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FMI diz que perspectivas de crescimento seguem fracas

Na avaliação do staff do FMI, o processo de desinflação no G20 até agora ocorre sem detonar uma recessão, enquanto as economias emergentes têm demonstrado “melhorada resiliência”.

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26 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
FMI diz que perspectivas de crescimento seguem fracas
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva

A economia global “parece a caminho de um pouso suave”, avalia o Fundo Monetário Internacional (FMI), “mas a atividade e as perspectivas de crescimento permanecem fracas”. A constatação está em relatório de monitoramento produzido pelo staff do Fundo e publicado na segunda-feira, 26, por ocasião do encontro de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20 em São Paulo, nesta semana.

Na avaliação do staff do FMI, o processo de desinflação no G20 até agora ocorre sem detonar uma recessão, enquanto as economias emergentes têm demonstrado “melhorada resiliência”. Neste ano, a política monetária deve “relaxar um pouco”, enquanto as perspectivas de crescimento no médio prazo seguem contidas, o que reflete tendências seculares e desafios, entre eles o crescimento fraco da produtividade, o envelhecimento, fragmentação geoeconômica e vulnerabilidades globais.

O FMI considera que a sustentabilidade fiscal “tem sido testada”, com as condições de financiamento dos governos se mantendo em quadro “desafiador” no médio prazo, em meio a “elevados e crescentes” níveis de dívida pública.

Por outro lado, com a recuperação econômica mostrando maior vigor, os riscos à perspectiva “estão mais equilibrados”.

Entre os riscos de alta, o crescimento global poderia superar a previsão caso o ritmo da desinflação seja mais rápido que o antecipado, permitindo relaxamento monetário mais rápido, ou se a consolidação fiscal fosse mais gradual que o em princípio apontado.

Como riscos de baixa, o Fundo menciona saltos adicionais nos preços de commodities, a persistência da força do mercado de trabalho e tensões renovadas em cadeias globais, que puxariam para cima pressões inflacionárias.

Caso induzido por estresse na dívida, o aperto fiscal seria mais rápido que o almejado por acontecimentos cíclicos e minaria o crescimento. Já mudanças à perspectivas na China, “positivas ou negativas”, seriam uma fonte de risco global, destaca o FMI.

No médio prazo, as perspectivas de crescimento fraco, bem como o risco de maior recorrência de protecionismo, teriam uma ameaça maior representada pela fragmentação geoeconômica, o que já inibe a integração comercial e financeira, diz o staff do Fundo.

O documento também menciona que vulnerabilidades climáticas pesam nas perspectivas de médio prazo do crescimento global, com impacto desproporcional na África. “Mesmo que o ritmo da globalização tenha desacelerado, permanecem as oportunidades de crescimento, entre elas do comércio e dos serviços digitais e da inteligência artificial (IA) – caso aproveitadas de modo adequado”, acredita.

Uma combinação apropriada de política fiscal e monetária seria crucial para se chegar a um quadro de estabilidade de dívida, nos preços e financeira, afirma o Fundo. A política monetária precisa garantir a estabilidade de preços e estar pronta a mudar para uma postura mais neutra, onde a inflação retorna à meta e o crescimento possa diminuir. Ao mesmo tempo, os esforços de consolidação fiscal, usando um mix apropriado de medidas de receita e de gasto, não deveriam ser retardados, mas sim mantidos em ritmo que buscasse um equilíbrio correto entre estabilização da dívida e apoio ao crescimento inclusivo.

No médio prazo, reformas orientadas e cuidadosas podem ajudar a impulsionar a produtividade, menciona o staff do Fundo. O documento diz que as autoridades do G20 devem reforçar esforços para mitigar a ameaça da mudança climática e apoiar a transição climática, a fim de ajudar a liberar o crescimento potencial da África.

Também pede cooperação para lidar com a fragmentação, notadamente para evitar políticas comerciais que distorcem o quadro, além de fortalecer o sistema monetário internacional. “O G20 tem um papel central para garantir que os benefícios da IA sejam totalmente explorados, enquanto os riscos são minimizados”, acrescenta.

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, pede aos integrantes do G20 “ousadia” para melhorar as perspectivas de crescimento no médio prazo, com vistas e um futuro “mais equitativo, próspero, sustentável e cooperativo”. A declaração está em discurso da autoridade na segunda-feira, 26, por ocasião da cúpula de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, realizada nesta semana em São Paulo.

Georgieva nota que a reunião das autoridades ocorrerá no Pavilhão da Bienal, na cidade brasileira, “desenhado pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer”.

As “linhas fluidas e a fachada impressionante” do prédio de Niemeyer são citadas como “um monumento à ousadia do Brasil moderno”. E a diretora-gerente do FMI diz que gostaria que o G20 “se inspirasse nesse marco e também agisse com ousadia”.

Ela recorda que houve melhora recente nas perspectivas de crescimento de curto prazo, o que daria aos líderes do grupo uma oportunidade de retomar impulso político por propostas para o futuro.

O FMI projeta que o mundo crescerá 3,1% neste ano, com inflação em queda e o mercado de trabalho se sustentando.

Segundo ela, algumas tendências atuais, como o uso de inteligência artificial (IA), podem impulsionar a produtividade e melhorar as perspectivas de crescimento. “Nós precisamos muito disso – nossas projeções de crescimento de médio prazo têm recuado a mínimas em décadas”, afirmou.

Georgieva diz que o crescimento baixo afeta a todos, “mas têm implicações particularmente perturbadoras para os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento”.

Ela também menciona a fragmentação geoeconômica, que tem crescido, o que afeta o comércio e os fluxos de capital. Além disso, os riscos climáticos aumentam e já afetam o desempenho econômico, da produtividade agrícola à confiabilidade do transporte e à disponibilidade e ao custo de seguros, lista.

“Esses riscos podem frear regiões com o maior potencial demográfico, como a África Subsaariana.”
A diretora-gerente do FMI ainda destaca em sua fala a agenda do Brasil no comando do G20. Segundo ela, essa agenda traz itens cruciais, como inclusão, sustentabilidade e governança global, “com uma bem-vinda ênfase em erradicar a pobreza e a fome”. Ela disse que o FMI “trabalha para apoiar essa agenda ambiciosa”.

Com a inflação perdendo fôlego e economias mais bem posicionadas para absorver uma postura fiscal mais apertada, “chegou o momento de um foco renovado em reconstruir colchões contra choques futuros”, recomenda Georgieva. Ela pede que se contenha o aumento da dívida pública e se crie espaço para novas prioridades de gastos. “A espera pode forçar um ajuste doloroso mais adiante”, adverte. “Mas, para os benefícios serem duradouros, o aperto deve ocorrer em um ritmo cuidadosamente calibrado”, acrescenta.

Georgieva pede um foco na cooperação, para lidar com a fragmentação geoeconômica e revigorar o comércio, maximizar o potencial da IA sem elevar a desigualdade, evitar gargalos em dívida e responder a mudanças climáticas.