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Coronel que clamou por golpe de Bolsonaro diz que queria ‘apaziguar’ o País

O coronel de artilharia do Exército Jean Lawand Júnior disse à CPMI do 8 de janeiro que jamais pediu por ruptura institucional

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27 de junho de 2023
Vinicius Palermo
Coronel que clamou por golpe de Bolsonaro diz que queria ‘apaziguar’ o País
Ex-subchefe do Estado Maior do Exército coronel Jean Lawand Júnior depondo na CPMI do 8 de Janeiro. Foto Lula Marques/ Agência Brasil.

O coronel de artilharia do Exército Jean Lawand Júnior disse na terça-feira, 27, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro que jamais pediu por ruptura institucional, mas, sim, por uma ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para “apaziguar” o País após as eleições do ano passado.

O militar teve suas conversas com o ex-ajudante de ordens da Presidência sob Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, interceptadas pela Polícia Federal (PF). Os agentes federais investigavam o envolvimento de oficiais do alto escalão das Forças Armadas em tentativas de golpe na esteira do resultado eleitoral de 2022.

Mensagens coletadas pela PF mostram Lawand pedindo a Mauro Cid que fizesse chegar a Bolsonaro seus apelos pela aplicação de um golpe de Estado para evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O material apreendido expõe um plano, em oito etapas, elaborado pelo coronel para que as Forças Armadas tomassem o comando do País antes da sucessão presidencial.

“Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele (Bolsonaro) dê a ordem, que o povo está com ele (…) Acaba com o Exército Brasileiro se esses caras não cumprirem a ordem do Comandante Supremo”, afirmou Lewand na troca de mensagens com Cid.

Apear do teor enfático das mensagens, Lawand disse na CPMI que “em nenhum momento” falou sobre golpe. Ele justificou que o material coletado pela PF é objeto de “conversas privadas” e que a “ordem” cobrada era para que Bolsonaro “apaziguasse” a situação nas ruas do País. “Em nenhum momento atentei contra a democracia brasileira, em nenhum momento quis atentar ou agredir as instituições”, afirmou.

Em outras conversas interceptadas pela PF, Lawand dizia a Cid que se Bolsonaro encontrava resistência no alto comando do Exército haveria adesão total nas patentes mais baixas, caso ele desse a “ordem”. Ao ser confrontado pela relatora Eliziane Gama (PSD-MA) sobre qual dos dois grupos militares estaria do lado da legalidade, o coronel disse que foi infeliz em suas falas e que não deveria ter falado sobre o alto escalão por ser um “simples” oficial sem acesso a informações.

As trocas de mensagens entre Lawand e Cid duraram do início de novembro de 2022 até o final de dezembro, quando o coronel reconheceu que não haveria quaisquer ordens de Bolsonaro e demonstrou frustração. Nas conversas, Lawand disse que “entregamos o País aos bandidos”, mas não soube explicar quem seriam os criminosos ao ser questionado pela deputada Jandira Feghali (PCdo-B). O oficial se limitou a dizer que não desrespeitou autoridades.

Lawand é formada na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman, no Sul do Estado do Rio de Janeiro), a mesma frequentada por Bolsonaro antes de entrar na política. O coronel se graduou em ciências militares. Durante o governo Bolsonaro, ele chegou a ser condecorado no Quadro Ordinário do Corpo de Graduados Efetivos da Ordem do Mérito Militar.

Na segunda-feira, em depoimento à CPMI dos Atos de 8 de Janeiro, o ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Naime disse que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) avisou sobre ameaças de invasão das sedes dos Três Poderes na manhã do dia 7 de janeiro.

Segundo ele, o alerta foi dado por volta das 10h em um grupo de Whatsapp que reunia representantes de órgãos de inteligência. Naime afirmou que nenhum membro de seu departamento participava do grupo.  

“O que me causa estranheza é que no dia 7, às 10h da manhã, a Abin informa claramente que estava confirmado, que tinha uma confirmação de invasão de prédios públicos, e isto foi relatado nesse grupo. Isto foi relatado nesse grupo, às 10h da manhã”, disse.

Naime não soube informar se o secretário interino de Segurança Pública do Distrito Federal tomou conhecimento dessa informação. “Os senhores precisam ver onde essa informação chegou. Se essa informação chegou ao nível de Secretário e Comandante-Geral, eles não tomaram as providências, porque, minimamente, o Gabinete de Gestão de Crise tinha que ter sido acionado nesse momento, ou se as inteligências não passaram essas informações para o Secretário. E aí o que causa estranheza é que, nos relatórios que têm… o próprio Secretário relata que ele passa praticamente a tarde inteira informando ao Governador do Distrito Federal que estava tudo bem, que estava tudo certo, que estava tudo monitorado.”

O coronel voltou a criticar o Exército, argumentando que os militares impediram a Polícia Militar do Distrito Federal de desmobilizar, em dezembro de 2022, o acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército.

“A gente foi impedido. Não conseguimos fazer nem metade do que estava previsto, nem do que não estava previsto, não conseguimos fazer. A PM ficou em um descrédito muito grande. Lembrando que, sobre isso aí, nós estamos falando de 29 de dezembro, que foi depois dos ataques do dia 12 de dezembro. O que motivava mais ainda a gente a querer acabar com aquele acampamento, e a gente foi impedido pelo próprio Exército Brasileiro”, disse.