Economia
Testes de estresse

Comef diz que sistema financeiro nacional está resiliente

O colegiado publicou a ata do seu 57º encontro, que manteve o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em 0%.

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05 de junho de 2024
Vinicius Palermo
Comef diz que sistema financeiro nacional está resiliente
Os níveis de capitalização e de liquidez do SFN mantiveram-se superiores aos requerimentos prudenciais.

O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central destacou na quarta-feira, 5, que os resultados dos testes de estresse demonstram que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) está resiliente. O colegiado publicou a ata do seu 57º encontro, que manteve o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em 0%.

“O impacto mais severo continua sendo o observado no cenário de quebra de confiança no regime fiscal. Teste de análise de sensibilidade verificou que mesmo que os ativos problemáticos dobrassem em relação a seus níveis atuais, o sistema não apresentaria desenquadramentos relevantes”, detalhou o documento.

A ata reitera que as provisões dos bancos mantiveram-se adequadas, acima das estimativas de perdas esperadas. “A leve piora na qualidade das concessões de crédito às famílias foi insuficiente para inverter a redução da probabilidade de default e da expectativa de materialização de riscos, exceto no crédito rural onde ambas são crescentes. Para micro, pequenas e médias empresas, o nível de materialização de risco deve permanecer estável”, acrescentou o BC.

Da mesma forma, os níveis de capitalização e de liquidez do SFN mantiveram-se superiores aos requerimentos prudenciais. O Comef destaca que o sistema tem mantido capital e ativos líquidos suficientes para absorver potenciais perdas em cenários estressados e cumprir a regulamentação vigente.

Além disso, a rentabilidade dos bancos apresentou discreto aumento, devido à redução das despesas de provisão e dos custos de captação nos últimos meses. Por outro lado, o Comef segue atento à dinâmica de resgates das cadernetas de poupança e seus efeitos nas concessões de crédito imobiliário.

“O Comef avalia que a política macroprudencial neutra segue adequada ao atual momento, caracterizado pela ausência de acúmulo significativo de riscos financeiros. Considerando as expectativas do Comef sobre o crescimento do crédito, não há necessidade de ajustes na política macroprudencial no curto prazo”, repetiu o colegiado.

Para o BC, os preços dos ativos e o crescimento do crédito não representam preocupação no médio prazo, embora existam incertezas a serem acompanhadas. O documento cita que os principais ativos de risco da economia vêm seguindo trajetórias de preço moderadas.

“Diante dos riscos relacionados à atividade econômica e ao endividamento das famílias e das empresas de menor porte, o Comef segue recomendando que as instituições financeiras mantenham a prudência na política de gestão de crédito e de capital”.

O Comef destacou que o sistema financeiro internacional tem se mostrado resiliente, adaptando-se à conjuntura incerta e ao estágio corrente do processo de convergência da inflação às metas, que requer cautela.

“Divergências no ritmo de desinflação afetam preços relativos de ativos e requerem gestão de riscos ainda mais eficiente, aumentando os desafios para alguns intermediários de menor porte ou especializados em segmentos do mercado mais sensíveis a flutuações econômicas”, alertou o documento.

O BC destacou, entretanto, que o cenário de atividade global tem apresentado resiliência e os fundamentos sugerem sustentação do consumo prospectivo. Ainda que o papel do déficit fiscal na determinação da liquidez e, consequentemente, os preços de equilíbrio do crédito privado ao longo do tempo sigam sendo um tema relevante, o Comef avaliou que a liquidez agregada no sistema financeiro das principais economias segue ampla.

“Desde o Comef anterior, as condições financeiras arrefeceram levemente. Apesar do recuo recente, a volatilidade dos juros americanos permanece elevada, em especial devido às incertezas sobre as trajetórias da política monetária”, apontou a ata.

O documento detalha que, nos Estados Unidos, o crédito segue em desaceleração, o saldo agregado de depósitos recuperou-se, mas o sistema bancário ainda apresenta sinais de estresse localizados. Além disso, o desempenho do setor imobiliário corporativo nos EUA continua requerendo especial atenção considerando a elevada exposição de bancos menores. Enquanto isso, o sistema bancário chinês também continua apresentando sinais de estresse localizados.

“As autoridades têm atuado para manter a confiança nos sistemas financeiros. Permanecem sob análise dos reguladores americanos as propostas para mitigar riscos e ampliar resiliência. Na China, medidas têm sido tomadas para conter efeitos sistêmicos da contração no setor imobiliário, enquanto outras foram anunciadas para fortalecer a supervisão financeira e a prevenção e resolução dos riscos financeiros”, completou o Comef.

Para o BC, o cenário global prospectivo ainda apresenta riscos que podem levar à materialização de cenários de reprecificação de ativos financeiros globais. O colegiado lembra os eventos de estresse no setor financeiro desde 2023, que mostraram vulnerabilidades acumuladas tanto nos bancos quanto em instituições financeiras não bancárias. Ainda assim, o Comef destaca que as economias emergentes mostraram resiliência diante do cenário externo adverso.

“O Comef avalia que a exposição do Sistema Financeiro Nacional ao risco da taxa de câmbio é baixa e a dependência de funding externo é pequena. A transparência, previsibilidade e credibilidade na condução das políticas monetária, fiscal e macroprudencial são essenciais para mitigar os riscos sistêmicos”, completou o BC.

Para o Comef, os desafios macroeconômicos no início de 2024 explicam em maior parte os riscos adversos para as condições financeiras internacionais. O colegiado disse estar atento à evolução dos cenários doméstico e internacional e seguir preparado para atuar, de forma a minimizar eventual contaminação desproporcional sobre os preços dos ativos locais.

“O Comitê segue entendendo que políticas macroeconômicas que aumentem a previsibilidade fiscal, que reduzam os prêmios de risco e a volatilidade dos ativos contribuem para a estabilidade financeira e, consequentemente, melhoram a capacidade de pagamento dos agentes”, concluiu o BC.