Funcionários da Americanas e integrantes de sindicatos de empregados do comércio protestaram na manhã de sexta-feira, 3, em frente a uma loja da empresa na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro.
O endereço é simbólico: a loja escolhida pertenceu à varejista Mesbla, falida na virada dos anos 2000. O ato antecedeu uma reunião entre lideranças sindicais e representantes da diretoria da Americanas marcada para o meio-dia, também no centro da cidade.
Os manifestantes pedem esclarecimentos sobre a situação da empresa e a recuperação judicial que a empresa monta, após a revelação de rombo contábil da ordem de R$ 20 bilhões e a comunicação de uma dívida total reconhecida de R$ 47,9 bilhões.
Além de bandeiras de centrais sindicais, havia faixas, com inscrições sobre a preservação de empregos e direitos dos trabalhadores da Americanas. Houve gritos de “Vergonha, vergonha, Americanas sem vergonha” e queixas sobre falta de clareza e diálogo da direção da empresa com relação aos funcionários.
Pouco antes das 10 horas, um grupo com cerca de 200 manifestantes marchou da Rua André Cavalcanti, na Lapa, até a loja da Americanas que fica próxima à Praça da Cinelândia. O espaço abrigava uma unidade da Mesbla que, ao falir, inaugurou longo e massivo litígio trabalhista. No local mais uma centena de manifestantes aguardavam o grupo.
Manutenção de empregos na Americanas
Segundo o presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Márcio Ayer, o objetivo é chamar a atenção da sociedade para a importância da manutenção dos empregos e a necessidade de proteção dos trabalhadores antes mesmo da quitação de dívidas com credores, conforme prega a legislação.
“São mais de 44 mil empregos diretos e, somando os indiretos, mais de 100 mil postos de trabalho. Caso seja comprovada a fraude, queremos a punição dos controladores e principais acionistas e a proteção dos funcionários”, diz Ayer.
Ele acrescenta que já existe uma Ação Civil Pública (ACP) protocolada na Justiça Federal reivindicando o bloqueio dos bens da empresa para pagamento e proteção dos funcionários da Americanas.
“Vamos brigar pela manutenção de todos os empregos. Há um clima de incerteza e insegurança sobre o futuro, porque a empresa já começou a rescindir contratos com terceirizados. Isso claramente prejudica uma cadeia de empregos muito grande”, diz Ayer.
Reunião com representantes
Ele participa da reunião com representantes de Americanas, acompanhado de uma funcionária da empresa que é diretora sindical e lideranças de quatro centrais sindicais: UGT, CUT, CTB e Força Sindical.
A Americanas monta uma proposta de Recuperação Judicial que lhe permita arcar com dívidas de R$ 43 bilhões declaradas à Justiça.
O processo é capaz de evitar a falência, desde que seja acordado com credores. Pela lei, o mecanismo da recuperação judicial estipula uma ordem de prioridade para os pagamentos, com os funcionários à frente dos credores.
No entanto, muitas dessas empresas credoras, fornecedores e sobretudo bancos, fazem uma blitz na Justiça para bloquear valores da empresa ou acionistas de referência e garantir a antecipação de pagamentos.
Fortunas de acionistas
Algumas ações têm como alvo as fortunas dos maiores acionistas da empresa, os multibilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, que reduziram participação acionária anos antes do escândalo.
O aval da Justiça à Recuperação Judicial veio em 19 de janeiro, após pedido da varejista, que era dado como certo por analistas e agentes de mercado. A crise começara pouco mais de uma semana antes, em 11 de janeiro, quando o então presidente da empresa, Sergio Rial, renunciou ao cargo e revelou que a varejista mascarou, por anos, dívidas equivalentes a R$ 20 bilhões em seu balanço. Oficialmente, Rial estava no cargo somente há nove dias.
O escândalo contábil fez derreter o valor de mercado da empresa e inaugurou uma guerra judicial entre a varejista e seus maiores credores, como o banco BTG, um dos mais atuantes. Os maiores bancos do País, como Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil, Caixa e Safra também figuram nessa lista de credores.
Essas instituições financeiras concediam os empréstimos capazes de fazer o negócio girar sob a prática de “risco sacado”, quando a empresa ou seus fornecedores recorrem a bancos para adiantar pagamentos e dar continuidade à operação. Quando os fatos vieram à público, credores começaram acionar cláusulas de antecipação de pagamento dos empréstimos, rebatido com um pedido de blindagem dos ativos e recursos da empresa, numa alternância de decisões que tem dado o tom da disputa.