Economia
Aperto prolongado

Fitch vê resiliência na economia global e melhora projeções para PIB

A Fitch Ratings melhorou as previsões para o crescimento da economia mundial este ano e no próximo, em meio aos sinais de resiliência nos Estados Unidos.

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08 de dezembro de 2023
Vinicius Palermo
Fitch vê resiliência na economia global e melhora projeções para PIB
A Fitch reduziu a projeção para o avanço do PIB global em 2025, de 2,8% para 2,5%.

A Fitch Ratings melhorou as previsões para o crescimento da economia mundial este ano e no próximo, em meio aos sinais de resiliência nos Estados Unidos. A agência, no entanto, ainda espera uma considerável desaceleração à frente, diante dos efeitos do aperto monetário e os riscos associados à crise de liquidez no mercado imobiliário chinês.

Na edição mais recente do relatório de perspectivas globais, a instituição projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) do planeta crescerá 2,9% em 2023, ou 0,4 ponto porcentual acima da estimativa anterior, de setembro.

A expectativa para a expansão em 2024 também foi elevada, de 1,9% para 2,1%. Por outro lado, a Fitch reduziu a projeção para o avanço do PIB global em 2025, de 2,8% para 2,5%.

“Um impacto mais prolongado do aperto monetário aponta para uma desaceleração mais lenta em 2024, mas também uma recuperação subsequente mais fraca”, explica a agência.

A Fitch Ratings melhorou as previsões para o desempenho da economia dos Estados Unidos e abandonou a expectativa anterior por recessão em 2024, em quadro fiscal ainda favorável que amplifica os efeitos de um consumo resiliente.

A instituição agora projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano crescerá 2,4% este ano e 1,2% no próximo, de acordo com a mais recente edição do seu relatório de perspectivas globais.

No documento anterior, em setembro, a expectativa era por um avanço de 2,0% em 2023 e de 0,3% em 2024. Para 2025, a estimativa é de uma alta de 1,4%.

A agência atribui parte do movimento positivo ao significativo relaxamento fiscal, com forte aumento dos gastos do governo com bens e serviços. O recuo das poupanças é outro fator que apoia o crescimento, de acordo com a análise.

No entanto, a Fitch vê sinais de desaceleração do crédito e dos lucros. “Um crescimento mais lento dos salários nominais e do emprego reduzirão o avanço renda das famílias e o serviço da dívida do consumidor aumentará materialmente em 2024”, avalia.

A agência acredita que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ainda subirá os juros em janeiro de 2024, antes de cortá-los a partir de julho. De qualquer forma, a Fitch está mais otimista quanto ao ano que vem, mas ainda vê o que classificou como uma recessão “rasa” em 2025.

Após crescimento exíguo em 2023, a Fitch Ratings espera que as principais economias da Europa enfrentem um quadro de recessão já a partir do quarto trimestre deste ano, sob o efeito defasado da agressiva campanha de aperto monetário conduzida pelos bancos centrais da região.

A agência prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro crescerá 0,5% em 2023, conforme a mais recente edição do relatório de perspectivas globais. A estimativa é 0,1 ponto porcentual menor que a anterior, divulgada em setembro.

A expectativa para o avanço em 2024 foi reduzida de maneira ainda mais forte, de 1,1% para 0,7%. Para 2025, a instituição espera alta de 1,7%.

A Fitch acredita que o Banco Central Europeu (BCE) começará a cortar juros em abril de 2024, com diminuição acumulado de 75 pontos-base até o final do ano.

No Reino Unido, a agência elevou a projeção para a expansão do PIB em 2023 (de 0,2% para 0,5%), mas diminuiu a de 2024 (de 0,7% para 0,3%), enquanto a de 2025 foi mantida em 1,8%. Para a Fitch, o Banco da Inglaterra (BoE) só relaxará a política monetária em agosto.

A agência de classificação de risco reduziu também a previsão de crescimento do PIB do Brasil em 2023 para 3,0%, de 3,2% na estimativa anterior, divulgada em setembro. Para 2024, no entanto, a projeção aumentou, passando de 1,3% para 1,5%. Já para 2025, a taxa de expansão esperada permaneceu em 2,1%.

Segundo a Fitch, a economia do Brasil perdeu fôlego recentemente por causa do nível ainda elevado da taxa básica de juros, a Selic, e com o fim da colheita de uma safra abundante neste ano.

A atividade, no entanto, seguiu amparada pelo consumo, diante de um mercado de trabalho forte, da recuperação dos salários e dos estímulos vindos dos gastos públicos.

“O investimento foi o ponto fraco, e a Fitch prevê que ele encolherá 3,4% em 2023”, disse a agência em relatório.

No ano que vem, o crescimento do Brasil deve desacelerar por causa da normalização da produção agrícola, mas seguirá favorecido pela demanda doméstica.

“O consumo deve continuar apoiado no mercado de trabalho, e a política monetária menos restritiva pode equilibrar o impacto vindo de um aperto fiscal moderado”, disse a Fitch.

A agência de classificação de risco estima que o Banco Central anunciará na semana que vem mais um corte de 0,50 ponto porcentual (50 pontos-base – pb) na Selic, a 11,75% ao ano, e espera uma redução da taxa básica de juros a 9,0% até o final de 2024.

“Mas o Banco Central pode adotar uma postura mais cautelosa se a crescente incerteza no cenário fiscal ou nos acontecimentos globais pressionarem as expectativas de inflação”, pondera a Fitch.

A classificadora avalia também que, embora a inflação brasileira em 12 meses tenha acelerado de 3,2% em junho para 4,7% em outubro, o aumento foi reflexo principalmente da base de comparação baixa no ano passado, quando houve corte nos impostos sobre combustíveis.

“As leituras sequenciais recentes indicam pouca inércia, e o núcleo da inflação, líquido dos efeitos de preços nos combustíveis, continuou a cair, para 4,3% ao ano. A inflação de serviços se mostra um pouco mais resistente”, disse a Fitch, que passou a esperar inflação de 4,5% este ano, de 4,9% na previsão anterior. Para 2024, a estimativa seguiu em 4,0%.