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Política restritiva

Dirigentes do BCE concordaram que devem estar preparados para subir juros

Os dirigentes também decidiram que o conselho deveria reforçar sua determinação para manter as taxas diretoras em níveis suficientemente restritivo pelo tempo que for preciso, segundo a ata.

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23 de novembro de 2023
Vinicius Palermo
Dirigentes do BCE concordaram que devem estar preparados para subir juros
O dirigente do BCE e presidente do BC alemão, Joachim Nagel

Os dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) concordaram, na última reunião de política monetária, que deveriam estar preparados para voltar a subir os juros, caso necessário – mesmo esse não sendo o seu cenário-base. As informações constam na ata do encontro, publicada na quinta-feira, 23.

“Os membros favoreceram deixar a porta aberta para uma possível nova subida das taxas, em linha com a ênfase do Conselho do BCE na dependência de dados”, informa o documento.

Os dirigentes também decidiram que o conselho deveria reforçar sua determinação para manter as taxas diretoras em níveis suficientemente restritivo pelo tempo que for preciso, segundo a ata. “A persistência foi considerada essencial para trazer a inflação de volta a 2% no médio prazo”, informa o documento.

As autoridades reafirmaram que, ante postura atual, a inflação deverá retornar à meta até 2025. Para elas, boa parte do efeito do aperto monetário ainda deve se materializar nos próximos dois anos.

Eles reforçaram ainda que continuarão sendo guiados por dados. Os dirigentes também viram como necessário adaptar sua comunicação para a “incerteza considerável” em torno das projeções para inflação e para o crescimento, em meio à desaceleração da economia. Eles observaram que as expectativas para a trajetória futura dos juros de curto prazo seguiram, em geral, mantida.

Já a discussão sobre o fim antecipado dos reinvestimentos do Programa de Compras de Emergência na Pandemia (PEPP, na sigla em inglês) foi vista como prematura.

Os dirigentes observaram que a economia da zona do euro continuou fraca no terceiro trimestre. As autoridades notaram também que os riscos ao crescimento econômico continuam a ser baixos na região.

Na sua avaliação, o mercado de trabalho continuava resiliente, com o desemprego em nível historicamente baixo em agosto. Entretanto, o ímpeto estava começando a arrefecer, conforme a economia mostrava fraqueza. As projeções para as exportações também estavam arrefecendo.

Eles observaram também que os rendimentos de títulos públicos na zona do euro subiram, mas que essa alta não foi uniforme em todos os países do bloco. “A análise da equipe técnica do BCE sugeriu que o aumento nos prêmios de prazo dos títulos teria provavelmente emanado em grande parte dos Estados Unidos, em resultado de repercussões políticas e macroeconômicas”, diz a ata.

Os membros do conselho do BCE ainda constataram que a volatilidade do mercado acionário teve alta clara em meio ao conflito do Oriente Médio, mas menos que quando aconteceu a invasão da Rússia na Ucrânia.

O dirigente do BCE e presidente do BC alemão, Joachim Nagel afirmou que não está claro se o ciclo de altas de juros chegou ao fim. Apesar de a inflação ter arrefecido em outubro na zona do euro, ele não espera que o ritmo acentuado de desaceleração perdure. “Eu prevejo que a inflação subirá alguma coisa, mesmo que os preços de energia se mantenham”, afirmou o banqueiro central durante discurso em evento em Milão.

Enfatizando a postura do “higher for longer” (juros mais altos por mais tempo), Nagel falou que o conselho do BCE acredita que as taxas básicas estão em níveis que, se mantidos pelo tempo necessário, contribuirão para levar a inflação à meta de 2% ao ano.

O dirigente advertiu que cortes prematuros de juros podem vir a ser um erro, e que era preciso evitar cair nesta armadilha.

Nagel afirmou que a parte mais difícil da jornada é agora, em parte por causa da oposição do público à política restritiva. “O nosso trabalho não acabou”, alertou. “O caminho à frente provavelmente será tortuoso, com altos e baixos.”

Para o BCE, os principais efeitos na inflação do ciclo de aperto deverão aparecer em 2024, disse Nagel. Ele acredita, entretanto, que é possível enfraquecer a inflação sem levar a economia a um pouso forçado. “Desacelerar demanda agregada não significa necessariamente induzir recessão”, argumentou. Ele falou que o mercado de trabalho continua resiliente na Itália e na Alemanha, mas que o desemprego deve subir na zona do euro. Apesar disso, deve se manter em nível baixo nos parâmetros do bloco.

Ele alertou que a zona do euro está em um momento de fraqueza econômica acentuada, acrescentando que a projeção para o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre é “modesta”. Entretanto, Nagel disse que o crescimento deve ganhar impulso na região em 2024.