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Vulnerabilidades

Fed culpa gestão do SVB por quebra, mas admite erros no próprio trabalho de supervisão

A conclusão sobra a bicicletas aparece em relatório de cerca de 100 páginas sobre o colapso do Silicon Valley Bank

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29 de abril de 2023
Vinicius Palermo
Fed culpa gestão do SVB por quebra, mas admite erros no próprio trabalho de supervisão
O trabalho de revisão foi conduzido pelo vice-presidente de supervisão do Fed, Michael Barr.

O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) responsabilizou a gestão do Silicon Valley Bank (SVB) pelos eventos que culminaram na quebra do banco em março, mas reconheceu ter falhado no papel de forçar a instituição financeira a corrigir as vulnerabilidades. A conclusão aparece em relatório de cerca de 100 páginas sobre o colapso do SVB, divulgado na sexta-feira, 28, após um trabalho de revisão conduzido pelo vice-presidente de supervisão do Fed, Michael Barr.

Segundo o documento, o Silicon Valley Bank era uma empresa “altamente vulnerável”, com um modelo de negócio excessivamente concentrado no setor de tecnologia e uma elevada base de depósitos sem a proteção de seguro. À medida que os juros subiram nos Estados Unidos, o portfólio da companhia ficou exposto, o que deflagrou uma fuga de depósitos.

O Fed explica que as autoridades de supervisão identificaram os problemas, mas foram lentas em exigir que o SVB cumprisse as exigências de liquidez e capital. Para a instituição, o processo foi “muito deliberativo” e focado em acumular evidências antes de agir.

O banco central norte-americano, em particular, avalia que não foi capaz de perceber a seriedade das deficiências na governança e gestão de riscos do banco.

“Esses julgamentos significaram que o Silicon Valley Bank permaneceu bem avaliado, mesmo com a deterioração das condições e risco significativo para a segurança e solidez da empresa”, ressalta o relatório.

Barr concluiu que o Fed deve fortalecer os instrumentos para garantir uma vigilância eficaz do sistema bancário dos Estados Unidos.

Segundo ele, o Fed foi incapaz de identificar completamente as vulnerabilidades do SVB e não tomou medidas suficientes para assegurar a correção dos problemas. “É por isso que precisamos reforçar amplamente a resiliência no sistema financeiro, e não se concentrar apenas em fatores de risco específicos”, defendeu.

O dirigente argumentou que as autoridades de supervisão devem adotar ferramentas que levem em conta o crescimento do portfólio dos bancos e os tornem preparados para cumprir diferentes exigências de liquidez, no lugar de fornecer um longo período de transição para que se adaptem. “Também precisamos estar atentos aos riscos específicos que empresas com rápido crescimento, modelos de negócios concentrados ou outros fatores especiais podem surgir independentemente do tamanho dos ativos”, avalia.

Para Barr, maiores requerimentos de capital e liquidez podem ajudar a proteger as instituições bancárias de riscos. “Como outro exemplo, os limites às distribuições de capital ou compensação de incentivo podem ser apropriados e eficazes em alguns casos”, defendeu.
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, endossou as conclusões de Barr.
“Concordo e apoio suas recomendações para abordar nossas regras e práticas de supervisão e estou confiante de que elas levarão a um sistema bancário mais forte e resiliente”, destacou.

Parlamentares republicanos dos Estados Unidos abriram investigação na Câmara dos Representantes sobre o papel do Fed e de outros reguladores estaduais e federais na quebra do Silicon Valley Bank (SVB) em março.

O presidente do Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara dos EUA, James Comer, e a presidente do Subcomitê de Saúde e Serviços Financeiros, Lisa McClain, enviaram carta à presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, solicitando documentos e informações relacionadas à supervisão do SVB pela autoridade.

“O Fed de São Francisco parece ter falhado em supervisionar adequadamente o SVB e a responder à má administração do banco”, escreveram os legisladores, acrescentando que os eventos ameaçaram instaurar pânico no sistema bancário. “Embora os sinais de risco significativo e alarmante fossem claros, nenhum regulador usou ferramentas mais severas que notificações, como multas ou ordens de consentimento, para exigir ação do SVB”, continuaram os legisladores.

O Comitê de Supervisão disse que vai investigar as circunstâncias que levaram ao colapso do SVB para responsabilizar atores relevantes.