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Copom confirma a possibilidade de voltar a aumentar a Selic

O Copom enfatizou que a incerteza nos cenários avaliados força o BC a continuar vigilante, avaliando a estratégia da taxa básica de juros.

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28 de março de 2023
Vinicius Palermo
Copom confirma a possibilidade de voltar a aumentar a Selic
Na semana passada, o Copom manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltou a destacar, na ata de seu encontro deste mês, a deterioração das expectativas de inflação para prazos mais longos e mais uma vez citou a possibilidade inclusive de voltar a aumentar a Selic. Na semana passada, o Copom manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida.

O Copom enfatizou que a incerteza nos cenários avaliados força o BC a continuar vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação.

“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos.”

O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

O órgão repetiu, na ata de seu encontro deste mês, o alerta sobre a desaceleração da concessão de crédito no mercado doméstico “maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária”. Esse ponto já estava expresso no balanço de riscos do comunicado da última quarta-feira, 22.

De acordo com os diretores do BC, os outros dois principais riscos de baixa na inflação são a queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local e uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada. O Copom enfatizou que, em relação a isso, merecem atenção particular as condições adversas no sistema financeiro global depois da quebra de bancos nos Estados Unidos e na Europa.

Já entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, o BC ressaltou a maior persistência das pressões inflacionárias globais e a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública. Por fim, apontou também uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Na semana passada, o Copom manteve a Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida. Em relação à decisão deste mês, o BC disse na ata, assim como no comunicado, que a manutenção é “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”, que inclui 2023 e, em maior grau, 2024.

Após incluir uma possível desaceleração mais forte na concessão de crédito em seu balanço de riscos no comunicado da decisão que manteve a taxa básica de juros em 13,75%, na semana passada, o Copom revelou na ata divulgada nesta terça que não houve consenso nessa avaliação por parte dos diretores do Banco Central.

Diante do aperto adicional nas condições para a oferta de crédito em algumas modalidades, alguns membros do Copom consideraram que esse movimento está em linha com o esperado, considerando a alta da Selic de 2,00% ao ano para 13,75% entre 2021 e 2022.

“Para tais membros, deve-se esperar ainda um aumento da inadimplência e uma desaceleração na concessão do crédito, mas em linha com o que se observou em ciclos anteriores de aperto de política monetária. Em contraste, outros membros avaliam que, no período mais recente, o aperto nas concessões de crédito foi mais intenso do que o esperado, mas focalizado em alguns mercados específicos”, destacou a ata, revelando a divergência entre os diretores.

Ainda assim, o Copom enfatizou que o BC possui, no âmbito da política macroprudencial, os instrumentos de liquidez “apropriados e necessários” para endereçar eventuais “fricções relevantes” no sistema de crédito. O colegiado ainda reforçou que a política monetária é mais apropriada para atuar de forma contracíclica sobre a demanda agregada.

O Copom apontou que a dinâmica inflacionária movida por excessos de demanda se descolou de bens para serviços, o que requer moderação da atividade econômica para que a política monetária funcione. “Tal processo demanda serenidade e paciência na condução da política monetária para garantir a convergência da inflação para suas metas”, repetiu o BC.

A ata trouxe ainda um parágrafo para explicar a importância das expectativas futuras – que seguem desancorando – para a definição de preços no presente. De acordo com o Copom, à medida que o mercado projeta uma inflação mais alta à frente, empresas e trabalhadores passam a incorporar tal inflação futura em seus reajustes de preços e salários.

“A deterioração adicional das expectativas de inflação da pesquisa Focus, especialmente em prazos mais longos, foi bastante debatida. Ressaltou-se que o comportamento das expectativas é um aspecto fundamental do processo inflacionário, uma vez que afeta a definição de preços e salários presentes e futuros”, explicou o documento.

O BC lembrou que – seguindo a melhor prática internacional – incorpora as expectativas do mercado em suas decisões, já que são um dos fatores que afetam suas próprias projeções de inflação. O Copom defendeu ainda defendeu então a ancoragem de expectativas como um elemento essencial para a estabilidade de preços.