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Fatores econômicos levam África Subsaariana a se tornar epicentro de extremismo

A vice-diretora do Pnud para a África, Noura Hamladji, disse que a prática de atos terroristas ganha espaço em jovens na África Subsaariana.

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11 de março de 2023
Vinicius Palermo
Fatores econômicos levam África Subsaariana a se tornar epicentro de extremismo
A falta de apoio na África Subsaariana abre espaço para a atuação do terrorismo

A África Subsaariana é identificada como sendo agora o epicentro global da violência e da atividade de extremistas. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, publicou o estudo Jornada ao Extremismo na África: Caminhos para Recrutamento e Retirada, apontando pressões econômicas como fator central para o tipo de violência.

A publicação liga esta realidade ao reflexo da pobreza em várias frentes, associada à falta de oportunidades de emprego, bem como aos papéis e às expectativas de gênero.

A vice-diretora do Pnud para a África, Noura Hamladji, disse que a prática de atos terroristas ganha espaço em jovens. Ela acompanha o quadro econômico-social de 46 países do continente.

“Primeiro, temos entrevistados que estão a dizer que o fator principal para se juntarem os grupos extremistas é um fator econômico. É uma esperança de uma vida melhor. É uma esperança de um emprego. Não é um fator religioso, mas um fator econômico que é a razão principal para que esses jovens se juntem aos grupos extremistas. São 58% dos recrutados que citam que não há confiança no Estado. Não há confiança nas autoridades nacionais. Querem todos uma vida melhor e um emprego, mas não há confiança no Estado para dar essa perspectiva positiva para o futuro. É mesmo uma quebra do contrato social.”

De acordo com o estudo Jornada ao Extremismo na África: Caminhos para Recrutamento e Retirada, os jovens colocaram em segundo plano a influência de fatores como religião e gênero. A especialista disse que o raio de ação dos terroristas cresce de forma robusta.

“Em terceiro lugar, mostramos também que esses grupos, as zonas que controlam não estão mesmo a dar serviço do Estado. Estão a competir com o Estado: a dar serviço de educação, mas também o de segurança. Com terror, mas segurança. E o serviço de justiça. Então, são mesmo o que chamamos nos protoestados nessas zonas que controlam. É uma situação preocupante.”

Apesar da redução de mortes por terrorismo em todo o mundo, os últimos cinco anos marcaram o aumento para o dobro dos ataques nesta região.

A publicação indica que metade das mortes devido a ações terroristas ocorreu na África Subsaariana. Mais de um terço foram registradas em quatro países: Somália, Burquina Fasso, Níger e Mali.

Moçambique é um dos novos pontos de extremismo violento, que também se espalhou para outras partes do continente. Os ataques arrasam vidas, meios de subsistência, perspectivas de paz e desenvolvimento, destaca o Pnud.

O documento menciona ainda que as comunidades locais têm habilidade para recuperar da violência em todo o continente. Elas se envolveram na prevenção e em práticas inovadoras de construção paz.

O problema é a fraca atenção internacional ao quadro de incerteza causado pelas mudanças dramáticas na atividade extremista no Oriente Médio e na África do leste, do norte e na região subsaariana. O desafio piora em meio à crescente crise climática, ao autoritarismo, à pandemia e guerra na Ucrânia.

Com poucos sinais de redução do extremismo violento, o Pnud defende que é preciso apostar em novas ideias sobre as abordagens e os mecanismos internacionais de financiamento do contraterrorismo.

A pesquisa considera relevante ter maior atenção aos fatores econômicos como impulsionadores do recrutamento de jovens.

Um quarto dos participantes no estudo apontaram a falta de emprego como principal razão para ingressar nesses grupos. A maioria era do sexo masculino.

Há cinco anos, cerca de 40% inclinavam-se a culpar as “ideias religiosas de determinado grupo” como a principal razão para se voluntariar ao recrutamento. Menos da metade identificou a religião como um fator-chave.

Os baixos níveis de uso da internet estão relacionados ao recrutamento voluntário de jovens ao terrorismo. Os envolvidos que disseram nunca ter usado ou tido acesso à rede aderiram mais rapidamente a esses grupos do que os outros.

Meios de comunicação tradicional como o rádio foram citados como a principal fonte de informação para este grupo de jovens, depois da palavra passada de boca a boca.

A pesquisa recomenda que se invista nas capacidades dos jovens e em estimular aptidões de liderança. Uma das sugestões é criar oportunidades de mentoria e dar apoio financeiro a organizações juvenis com foco no empoderamento de mulheres mais novas.

Os impactos crescentes das mudanças climáticas, da pandemia e do aumento dos custos de produtos básicos e energia estão entre as maiores dificuldades. Grande parte da África Subsaariana enfrenta pobreza e desigualdade em vários setores agravados pelos já conhecidos desafios econômicos e políticos.

Com a mudança climática impulsionando as ameaças, o Pnud pede uma análise mais profunda das dinâmicas e de como aprofundar fatores que ajudem a dar uma resposta mais eficaz ao problema para mitigar as causas do extremismo violento.