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Fed não deve cortar juro antes de ter maior confiança na inflação

O argumento aparece no relatório semestral de política monetária, entregue ao Congresso dos Estados Unidos e divulgado na sexta-feira, 5.

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06 de julho de 2024
Vinicius Palermo
Fed não deve cortar juro antes de ter maior confiança na inflação
O presidente do Fed de Nova York, John Williams

O Federal Reserve (Fed) reforçou que não deve ser apropriado cortar juros até que haja maior confiança de que a inflação caminha de volta à meta de 2%. O argumento aparece no relatório semestral de política monetária, entregue ao Congresso dos Estados Unidos e divulgado na sexta-feira, 5.

No documento, o Fed repete avaliações que costuma apresentar em comunicações recentes. A instituição reitera que a inflação americana arrefeceu de maneira significativa e mostrou “maior progresso modesto” este ano, mas permanece acima da meta de 2%. Também comenta que o mercado de trabalho está relativamente apertado, embora não superaquecido. “Os ganhos de emprego têm sido fortes e o taxa de desemprego ainda é baixa”, diz.

O Fed alertou que as “valuations” subiram a níveis elevados relativamente aos fundamentos entre várias classes de ativos nos Estados Unidos. No relatório semestral de política monetária, divulgado na sexta-feira, 5, a autoridade monetária lembra que os preços de ações avançaram de maneira mais rápida que a expectativa de lucros das empresas. A instituição avisa também que as condições no mercado imobiliário comercial se deterioram, com preços de transações baixos como resultado da demanda enfraquecida.
Apesar disso, o Fed garante que o sistema financeiro permanece “seguro e resiliente”. Os balanços de empresas não financeiras e das famílias ainda está “forte”, de acordo com o relatório.

O banco central americano acrescenta que o funcionamento do mercado de Treasuries continua ordeiro, ainda que a liquidez esteja baixa na comparação com o período anterior à pandemia. O Fed reitera que segue “altamente atento” aos riscos de inflação.

A autoridade monetária destaca que a dependência de alguns bancos por depósitos sem seguro permanece alta. “Mesmo assim, a liquidez na maioria dos bancos nacionais permaneceu ampla, com dependência limitada ao financiamento de curto prazo por atacado”, pontua.

O presidente do Fed de Nova York, John Williams, afirmou que houve progresso “significativo” na tarefa da instituição de colocar a inflação na meta de 2% nos Estados Unidos, embora tenha acrescentado que “ainda há um caminho pela frente” até concretizar esse objetivo. Durante discurso em evento do Banco Central da Índia, em Mumbai, ele destacou as incertezas sempre presentes para o trabalho da política monetária, a considerou que o momento atual não destoa, com várias incertezas, o que reforça a necessidade de avaliar todos os dados disponíveis para a tomada de decisões.

Com direito a voto nas decisões de política monetária, Williams afirmou que a inflação nos EUA “está agora em cerca de 2,5%, portanto temos visto progresso significativo para baixá-la”. Mas acrescentou que “ainda temos caminho pela frente até atingir nossa meta de 2% em uma base sustentável”, dizendo que “estamos comprometidos para cumprir a tarefa”.

Williams também destacou a importância de expectativas de inflação bem ancoradas, um dos pilares da atuação moderna dos bancos centrais. Segundo ele, é agora evidente que nos anos 1960 e 1970 as expectativas de inflação no curto e no longo prazo estiveram desancoradas, subindo junto com a inflação. “Isso tornou ainda mais difícil para os formuladores da política manter preços estáveis, em meio aos choques daquele período.”

Os dirigentes de bancos centrais ajudam a ancorar as expectativas ao assumir a responsabilidade de entregar a estabilidade de preços, “comprometendo-se publicamente com uma meta de inflação” e adotando as medidas necessárias para garantir a estabilidade dos preços. Mas Williams notou que é preciso reconhecer “o alto grau de incerteza na economia”. Na sua avaliação, “quando a incerteza é extrema, as políticas focadas em manter a inflação a inflação perto da meta não dependem muito de variáveis difíceis de mensurar, como as taxas naturais de desemprego e dos juros”, com foco em estabilizar a inflação e o desemprego.

Na avaliação dele, as expectativas de longo prazo devem seguir consistentes com a meta de inflação, e os desvios nas expectativas de curto e médio prazo devem ser temporários e seguir consistentes com a meta. Nos últimos anos, houve alta “considerável” nas expectativas, sobretudo no curto prazo. “Mas, apesar a severidade dos choques, as expectativas de inflação no longo prazo seguiram notavelmente estáveis e próximas da meta de 2%”, destacou. As expectativas no médio prazo retornaram aos níveis pré-pandemia em 2022 e as de curto, em 2023, recordou o dirigente.

Williams ainda defendeu a importância de que a política monetária possa reagir a choques e incertezas. “Os dirigentes baseiam suas decisões na totalidade dos dados”, afirmou, lembrando que quando o quadro muda é crucial discutir as razoes para isso e explicar como o BC antecipa que a economia prosseguirá, em sua comunicação. O dirigente notou que a incerteza é constante na economia, e acrescentou que isso deve continuar nos próximos anos. Nesse contexto, accountability, transparência e expectativas de inflação bem ancoradas são cruciais para o trabalho do banco central, disse o presidente do Fed de Nova York.