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CPMI do golpe convoca Delgatti e mais quatro pessoas

Os seis requerimentos apresentados para convoca-lo foram apresentados após a prisão do suspeito pela PF.

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04 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
CPMI do golpe convoca Delgatti e mais quatro pessoas
Reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro para analisar e votar o Requerimento. Foto Lula Marques/ Agência Brasil

O hacker Walter Delgatti Neto foi convocado na quinta-feira (3) para depor à Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) que apura os atos golpistas do dia 8 de janeiro. Delgatti foi preso na quarta-feira na operação da Polícia Federal (PF) que investiga a suposta invasão de sistemas eletrônicos do judiciário. Os seis requerimentos apresentados para convoca-lo foram apresentados após a prisão do suspeito pela PF.

A relatora da CMPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou que esse depoimento é importante para “esclarecer como a deputada Carla Zambelli (PL-SP) atuou de modo a questionar a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro nas eleições de 2022”. Zambelli é suspeita de pagar Delgatti para que ele invadisse o sistema do judiciário. A parlamentar nega a acusação.  

O colegiado aprovou ainda a convocação de outros quatro depoentes: o fotógrafo da agência de notícias Reuters Adriano Machado;  a tenente-coronel da Polícia Militar (PM) Cíntia Queiroz de Castro, que é subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança do Distrito Federal; a policial militar Marcela da Silva Morais Pinno, promovida por “atos de bravura” ao tentar impedir os ataques de 8 de janeiro aos prédios dos Três Poderes; e o sargento do exército Luís Marcos dos Reis, preso na operação que investigou a suposta fraude no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro.  

As convocações foram aprovadas por acordo. Isso porque o presidente da CMPI deputado Arthur Maia (União-BA) estabeleceu que requerimentos só fossem votados se apresentados com 48 horas de antecedência. Como alguns foram apresentados ontem, Maia decidiu que “só podemos aprovar pauta por acordo porque é uma pauta extemporânea”, explicou.  

Apesar do acordo, alguns parlamentares se manifestaram contrários à convocação do fotógrafo da Reuters Adriano Machado, que cobriu a invasão do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro. O deputado Rogério Correia (PT-MG) ponderou sobre a convocação do fotojornalista. “Não é um problema querer ouvi-lo, mas é uma questão de princípio em relação à questão de liberdade de imprensa”, explicou. 

Oito parlamentares da oposição pediram a convocação do fotojornalista, que teve o nome incluído na votação por meio do acordo com os parlamentares ligados à base governista. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) sugere, no requerimento, que o profissional de imprensa teria combinado as fotos com os invasores. 

A CPMI ainda rejeitou, por 19 votos contra 12, dois requerimentos de convocação apresentados pela oposição. Os parlamentares queriam interrogar o coronel Sandro Augusto Salles Queiroz, então comandante da Força Nacional no dia da invasão; e Tomás de Almeida Vianna, substituto eventual do Diretor de Inteligência do Ministério da Justiça. 

O senador Eduardo Girão (NOVO-CE) apelou à Comissão para convocar o comandante da Força Nacional. “Ela foi chamada para defender o patrimônio público, essa é uma das características desse batalhão. E a gente precisa saber onde é que ela estava, onde ela foi posicionada”, justificou. 

Para deputada Jandira Fegalhi (PCdoB-RJ), essa não era a hora de ouvir o representante da Força Nacional, o que poderia tirar o foco da investigação. “Nós precisamos ter as informações para fazer a inquirição. Senão, o depoente chega aqui e o que ele fala é verdade, a gente não tem como contrapor”, justificou. 

Os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Duda Salabert (PDT-MG) trocaram empurrões na quinta-feira, 3, pouco antes do início oficial da sessão da CPMI. Isso ocorreu quando parlamentares se reuniam em um canto do plenário para discussões finais sobre quais requerimentos seriam colocados em pauta para votação em bloco, de maneira a aprovar ou rejeitar todos conjuntamente, por acordo entre governistas e bolsonaristas.

O tumulto começou depois que Jandira Feghali subiu o tom de voz contra o presidente da CPMI a quem acusou de romper acordo feito entre os parlamentares e favorecer interesses de bolsonaristas.

Os governistas alegam que Arthur Maia rompeu acordo ao retirar do bloco de votação requerimentos para solicitar de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua mulher, Michelle. O presidente da CPMI também foi acusado de romper o acordo entre governistas e opositores, ao aceitar a inclusão no bloco de um requerimento de parlamentares do PL para convocar o fotógrafo Adriano Machado, da Reuters, a prestar depoimento sobre sua cobertura jornalística dos ataques golpistas.

Entre os requerimentos incluídos no bloco de votação, estavam também pedidos para interrogar o hacker Walter Delgatti Neto, preso em operação da Polícia Federal na quarta-feira, 2, e o ajudante de ordens Luís Marcos dos Reis, que é suspeito de participar de um esquema ilegal de financiamento às despesas pessoais de Michelle.

Durante o tumulto, o deputado federal André Fernandes (PL-CE) acusou a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), de atuar como advogada do governo.

Com o início da sessão, governistas defenderam que fosse então rompido o acordo caso não fosse excluído do bloco o requerimento sobre Adriano Machado. Maia disse que era contra esse requerimento, mas que não aceitaria, por razões regimentais, separar o requerimento sobre o fotógrafo e disse que não faria a votação em bloco enquanto não existisse acordo entre os partidos sobre a pauta.

“A pauta só poderia ter sido apreciada por acordo. A pauta deveria ter sido publicada 48 horas atrás. Não foi. Se houver posição contrária, a pauta não poderá ser apreciada”, afirmou Maia no começo da sessão.