Na madrugada de quinta-feira, 6, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou um decreto para a apuração pela Polícia Federal de organizações nazistas e neonazistas atuantes no Brasil. Segundo o ministro, “há indícios de atuação interestadual”.
A decisão surge logo após ataque à creche de Blumenau, que resultou na morte de quatro crianças na quarta-feira, 5.
O ministro passou a tarde de quarta-feira realizando reuniões com equipes da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Diretório de Operações (Diop) e com presidentes da União Nacional dos Estudantes (UNE), da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
O encontro teve como objetivo a entrega do documento ‘Paz nas Escolas’ e dialogar sobre resoluções para os frequentes ataques que estão ocorrendo em escolas no Brasil nos últimos anos.
Um relatório apresentado durante os trabalhos de transição do governo federal em dezembro indicam que 35 estudantes e professores foram mortos em ataques no Brasil desde o início dos anos 2000.
Entre os mais recentes estão o atentado em uma escola estadual da Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, que resultou na professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, esfaqueada por um aluno de 13 anos em março deste ano e o ataque a creche de Blumenau de quarta-feira.
Além da apuração dos grupos neonazistas, o ministro também anunciou na quarta-feira o apoio financeiro de R$ 150 milhões às ‘rondas Escolares’ das polícias estaduais e guardas municipais.
Fã de Homem-Aranha, vascaíno como o pai e bastante alegre. É assim que tios de Bernardo Pabst da Cunha, de 4 anos, descrevem o menino, uma das quatro vítimas do atentado na creche.
“Gostava do Homem-Aranha e era um pequeno vascaíno, adorava assistir aos jogos do Vasco com o pai dele”, diz o motorista Valdecir José da Cunha, de 57 anos. Ele é irmão de Paulo da Cunha, pai da vítima.
Na quarta, Cunha saiu da creche com a mochila da criança no colo. “Só sobrou a mochila do meu filho”, disse, emocionado. Em seguida, ele foi abraçado por pessoas que estavam no local.
Bernardo era uma criança “muito meiga”, segundo o tio. “Teve um casamento agora, recente, da tia madrinha dele em que ele levou as alianças”, relembra Valdecir. “Era um moleque simplesmente maravilhoso, essas são as palavras.”
Ele descreve o assassinato do sobrinho como uma “rasteira”. “Tirou o chão de nós todos”, diz. “Não temos palavras, a gente só procura se agarrar em alguma coisa para entender como o ser humano faz um ‘troço’ desses.”
O sepultamento foi marcado por uma série de salva de palmas em homenagem ao menino. “Ele era tudo para a família, para os pais. Parecia que só existia aquela criança para eles”, diz a costureira Fátima Tavares da Cunha, de 62 anos, tia-avó da vítima. “Só tinha 4 aninhos, era um anjinho.”
A morte de Bernardo ocorreu exatamente no dia do aniversário do aposentado Édio Tadeu da Cunha, de 69 anos, tio-avô da vítima. “É uma data que agora não dá para esquecer nunca”, diz, emocionado. “A gente fica até sem palavras.”
Segundo relato dos tios, havia ao menos mais outros três integrantes da família na escola, entre alunos e professores, mas eles não se feriram.
O corpo de Bernardo Pabst da Cunha foi sepultado pouco após as 11 horas de quinta-feira, 6, em cemitério no centro de Blumenau. Dezenas de pessoas compareceram.
O menino foi enterrado com uma roupa do Homem-Aranha, segundo os tios. Como homenagem à vítima, alguns amigos e familiares também foram com camisas do super-herói. Foi o segundo enterro das vítimas da tragédia. Mais cedo, ocorreu o de Bernardo Machado, de 5 anos.