Mundo
Inflação

Fed deve ter de subir os juros mais duas vezes

O presidente do Fed de St Louis, James Bullard, considerou que as projeções de queda rápida da inflação “até agora não se concretizaram”

Compartilhe:
23 de maio de 2023
Vinicius Palermo
Fed deve ter de subir os juros mais duas vezes
O presidente do Fed de St Louis, James Bullard.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de St. Louis, James Bullard, afirmou na segunda-feira, 22, que a instituição deve ter de subir os juros mais duas vezes neste ano, a fim de conter a inflação. Bullard considerou que as projeções de queda rápida da inflação “até agora não se concretizaram”, enquanto o núcleo dos preços “não tem mudado muito nos últimos meses” e o mercado leva para cima as expectativas de inflação, o que justifica o maior aperto monetário.

Sem direito a voto nas decisões de política monetária deste ano, o dirigente respondeu a questões na segunda, no Fórum Financeiro da American Gas Association.

Ele afirmou que seu cenário base é de “crescimento relativamente fraco” nos EUA, neste ano e no próximo, e acrescentou achar “exageradas” as projeções de recessão. Bullard avaliou que o mercado de trabalho segue “forte”, embora dê sinais de desaceleração. “Estamos em ótima forma, na economia em geral”, disse.

Bullard vê como risco que a inflação elevada perdure por muito tempo, o que forçará um aperto ainda mais duro adiante na política monetária.

Questionado sobre a posição dominante do dólar no mundo, ele comentou sobre algumas alternativas, mencionando o euro e também o yuan, mas disse considerar que não vê essa posição do dólar ameaçada e que esse quadro não deve mudar em breve.

Indagado sobre o impasse para elevar o teto da dívida do governo federal norte-americano, Bullard disse que um projeto de lei sobre o tema terá de ser aprovado. Ele advertiu que “um default ou mesmo a ameaça disso é contraproducente”, provocando por exemplo que os EUA tenham de pagar juros mais altos na sua dívida adiante.

Sobre o quadro geopolítico global, Bullard afirmou que um tema bastante importante neste momento é o “desacoplamento” das economias de EUA e China. Sobre a Rússia, avaliou que o país decidiu não fazer parte do projeto europeu, no contexto da guerra da Ucrânia.

Questionado sobre o setor bancário norte-americano, ele considerou que “até agora, está tudo bem” com esse segmento da economia, mas insistiu na importância de que reguladores continuem a monitorar de perto a situação.

Para ele, o caso do Silicon Valley Bank (SVB), que quebrou, é “bem pouco usual” em suas características, em relação ao setor bancário dos Estados Unidos.

O presidente da distrital do Federal Reserve em Minneapolis, Neel Kashkari, disse que será difícil ele decidir se votará por um novo aumento de juros ou por uma pausa no processo de aperto monetário, na reunião do Fed em junho.

No último dia 3, o Fed elevou seus juros em 25 pontos-base, mas sugeriu a possibilidade de uma pausa no mês que vem.

Kashkari disse que o Fed não pode proteger a economia dos EUA de um eventual calote em sua dívida, em um momento em que o governo Biden tentar fechar um acordo para elevar o teto da dívida federal. Kashkari avaliou também que o mercado de trabalho dos EUA continua muito forte.

O Federal Reserve aponta que os preços mais altos afetaram negativamente as finanças das famílias dos Estados Unidos, assim como o bem-estar financeiro, segundo relatório publicado na segunda-feira. A pesquisa foi feita com mais de 11 mil entrevistados, e indica que 51% deles relataram que reduziram as economias após alta de preços nos EUA.

O relatório extrai da décima Pesquisa anual de Economia Doméstica e Tomada de Decisões (SHED), do Conselho do Fed. Segundo a diretora do Fed Michelle Bowman, “os resultados do SHED fornecem informações úteis sobre o bem-estar econômico dos americanos”.

De acordo com levantamento, as estratégias utilizadas para driblar a alta de preços incluíram usar menos de um produto ou parar de usá-lo completamente ou atrasar compras importantes.

Ainda, a proporção de adultos que indicou que cobririam despesas de emergência de US$ 400 foi de 63%, 5 pontos porcentuais em relação ao máximo em 2021. “13% dos adultos disseram que não seriam capazes de pagar a despesa por qualquer método, o que foi um pouco maior do que na última pesquisa.”