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Criação de abelhas sem ferrão ajuda pequenos produtores

A criação de abelhas sem ferrão é uma prática cada vez mais comum e pode ser realizada por uma variada parcela da população

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19 de julho de 2024
Vinicius Palermo
Criação de abelhas sem ferrão ajuda pequenos produtores
as abelhas que se organizam em colônias e possuem divisão de trabalho são classificadas como eussociais

A criação de abelhas sem ferrão, também conhecida como meliponicultura, é uma prática cada vez mais comum e pode ser realizada por uma variada parcela da população. Ela aparece como uma alternativa à apicultura, que é a criação das tradicionais abelhas com ferrão. Michael Hrncir, professor do Instituto de Biociências (IB) da USP, explica que existem cerca de 20 mil espécies de abelhas no mundo, das quais a maioria é solitária, ou seja, não formam colônias e, portanto, exigem que as fêmeas formem seus próprios ninhos para o depósito dos ovos.

De acordo com o especialista, as abelhas que se organizam em colônias e possuem divisão de trabalho são classificadas como eussociais, grupo no qual se encaixam as abelhas melíferas, ou seja, produtoras de mel. Ele afirma que a espécie mais conhecida de abelha com ferrão do País é a Apis mellifera, também chamada de abelha europeia ou africanizada.

As abelhas sem ferrão, por outro lado, são parte de um grupo chamado Meliponini que conta com aproximadamente 600 espécies no mundo e têm como um dos exemplos no país a Jataí (Tetragonisca angustula), reconhecidas por serem dóceis e de fácil manejo. De acordo com o docente, uma das principais diferenças entre as espécies de abelhas com e sem ferrão no país é a origem, pois, enquanto as sem ferrão são nativas do território brasileiro, as Apis mellifera foram introduzidas aqui pelos seres humanos. Por volta do ano de 1840, um padre chamado Antônio Carneiro incentivou a importação de algumas colônias de abelhas oriundas de Portugal e Espanha, as chamadas abelhas europeias, as quais encontraram dificuldades na adaptação ao clima tropical.

Durante a década de 1950, as abelhas do país enfrentavam problemas com pragas, por isso, o geneticista e professor universitário Warwick Kerr trouxe da África cerca de 50 indivíduos da espécie Apis mellifera scutellata, mais resistente e produtiva, porém mais agressiva. Hrncir explica que os animais trazidos por Kerr escaparam do viveiro onde estavam, na cidade de Rio Claro, e passaram a se reproduzir com as abelhas europeias dando origem às chamadas abelhas africanizadas, espécie que se espalhou por toda a América.

“Então a Apis mellifera é uma espécie que tem um alto potencial de sucesso ecológico, são altamente invasivas, além de serem muito mais eficientes em vários fatores do que as abelhas sem ferrão. A parte interessante é que as abelhas sem ferrão, mesmo sendo nativas brasileiras, são muito menos conhecidas do que as Apis mellifera e isso, logicamente, relaciona-se à parte histórica e econômica”, destaca Hrncir.

Diferenças

Segundo o especialista, existe uma série de outras diferenças entre as abelhas com e sem ferrão, como na atuação das rainhas, por exemplo. Enquanto a rainha das Apis mellifera, após fecundada, pode gerar uma nova colônia junto com algumas operárias a partir do depósito de ovos nos favos da colmeia, a rainha das abelhas sem ferrão têm um volumoso aumento no abdômen e precisa ficar dentro da colônia devido à perda da capacidade de voar.

O professor conta que existe também muita variedade de tamanho entre as espécies e, no caso das Apis mellifera, existe um outro comportamento particular que é conhecido como a famosa danças das abelhas. Ele explica que uma abelha desse tipo, ao se deparar com uma fonte de comida, retorna à colmeia e através dos movimentos corporais consegue informar às outras operárias a direção do alimento em relação ao posicionamento do Sol.

Apesar de ambas as espécies de abelhas serem produtoras de mel, cera e outros subprodutos, existem particularidades no cultivo entre elas, a começar pelo nome: enquanto a criação de Apis mellifera é chamada de apicultura, a de abelhas sem ferrão é conhecida como meliponicultura. O professor conta que as Apis mellifera são mantidas e cultivadas pelos humanos há pelo menos 4 mil anos, portanto existe muito mais conhecimento acumulado sobre a apicultura em detrimento à meliponicultura.