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Inflação

Diretor do BC fala em necessidade de algum tipo de ‘choque fiscal’

O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Gomes, afirmou que será necessário algum tipo de “choque fiscal”

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25 de outubro de 2024
Vinicius Palermo
Diretor do BC fala em necessidade de algum tipo de ‘choque fiscal’
O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Gomes

O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Gomes, afirmou que será necessário algum tipo de “choque fiscal” de longo prazo para mover as expectativas de inflação substancialmente. Na avaliação dele, a desaceleração esperada para os gastos públicos no segundo semestre não deve se refletir nessas projeções.

“Você precisa de algo mais duradouro para impactar essas expectativas de inflação”, afirmou, em um evento do Bank of America (BofA), em Washington, Estados Unidos. “Um país que assegura os investidores sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal e sobre a possibilidade e convergência da dívida pública, isso vai impactar mais diretamente as expectativas.”

Gomes mencionou a incerteza sobre a política fiscal futura como um dos pontos que explicam a desancoragem das expectativas de inflação. Citou, também, outros pontos. Entre eles, a incerteza em torno da inflação corrente, em meio a choques de oferta nos preços de energia e alimentos, além da mudança no ciclo do gado, que tem pressionado os preços de proteínas.

“A depreciação da taxa de câmbio também coloca uma pressão em comercializáveis, então talvez essa seja a razão pela qual os preços industriais não estejam mais ajudando tanto quanto no passado”, comentou. Sem essas incertezas, disse Gomes, pode haver alguma atualização nas projeções do mercado.

O diretor do Banco Central disse que há “razões claras” para acreditar que o processo de digitalização e a “revolução de pagamentos” no Brasil sejam uma grande razão para um aumento do crescimento potencial do Produto Interno Bruto (PIB).

Ele destacou que a revisão do Fundo Monetário Internacional (FMI) mencionou reformas de trabalho como vetor para um aumento do PIB potencial, mas que os dados sobre a digitalização também são importantes.

“Eu não tenho uma ideia clara sobre como o PIB potencial mudou, mas acho que os dados estão aí”, disse.

O diretor do BC afirmou também que a desaceleração da economia chinesa pode ter impactos na economia brasileira via preços de commodities, com eventuais efeitos na inflação.

Ele citou, entre eles, a taxa de câmbio, os preços de insumos e a renda, já que o País é exportador de commodities, mas que é preciso observar o efeito em cada matéria-prima.

O diretor disse que a autoridade monetária vai fazer o que for preciso para levar a inflação ao centro da meta, de 3%, calibrando o ciclo de aperto para “refletir a incerteza a cada ponto do caminho”. “Nós vamos continuar com a função de reação que temos feito, de certa forma, vamos continuar olhando a atividade, o hiato do produto, a inflação, em especial a parte mais afetada pela política monetária, para o mercado de trabalho, para as condições financeiras”.

Indagado sobre o início “gradual” do ciclo, com um aperto de 0,25 ponto porcentual, Gomes afirmou que as incertezas do cenário são elevadas e que há um “valor” na opção por começar mais devagar.

A desaceleração fiscal esperada no segundo semestre deste ano, acrescentou, pode permitir que os efeitos defasados da política monetária, que já estava contracionista, se manifestem com mais força. Além disso, esse início permite não pressionar as precificações do mercado.

“Esse foi o racional para ser gradual no começo do ciclo, e acho que parte desse raciocínio permanece”, disse. “Ser gradual é bom. Não estou falando do ritmo, só estou dizendo que existe um raciocínio para pensar sobre as coisas gradualmente.”