Economia
Tensão pré-Fed

Dólar volta a subir e avança 10% no ano

Na primeira hora de negócios, o dólar até experimentou uma queda momentânea, quando registrou a mínima da sessão, a R$ 5,3155.

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11 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Dólar volta a subir e avança 10% no ano
Nos seis primeiros pregões de junho, o dólar avança 2,02%, passando a acumular valorização de dois dígitos em 2024 (10,37%)

O dólar abriu a semana em alta firme no mercado doméstico de câmbio, em dia de fortalecimento da moeda americana no exterior e avanço das taxas dos Treasuries longos. Após o resultado expressivo de geração de emprego nos EUA em maio divulgado na sexta-feira, 7, investidores adotaram uma postura mais cautelosa à espera dos sinais do Federal Reserve em sua decisão de política monetária na quarta-feira, 12. Por aqui, as preocupações com a política fiscal seguem no radar e contribuem para a busca de posições cambiais defensivas.

Na primeira hora de negócios, o dólar até experimentou uma queda momentânea, quando registrou a mínima da sessão, a R$ 5,3155. Em terreno positivo no restante do dia e com máxima a R$ 5,3891 pela manhã, a moeda encerrou o pregão em alta de 0,60%, cotada a R$ 5,3569 – no maior valor de fechamento desde 4 de janeiro de 2023. Nos seis primeiros pregões de junho, o dólar avança 2,02%, passando a acumular valorização de dois dígitos em 2024 (10,37%)

No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes – voltou a superar os 105,000 pontos, com máxima aos 105,385 pontos. O euro caiu mais de 0,30%, após o avanço da extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu.

O dólar subiu na comparação com divisas emergentes. Entre as latino-americanas, destaque para a leve recuperação do peso mexicano, que ainda apresenta, contudo, perdas de mais de 7% em relação ao dólar.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, observa que o dólar ganhou força extra no exterior na sexta-feira e na segunda-feira após a divulgação de geração forte de empregos nos EUA em maio, que sugerem pouco espaço para o Federal Reserve reduzir juros neste ano. Monitoramento do CME Group mostra que as apostas majoritárias para corte inicial de juros pelo BC americano se deslocaram de setembro para novembro, com chances de mais de 60%.

Não há dúvida de que o BC americano vai anunciar na quarta-feira manutenção da taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50%. As atenções se voltam à projeção de dirigentes do Fed para inflação e juros, no chamado gráfico de pontos, e à entrevista coletiva do chairman Jerome Powell. Em março, na última vez em que projeções foram divulgadas, a maioria dos dirigentes do Fed esperava três cortes de juros em 25 pontos-base neste ano.

Velloni ressalta que houve também uma deterioração adicional do euro com o temor de avanço da ultradireita na Europa, levando o presidente da França, Emmanuel Macron, a convocar no fim de semana eleições antecipadas para o legislativo francês.

“Além do exterior, com menor possibilidade de corte de juros menor nos EUA e a questão na Europa, o real ainda é pressionado basicamente pelo problema fiscal doméstico. Cada vez fica mais claro que há a estratégia de aumentar a arrecadação, sem corte de gastos, não vai funcionar”, afirma Velloni, que vê também uma corrosão do capital político do governo no Congresso.

Na sexta-feira, houve estresse no mercado com vazamento de conversas de reunião fechada entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com expoentes do mercado financeiro. Na ocasião, Haddad disse que haveria contingenciamento em caso de aumento das despesas além do esperado. Ele teria revelado também que levaria a questão da indexação do Orçamento, que torna difícil o cumprimento das metas fiscais, ao presidente Lula, a quem caberia a última palavra sobre o tema.

Pulularam leituras e interpretações de frases de Haddad, como sinalização de avanço expressivos das despesas, admissão implícita de que o arcabouço seria inviável sem desindexação orçamentária e até de enfraquecimento político do ministro. O próprio Haddad na sexta-feira tentou esclarecer que deu apenas uma reposta óbvia ao falar da possibilidade de contingenciamento

“O mercado já vinha com um sentimento de aversão ao risco e teve um episódio de pânico na sexta-feira com o vazamento do Haddad”, afirma que o head de banking e câmbio da EQI Investimentos, Alexandre Viotto, que vê uma onda compradora de dólar capaz de levar a taxa de câmbio para o nível de R$ 5,50 no curto prazo. “Parece cada vez mais difícil o Fed cortar juros neste ano, o que deixa o dólar forte no mundo, e no Brasil só aumenta a descrença em torno da meta fiscal”.

Após ter marcado na sexta-feira perda de 1,73% com os ruídos fiscais domésticos e a leitura forte sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos em maio, o Ibovespa iniciou a semana em luta para retomar a linha dos 121 mil pontos, mas perdeu a pouca força mostrada mais cedo, do meio para o fim da tarde.
Assim, vindo de sua maior retração diária desde 21 de setembro, a referência da B3 oscilou dos 120.540,03 aos 121.421,30 pontos, encerrando a segunda-feira praticamente estável, em baixa de 0,01%, aos 120.759,51 pontos – uma perda de 7,68 pontos frente ao encerramento da sexta-feira. O giro também ficou bem acomodado na sessão de segunda, a R$ 16,5 bilhões. No mês, o Ibovespa ainda acumula perda de 1,10% e, no ano, de 10,01%, na casa de dois dígitos desde a sessão anterior.

Nesta abertura de semana, o Ibovespa foi conduzido essencialmente pelo bom desempenho de Petrobras (ON +1,84%, PN +1,52%), alinhado aos ganhos do petróleo em Londres (Brent) e Nova York (WTI). Circula entre operadores do mercado de petróleo a informação de que a Rússia teria feito o maior corte na produção da commodity em um ano, embora ainda mantenha oferta acima da meta. Em direção ao fechamento, porém, as ações da estatal mostraram ganho mais comportado, tendo chegado a orbitar a casa de 2,5%, mais cedo.

Por sua vez, Vale ON, a ação de maior peso no Ibovespa, também deu boa contribuição ao índice da B3 nesta segunda-feira, em alta de 1,09% no fechamento, sem a referência do minério de ferro na China, em razão de feriado. Em Cingapura, contudo, o minério para julho de 2024 caiu 3,06%, a US$ 105,40 por tonelada.

Na ponta do índice da B3, destaque na segunda-feira para São Martinho (+6,19%), Vibra (+2,40%), Prio (+2,20%) e Suzano (+2,14%). No canto oposto, Soma (-4,67%), Arezzo (-4,14%), Vivara (-3,59%) e BTG (-3,30%).

Entre o sinal favorável das grandes ações de commodities, e o negativo de parte das grandes instituições financeiras, o que prevaleceu foi o do segmento de maior peso no Ibovespa, o financeiro, com destaque para o recuo de 0,79% para Itaú PN e de 1,03% em Santander Unit, considerando os maiores bancos. Exceção para leves ganhos em BB (ON +0,11%) e Bradesco ON (+0,09%).