as Nações Unidas e o Conselho de Segurança e instituições financeiras, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O tema é uma das prioridades estabelecidas pelo Brasil, ao lado do combate à fome e à pobreza, transição energética, mudança do clima e desenvolvimento sustentável.

O encontro foi presidido e aberto pelo ministro Mauro Viera. O chanceler disse que é inaceitável a paralisia do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) diante do número recorde de conflitos no mundo, que ele estimou em mais de 170. 

“As instituições multilaterais não estão devidamente equipadas para lidar com os desafios atuais, como demonstrado pela inaceitável paralisia do Conselho de Segurança em relação aos conflitos em curso. Esse estado de inação implica diretamente perdas de vidas inocentes. O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar. Uma parcela muito significativa do mundo fez uma opção pela paz e não aceita ser envolvida em conflitos impulsionados por nações estrangeiras. O Brasil rejeita a busca de hegemonias, antigas ou novas. Não é do nosso interesse viver em um mundo fraturado”, disse o ministro.

Mauro Vieira também criticou o volume de gastos militares atuais, em detrimento dos investimentos em desenvolvimento social e meio ambiente.

“Não é minimamente razoável que o mundo ultrapasse – e muito – a marca de US$ 2 trilhões em gastos militares a cada ano. A título de comparação, os programas de ajuda da Assistência Oficial ao Desenvolvimento permanecem estagnados em torno de US$ 60 bilhões por ano – menos de 3% dos gastos militares.” 

Segundo o chanceler, os desembolsos para combater mudanças climáticas, sob o amparo do Acordo de Paris, mal conseguem alcançar os compromissos de US$ 100 bilhões por ano, portanto menos de 5% dos gastos militares.

“Se a desigualdade e mudanças climáticas de fato constituem ameaças existenciais, não consigo evitar a sensação de que nos faltam ações concretas sobre tais questões”, disse.

Como deixou claro no discurso de abertura, o Brasil pretende priorizar questões sociais durante a presidência do G20, que vai até o dia 30 de novembro de 2024, o que incluiu o combate à fome no mundo.

“Gostaria de fazer um apelo a todos vocês para que prestem especial atenção e deem apoio às discussões em curso com o objetivo de lançar uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma prioridade-chave de nossa presidência no G20. Meu país gostaria de contar com o apoio de todos os membros, países convidados e organizações internacionais para que, na Cúpula de Líderes do Rio de Janeiro, em novembro próximo, as vinte maiores economias do mundo possam anunciar uma contribuição efetiva para erradicar a fome no mundo”, disse o ministro.