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Dirigente do BCE afirma que não há compromisso com novos cortes de juros

Gabriel Makhlouf disse que os dados podem ser voláteis e que pode levar tempo até distinguir exatamente “o que é sinal e o que é ruído”.

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17 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Dirigente do BCE afirma que não há compromisso com novos cortes de juros
Dirigente do Banco Central Europeu (BCE), Gabriel Makhlouf

Dirigente do Banco Central Europeu (BCE), Gabriel Makhlouf afirmou na segunda-feira, 17, que o fato de que a instituição cortou os juros em 25 pontos-base na reunião do dia 6 não significa um compromisso com uma trajetória particular para a política monetária. Segundo ele, mesmo com a redução as taxas seguem “em território firmemente restritivo” e o BCE continua comprometido com a estabilidade de preços e a meta de inflação em 2%.

Makhlouf disse que os dados podem ser voláteis e que pode levar tempo até distinguir exatamente “o que é sinal e o que é ruído”. Com isso, reafirmou a postura dependente dos dados e “a abordagem reunião a reunião para determinar o nível apropriado das taxas de juros”.

O dirigente, também presidente do BC da Irlanda, afirmou que o BCE monitora todas as influências do quadro macroeconômico na zona do euro, “seja onde ocorrerem no mundo”. Mas acrescentou que “não seguimos de modo mecânico o Fed”, referindo-se ao Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Makhlouf concentrou boa parte de seu discurso em discutir a questão da produtividade e sua importância para a economia, além de tratar das diferenças entre os EUA e a União Europeia neste ponto, em discurso realizado no Global Interdependence Center, na Filadélfia.

Ele definiu a desaceleração no crescimento da produtividade nas últimas décadas como um dos maiores desafios atuais, propondo medidas domésticas e também um foco multilateral para enfrentar o problema, com medidas como o fomento à inovação, a livre movimentação de capital e o movimento de pessoas.

O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, comentou que a inflação está mais contida na zona do euro, mas alertou que ainda existem diversos riscos. Entre eles, Guindos destacou “a fragmentação do comércio global, que pode gerar mais pressões inflacionárias”.

Questionado sobre a situação de salários na Europa, o dirigente afirmou que ainda há um avanço “muito elevado” em todos os países da zona do euro. “Esse crescimento precisa ser acompanhado por um aumento da produtividade e absorvido de alguma forma para reduzir efeitos sobre a inflação, por exemplo, por meio de outros benefícios aos trabalhadores”, disse Guindos, durante seminário da Universidade Internacional Menéndez Pelayo, em Santander.

O vice-presidente também falou sobre a redução do balanço patrimonial do BCE para limitar a liquidez do mercado e, ao ser questionado sobre possível movimento para resgatar títulos da França, Guindos afirmou que não vê uma situação que exija ação emergencial no momento. Ele ainda lembrou que há outras ferramentas do banco central que os próprios governos de países da zona do euro podem buscar, caso identifiquem problemas nos mercados de capitais.

Um estudo conduzido por economistas do BCE identificou que quatro setores lideram o índice de atividade agregada na zona do euro, são eles: manufatura, construção, comércio e transporte e hospitalidade. A pesquisa utilizou dados da composição setorial da zona do euro entre 1999 e 2023, analisando mudanças nas dinâmicas e tendências dos setores.

Por meio do estudo, os economistas Niccolò Battistini e Johannes Gareis determinaram os efeitos diretos e indiretos para a produção na economia europeia, além de seus “poderes preditivos” sobre a atividade econômica.

Segundo eles, as mudanças nas dinâmicas dos quatro setores apontados antecipam tendências de crescimento quando ocorrem entre diferentes países da zona do euro, enquanto mudanças apenas domésticas precedem recessões econômicas.

Os economistas do BCE também argumentam que a análise setorial permite entender a origem e propagação de choques econômicos, avaliando magnitude potencial e efeitos em cascata.

“Assim, o monitoramento e a análise dos desenvolvimentos setoriais permitem que os formuladores de políticas antecipem e atenuem os possíveis riscos à economia, ajustando suas respostas políticas”, conclui o estudo.