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Risco de estagflação

Dirigentes do BCE mantêm opções em aberto para setembro

Os indicadores recentes da região sugerem “perspectiva fraca de crescimento” na zona do euro, mostrou o documento.

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31 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Dirigentes do BCE mantêm opções em aberto para setembro
Integrante do conselho do Banco Central Europeu (BCE), Isabel Schnabel

Os dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) preferiram manter suas opções em aberto para a próxima decisão, de setembro, enquanto também temiam o risco de estagflação na zona do euro, mostrou a ata da reunião de 26 e 27 de julho, divulgada na quinta-feira, 31.

Os indicadores recentes da região sugerem “perspectiva fraca de crescimento” na zona do euro, mostrou o documento. A ata aponta que, na reunião, foi afirmado que, caso não ocorram choques adversos na oferta, poderia ainda se confirmar um quadro de “estagflação”, em que mesmo uma recessão não viria acompanhada de “redução clara na inflação”. Por outro lado, o mercado de trabalho seguia “robusto”, com a taxa de desemprego na mínima histórica em maio e dados recentes apontando para continuidade na expansão de vagas na região.

A ata destaca uma mudança nos componentes da inflação, com peso menor do quadro externo e fontes domésticas com mais peso, entre elas o avanço dos salários e dos lucros corporativos. Sobre os salários, os dirigentes acreditam que os riscos de efeitos que levem a uma eventual espiral de altas parecem contidos.

O BCE também mostra um foco especial sobre a inflação no setor de serviços, que ainda “não mostra ajuste significativo para baixo”. Ao mesmo tempo, diz que as expectativas de inflação no longo prazo seguem em geral em “cerca de 2%”, embora acrescente que alguns indicadores “sigam elevados e precisam ser monitorados com cuidado”.

A perspectiva para a inflação, de qualquer modo, segue “muito incerta”, com riscos de alta e de baixa. Pode haver choques na inflação, levando-a para mais longe da meta, advertia a instituição. A ata não descartava que o núcleo da inflação seguisse em nível elevado por um “período prolongado”.

Ainda segundo o documento, houve consenso entre os 25 dirigentes pela alta de 25 pontos-base nos juros adotada na ocasião.

Integrante do conselho do Banco Central Europeu (BCE), Isabel Schnabel afirmou que o quadro atual é de “incerteza” para a economia da zona do euro, com riscos de baixa e de alta, o que exige uma abordagem “baseada nos dados” para a definição da política monetária. Em linha com declarações recentes da instituição, Schnabel enfatizou que estará atenta aos próximos indicadores, para as decisões de juros, sem se comprometer com os próximos passos.

A dirigente realizou discurso na quinta-feira em conferência organizada pelo BCE e pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Cleveland, em Frankfurt (Alemanha). Schnabel disse que já houve “aperto monetário significativo” na zona do euro, mas ainda assim a economia mostra sinais de resistência, sobretudo no mercado de trabalho.

A inflação já caiu, mas segue acima da meta e com as pressões subjacentes para os preços “continuam teimosamente elevadas”, com fatores domésticos agora como os principais motores da inflação na zona do euro. “Uma política monetária restritiva o suficiente, portanto, é crucial para levar a inflação de volta à meta de 2% em um cronograma adequado”, acrescentou.

Schnabel argumentou que era importante enfatizar a dependência dos dados. Para ela, é preciso considerar não apenas a trajetória mais provável para a inflação, “mas toda a distribuição de riscos”. Uma abordagem de analisar o quadro reunião a reunião, com ajustes na política quando necessário, garantirá resposta apropriada ao quadro a cada momento, afirmou.

A dirigente vê o quadro na zona do euro “apontando para uma atividade estagnando”. A fraqueza já se nota na indústria, mas agora também o setor de serviços perde fôlego, disse. A política fiscal deve se tornar mais restritiva, com “gradual consolidação fiscal”, afirmou ela. O quadro aponta para perspectivas de crescimento mais fracas do que o projetado pelo BCE em junho, advertiu. Ao mesmo tempo, disse que não há sinais de uma “recessão profunda ou prolongada” na zona do euro”.

Schnabel ainda afirmou que, segundo pesquisa sobre empréstimos do BCE, o nível dos juros é fator crucial para explicar a contração na demanda por empréstimos. Os padrões de crédito, sobretudo nos empréstimos para empresas, devem “apertar mais nos próximos meses, embora em ritmo mais fraco”, previu ainda.