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Confrontos policiais caíram no Brasil pela primeira vez em nove anos

Houve uma queda de 31% na morte de brancos em confrontos policiais e um aumento de quase 6% no número de mortes de afrodescendentes.

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08 de março de 2023
Vinicius Palermo
Confrontos policiais caíram no Brasil pela primeira vez em nove anos
Pesquisa avaliou número de confrontos policiais no Brasil.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse que o Brasil teve uma queda nas mortes em confrontos com a polícia pela primeira vez em nove anos. O resultado ocorreu em 2021.

Ele falava ao Conselho de Direitos Humanos em Genebra, nesta terça-feira, na apresentação do Relatório Anual e Atualização Oral. O destaque foram recentes eventos globais e atividades do escritório especializado.

Volker Turk disse que a fonte a que teve acesso informou que houve uma queda de 31% na morte de brancos, mas um aumento de quase 6% no número de mortes de afrodescendentes em confrontos policiais no Brasil.

O chefe de direitos humanos sublinhou que a violência aplicada de “forma tão desproporcional a pessoas de ascendência africana” por policiais é um exemplo do profundo dano estrutural enraizado na discriminação racial.

Turk falou ainda de episódios recentes de uso excessivo de força, da discriminação racial e de práticas discriminatórias por parte da polícia na Austrália, na França, na Irlanda e no Reino Unido.

O chefe de Direitos Humanos mencionou ainda a situação nos Estados Unidos, onde pessoas de ascendência africana têm quase três vezes mais probabilidades de serem mortas pela polícia do que as de raça branca.

O discurso descreve a morte do americano Tire Nichols, em Memphis, que há dois meses foi marcada “não apenas pela gravidade da violência registrada em imagens, mas porque foi seguida de pronta ação para processar policiais envolvidos, embora geralmente apenas uma fração de casos acabe com responsáveis levados à justiça”.

A apresentação de Turk trouxe exemplos de abusos em situações de guerra como Ucrânia, Síria, Mali Burquina Fasso, Etiópia, Eritreia, Iêmen e Líbia.

Turk revelou que um quarto da humanidade vive em locais afetados por conflitos violentos. Ele lembrou ainda que os civis são os que mais sofrem ao pedir a preservação da paz.

O Haiti foi destaque pela violência de gangues. Para melhorar o quadro, Turk sugere uma combinação de respostas para impulsionar o processo político para realizar eleições livres e transparentes.

Outras medidas incluem uma total implementação do embargo de armas e sanções efetivas contra financiadores e líderes de gangues armadas, além do apoio internacional para reforçar a capacidade da polícia e do sistema judiciário do Haiti.

O relatório aponta a situação de mulheres e meninas do Afeganistão e do Irã como sendo uma realidade de “violações de direitos humanos mais indiscutíveis” contra o grupo em todo o mundo.

Ele explicou que o discurso de ódio que elas sofrem também acontece em ataques a indivíduos de ascendência africana, judeus, muçulmanos, pessoas Lgbtqia+, refugiados, migrantes e integrantes de grupos minoritários.

Entre os novos desafios no campo de direitos humanos, Turk citou o uso no mundo digital de ferramentas de inteligência artificial e vigilância.

O chefe de direitos humanos pediu nova forma de pensar, associada à liderança política e a compromissos renovados.

Para ele, esses fatores podem ajudar a reverter o atual quadro de conflito, discriminação, pobreza e restrições ao espaço cívico aliado à tripla crise planetária da mudança do clima, perda de biodiversidade e poluição.

Em meio aos efeitos contínuos e combinados dessas crises, Volker Turk disse que os países devem injetar fundos de forma significativa para enfrentar tais desafios.