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Nova estratégia

Forças de segurança intensificarão abordagens em Copacabana

Uma das medidas anunciadas pelo governo do estado foi um corredor de segurança, com a distribuição de viaturas baseadas ao longo da Avenida Nossa Senhora de Copacabana

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07 de dezembro de 2023
Vinicius Palermo
Forças de segurança intensificarão abordagens em Copacabana
As forças de segurança terão reforço para atuar no bairro de Copacabana.

As forças de segurança do Rio de Janeiro irão intensificar as abordagens e melhorar a distribuição do policiamento nas ruas, após casos de violência em Copacabana, na zona sul da cidade. Na quinta-feira (7), representantes das forças de segurança do estado reuniram-se para traçar estratégias para coibir atos de violência na cidade. As ações começam a ser implementadas ainda nesta quinta e seguem no final de semana.

Uma das medidas anunciadas pelo governo do estado foi um corredor de segurança, com a distribuição de viaturas baseadas ao longo da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais do bairro, das 18h às 23h. Em seguida, o corredor será reposicionado ao longo da Avenida Atlântica, que se estende pela beira-mar do bairro mais turístico da cidade.

“A gente sabe que nos últimos dias alguns acontecimentos têm tirado a tranquilidade da população e iremos, aqui, com o compromisso de buscar a tranquilidade, mostrar à população, para que se tenha uma sensação melhor de segurança”, disse o secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, Victor César dos Santos. 

Estavam presentes representantes tanto da Polícia Civil, quanto da Polícia Militar e da Operação Segurança Presente – vinculada ao governo e formada por policiais militares, agentes civis e assistentes sociais.

Segundo a Polícia Civil, o que há é uma sensação de insegurança em Copacabana maior do que a insegurança real em si. De acordo com os policiais, os números mostram que o bairro teve o menor índice de roubos e furtos registrados em novembro.

Neste final de semana, um idoso foi agredido e roubado na Avenida Nossa Senhora de Copacabana após tentar ajudar uma moça que estava sendo abordada pelos criminosos. A Polícia Civil informou que identificou outras duas pessoas que participaram do assalto na manhã de quinta. O homem que atacou o idoso com um soco já havia sido identificado na quarta-feira (6).

Declarando-se insatisfeitos com os episódios de assaltos violentos em seu bairro, grupos de moradores de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, resolveram fazer justiça com as próprias mãos e se unir contra os criminosos. Por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens, passaram a convocar outras pessoas a reagirem aos roubos na área turística carioca e a se vingarem de suspeitos desses crimes. 

Vídeos e mensagens veiculados pela imprensa carioca mostram pessoas incitando a agressão contra os assaltantes.

Sobre esses casos, a Polícia Civil disse que está trabalhando com o setor de inteligência para identificar as pessoas envolvidas. Foram feitos dois registros de ocorrência sobre o caso e uma vítima foi encontrada, ouvida e levada para fazer exame de corpo de delito. 

O governo ressaltou que esses crimes não serão tolerados e que a população precisa confiar nas leis, polícias, Ministério Público e Poder Judiciário, que são as instituições que devem agir quando esses crimes acontecem.  

A coordenadora do Grupo de Estudos de Novas Ilegalidades da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), Carolina Grillo, ressalta que fazer justiça com as próprias mãos é crime e uma ameaça ao Estado Democrático de Direito. 

“O fundamento do Estado Democrático de Direito é que o monopólio da violência legítima seja sempre do Estado. Só quem é autorizado a fazer uso da força para o cumprimento da lei é o Estado, mediante suas instituições competentes, as forças policiais a guarda municipal. Quando você tem cidadãos comuns querendo fazer justiça com as próprias mãos, eles estão privatizando o uso da violência”, afirma a pesquisadora. 

Segundo ela, esse não é um fenômeno novo no Brasil. O ato de fazer justiça com as próprias mãos, ou seja, de resolver crimes de uma forma que seja à margem da lei, é encontrado, por exemplo, em áreas dominadas pelo tráfico de drogas ou pela milícia. Nas zonas rurais, há fazendeiros que têm seu próprio exército de capangas.

Mesmo a ação de grupos de moradores justiceiros não é inédita. Em 2014, um adolescente de 15 anos foi preso nu em um poste no Aterro do Flamengo, na zona sul da cidade.

“Essa é uma ação bárbara, que não se submete ao império da lei. A gente já tem um problema crônico com isso no Brasil, onde o monopólio da violência legítima nunca conseguiu se efetivar. Não podemos fazer vista grossa para esse tipo de atitude, porque isso é um risco para democracia, um risco para o Estado de Direito”, destaca Carolina.

Pesquisador do Laboratório de Análise da Violência, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV/Uerj), o coronel reformado da Polícia Militar Robson Rodrigues explica que a noção de fazer justiça com as próprias mãos é reflexo de uma mistura do medo da população em relação às notícias de violência e à ideia popular de que o Estado é incapaz de resolver o problema da criminalidade.

“O medo é justo. A reação é que é perigosa. Existe um risco de aumentar ainda mais a violência. E também de abrir a oportunidade para que o mercado de segurança clandestina privada se amplie. Grupos clandestinos milicianos podem se aproveitar desse medo difuso”, afirma Rodrigues. 

Outro risco é a vitimização de pessoas inocentes por esses grupos ilegais de “justiceiros”, principalmente de jovens negros e pobres. “É evidente que as populações que acabam sendo alvos da ação desses justiceiros são jovens negros pobres. Os critérios de seleção das pessoas que serão submetidas a esse tipo de prática acabam sendo racistas e classistas. Isso é claro que agrava ainda mais um problema crônico no Brasil, que é o racismo”, ressalta a pesquisadora.

Para ela, é preciso pensar em como melhorar a atuação das instituições de segurança pública, de forma que a população possa compreender que é possível acreditar que os crimes podem e devem ser resolvidos pelo Estado. Além disso, é preciso que a sociedade entenda que os conflitos não devem ser resolvidos por meio da privatização do uso da força.