País
Ataques contra servidores

Dino nega vínculo entre operação da PF e entrevista do presidente Lula

Dino determinou que a Polícia Federal procedesse com as investigações, que identificaram como alvos Moro e o promotor Lincoln Gakiya.

Compartilhe:
23 de março de 2023
Vinicius Palermo
Dino nega vínculo entre operação da PF e entrevista do presidente Lula
O ministro da Justiça, Flavio Dino, durante coletiva no Ministério da Justiça.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse na quarta-feira (22), em São Paulo, que a Operação Sequaz, da Polícia Federal (PF) não tem qualquer ligação com a entrevista dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao portal Brasil 247, na terça-feira (21).

Na conversa, Lula disse que, quando estava preso em Curitiba, queria se vingar do então juiz Sérgio Moro, que comandava a Operação Lava Jato e o condenou a prisão.

Na quarta-feira (22), a PF desarticulou uma organização criminosa que pretendia realizar ataques contra servidores públicos e autoridades, entre eles Moro, atualmente senador pelo União Brasil-PR.

“É vil, é leviana, é descabida qualquer vinculação desses eventos, a operação com a política brasileira. Fico realmente espantado com o nível de mau-caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria. Investigação essa que é tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo”, disse Flávio Dino.

Segundo o ministro, as investigações começaram há 45 dias, após ter sido avisado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de que criminosos estariam planejando atentados violentos contra autoridades. De posse dessa informação, Dino determinou que a Polícia Federal procedesse com as investigações, que identificaram como alvos Moro e o promotor Lincoln Gakiya.

De acordo com as investigações, Moro poderia ser alvo de extorsão mediante sequestro ou homicídio. Segundo o ministro, seria uma retaliação dos criminosos à ação de Moro enquanto ministro da Justiça.

Ao longo do trabalho da PF, houve a identificação de que esses indícios eram consistentes. Esses elementos de prova conduziram a PF a avançar na investigação e chegar à conclusão de que efetivamente havia planejamento em curso para a execução de ações violentas tendo vários alvos: o promotor do estado de São Paulo, doutor Lincoln; autoridades do sistema penitenciário de vários estados; integrantes das polícias de vários estados e também o hoje senador Sérgio Moro”, detalhou o ministro.

Ele acrescentou que a politização ocorre nas redes sociais. “Estamos vendo em redes sociais narrativas escandalosamente falsas, falando que haveria uma relação entre a entrevista de Lula com esses planejamentos. Isso é um disparate. Isso é uma violência”, afirmou Dino. “Dei, darei e reitero todas as declarações críticas em relação à atuação do então juiz Sergio Moro. Ocorre que essas declarações críticas a Sergio Moro não impedem, e não impedirão, a PF de proteger uma pessoa que é crítica ao nosso governo. Quem neste momento faz politização indevida está ajudando a quadrilha.”

O ministro pediu seriedade no debate político no Brasil e disse que “não se pode pegar isoladamente uma declaração de ontem (terça-feira) e vincular a uma investigação que tem meses. Não temos nenhum aparelhamento político de Estado nem a favor, nem contra ninguém.” Ele informou aos jornalistas que a operação foi deflagrada por decisão da própria PF.

Flávio Dino participou na quarta-feira de reunião organizada pelo Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP), na qual falou sobre as ações em curso no Ministério da Justiça.  

O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, disse também que não há qualquer relação entre a fala do presidente com a operação da Polícia Federal contra facção que planejava assassinatos e sequestros de autoridades. De acordo com ele, a manifestação do presidente “foi absolutamente natural, compreensível” diante do contexto.

“Quero cumprimentar a Polícia Federal pela operação. Isso é uma demonstração que temos uma Polícia Federal republicana, não mais aparelhada, a serviço de nenhum projeto político, partido político”, disse Pimenta. Na avaliação dele, a investigação foi “executada com sucesso” impedindo a possibilidade de consumação de crime contra as autoridades.

O ministro destacou que a ação da PF demonstra a importância da despolitização das instituições de Estado como forma de garantir segurança jurídica no País.

Questionado sobre a relação entre a fala de Lula sobre Moro, Pimenta disse que “não há qualquer nexo, possibilidade de vínculo entre a manifestação de Lula e a operação realizada”. “Muito pelo contrário, acho que a operação é uma demonstração dessa isenção”, citando a despolitização das instituições.

“A manifestação do Lula foi onde ele relatou sentimento de injustiça e indignação, absolutamente natural, compreensível de alguém que ficou 580 dias detido numa solitária e depois teve todos os seus processos anulados”, declarou. Para Pimenta, não se pode naturalizar a injustiça.

O ministro ressaltou que a fala de Lula deve ser compreendida pelo contexto. “Querer fazer vínculo é estratégia perversa”, disse.