O Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas divulgou um relatório, na terça-feira, sobre a situação das vítimas de desaparecimentos forçados e sequestros na Coreia do Norte.
O documento traz relatos de pelo menos 80 pessoas incluindo parentes das vítimas. Muitos citaram danos psicológicos e emocionais assim como impacto econômico e violações.
O relatório da ONU pede que o governo norte-coreano renove seus esforços para levar verdade, justiça, reparações e garantias de que os episódios não se repetirão.
O alto comissário para os Direitos Humanos, Volker Turk, citou a agonia das famílias e as represálias que muitos parentes estão sofrendo, por várias gerações, ao lidar com a situação de não saber o que aconteceu com seus cônjuges, pais, filhos e irmãos.
Ao todo, foram entrevistados 38 homens e 42 mulheres vítimas de desaparecimentos forçados e sequestros. Em muitas famílias, as vítimas tiveram consequências mais graves ao terem sua principal fonte de renda afetada correndo risco de pobreza e discriminação.
Uma mulher contou que o marido foi sequestrado em junho de 1972 enquanto pescava. Ela lembra que após o desaparecimento dele, a família ficou sem dinheiro para comprar comida.
O relatório “Estas feridas que não saram” detalha os episódios de sequestros e desaparecimentos desde 1950 incluindo prisões arbitrárias na República Democrática da Coreia, conhecida como Coreia do Norte.
Em alguns casos, houve repatriamentos forçados de países vizinhos como sequestros de cidadãos da Coreia do Sul durante a Guerra das Coreias e de cidadãos do Japão e outros países.
O irmão de uma mulher sequestrada do Japão em 1978 disse que gostaria muito de saber o paradeiro dele e se está sã ou doente. Ele conta que gostaria de ver pelo menos uma foto da irmã.
No caso da Guerra das Coreias, muitos desaparecidos foram enviados a campos de prisioneiros políticos ou outros centros de detenção, onde ficaram sem comunicação com o resto do mundo.
Alguns foram torturados. Houve casos de execução sumária sem informação às famílias.
Um dos entrevistados relatou que a mulher e o filho menor foram enviados para campos separados. A sentença era de quatro anos, para cada, mas até hoje, ele nunca mais ouviu falar dos dois.
O alto comissário para Direitos Humanos da ONU afirma que essas histórias trágicas destruíram vidas inteiras.
Volker Turk lembrou que o desaparecimento forçado é uma violação profunda de muitos direitos, de uma só vez, e a responsabilidade de evitá-lo é do Estado.
Ele pediu à Coreia do Norte que abandone o seu isolamento para atuar com a ONU na busca de soluções para questões de direitos humanos.
Em 2014, a Comissão de Inquérito sobre a Situação dos Direitos Humanos na Coreia do Norte concluiu que os sequestros e desaparecimentos poderiam configurar crimes contra a humanidade pelo país asiático.
Na terça-feira, a China anunciou que o novo embaixador do país na Coreia do Norte assumiu seu posto, em um sinal que a Coreia do Norte está reabrindo em meio a relatos de que vem passando por dificuldades pela pandemia da covid-19 e pela escassez de alimentos.
Wang Yajun irá auxiliar no desenvolvimento da amizade tradicional entre “vizinhos que dividem montanhas e rios”, disse nesta terça a ministra de Relações Exteriores da China, Mao Ning
A ida do embaixador ocorre pouco após a mídia estatal norte-coreana informar que o presidente do país, Kim Jong Un, incitou seus cientistas nucleares a aumentar a produção de material para a construção de bombas.
A China é a principal fonte de ajuda econômica e apoio político da Coreia do Norte, mas as interações foram interrompidas por restrições de viagens impostas na tentativa de impedir a propagação da covid-19.
Ainda, o apoio da China à Coreia do Norte, como também à Rússia, é visto como um ato de desafio à ordem mundial liberal liderada pelos Estados Unidos.
Embora a China tenha concordado com as sanções das Nações Unidas contra a Coreia do Norte por causa de seus testes nucleares, ela repetidamente garantiu apoio ao regime de Kim para evitar seu colapso e as possíveis consequências humanitárias, militares e políticas que poderiam seguir.