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Com tombo das commodities, Ibovespa cai quase 1%

Após uma primeira quinzena de julho invicta, com 11 ganhos diários seguidos, foram quatro perdas e dois ganhos desde o último dia 16.

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24 de julho de 2024
Vinicius Palermo
Com tombo das commodities, Ibovespa cai quase 1%
Nesta terça-feira, encerrou abaixo dos 127 mil, em queda de 0,99%, aos 126 589,84 pontos

O Ibovespa acentuou correção a partir do meio da tarde, com poucas ações da carteira conseguindo evitar perdas no fechamento. Nesta terça-feira, em recuo em torno da marca de 1%, retomou um grau de ajuste mais agudo visto também na última quinta-feira, quando havia cedido 1,39%. Na mínima do fim da tarde, foi aos 126.530,02 pontos, em baixa de 1,04%, em dia de encerramento moderadamente negativo em Nova York, entre -0,06% (Nasdaq) e -0,16% (S&P 500) de variação para os principais índices.

Após uma primeira quinzena de julho invicta, com 11 ganhos diários seguidos, foram quatro perdas e dois ganhos desde o último dia 16. Assim, o Ibovespa se afasta um pouco mais da máxima recente, da última quarta-feira, então perto dos 129,5 mil pontos no fechamento.

Nesta terça-feira, encerrou abaixo dos 127 mil, em queda de 0,99%, aos 126 589,84 pontos, saindo de máxima na sessão a 127.859,63, correspondente à abertura. O giro foi nesta terça-feira a R$ 19,1 bilhões. Na semana, o Ibovespa recua 0,80%, ainda sustentando ganho de 2,17% no mês – em 2024, cai 5,66%.

“Existe incerteza quanto à corrida eleitoral nos Estados Unidos, e o mercado de forma geral costuma não lidar bem com isso. E, no quadro doméstico, embora o congelamento de R$ 15 bilhões para cumprir o arcabouço fiscal este ano tenha sido visto com bons olhos, o mercado continua duvidando da capacidade do governo de cumprir o centro da meta de déficit primário zero ao final de 2024”, resume Inácio Alves, analista da Melver.

“Esse montante de R$ 15 bilhões trouxe pouco efeito para as expectativas dos investidores”, diz Hemelin Mendonça, sócia da AVG Capital, observando que a atitude do governo com relação às contas públicas parece ser a de “comprar tempo”, sem de fato resolver o problema e travar gastos para cumprir com o orçamento “Há ainda incerteza e piora na percepção de risco Brasil, com o mercado mostrando receio ante a situação fiscal”, acrescenta.

Assim, o dia se mostrou avesso ao kit Brasil, com dólar em alta frente ao real – de 0,29%, a R$ 5,5863 no fechamento – e de avanço também na curva de juros doméstica. Nesse contexto de menor apetite por risco, apenas cinco das 86 ações da carteira Ibovespa conseguiram avançar nesta terça-feira: Embraer (+8,47%), Pão de Açúcar (+3,20%), Sabesp (+1,89%), Localiza (+1,00%) e BTG (+0,16%). Na ponta perdedora do índice na sessão, CSN (-5,05%, na mínima do dia no encerramento), Gerdau Metalúrgica (-5,03%), CSN Mineração (-4,99%) e Gerdau (-4,50%).

O dia negativo para o setor metálico não poupou a ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, que cedeu hoje 1,34%. Além do prosseguimento da correção no minério de ferro na China, em baixa de quase 3,5% em Dalian nesta terça-feira, a queda superior a 1,5% para o Brent e o WTI na sessão manteve as ações da Petrobras na defensiva, com a PN em baixa de 1,29% e a ON, de 1,41%, ambas nas respectivas mínimas do dia no fechamento. Foi a terceira queda consecutiva para o petróleo, em meio à reavaliação do mercado quanto à demanda, em especial da China.

Dólar

O dólar à vista subiu na sessão desta terça-feira, 23, e voltou a se aproximar do nível de R$ 5,60, em sintonia com fortalecimento da moeda americana no exterior. Moedas de países emergentes sofreram com a queda das commodities, como minério de ferro e petróleo, em meio a temores de perda de fôlego da economia chinesa.

Apesar do crescente ceticismo com o cumprimento das metas fiscais, mesmo após o governo confirmar ontem no relatório bimestral de receitas e despesas a contenção de R$ 15 bilhões no Orçamento deste ano, o real teve perdas hoje inferiores a de seus principais pares, como peso mexicano, rand sul-africano e peso colombiano.

Afora uma queda pontual no fim da manhã, quando registrou mínima a R$ 5,5592 em meio a relatos de fluxo comercial, o dólar trabalhou em alta no restante do dia. A máxima foi na primeira hora de negócios, a R$ 5,6076. No fechamento, a moeda era cotada a R$ 5,5863, avanço de 0,29%.

Com temores em relação à demanda global, os preços do barril do petróleo caíram quase 2%, marcando o terceiro pregão seguido de perdas. As cotações do minério de ferro recuaram mais de 3% no mercado futuro em Dailan, na China. E o cobre perdeu valor pela sétima sessão consecutiva.

Com agenda doméstica de indicadores esvaziada, analistas se debruçaram sobre os detalhes das estimativas apresentadas ontem à tarde no relatório bimestral de receitas e despesas. As novas projeções sugerem que o governo já abriu mão da meta de déficit primário zero e vai se contentar com um déficit de 0,25% do PIB, limite da banda estabelecida pelo novo arcabouço. Ontem, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que qualquer “resultado dentro da banda significa, sim, o cumprimento da meta”.

Juros

Os juros futuros subiram nesta terça-feira, 23, afetados pela aversão a risco que penalizou ativos de economias emergentes em geral, por sua vez, decorrente das perdas das commodities. Num dia sem agenda relevante ou destaques no noticiário, as taxas acompanharam de perto o movimento do câmbio, com o dólar chegando novamente a tocar os R$ 5,60 nas máximas, ainda que os Treasuries hoje estivessem bem comportados.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,670% ,de 10,661% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, em 11,50%, de 11,39%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,77% (de 11,63%) e a do DI para janeiro de 2029, taxa de 12,08% (de 11,93%).

A terça-feira foi de noticiário e calendário esvaziados no Brasil, o que deslocou para o exterior a atenção do mercado de juros, que também vem sofrendo com a liquidez mais fraca durante o mês de julho, com muitos players em férias. “Não tem destaques no noticiário. Hoje é um dia ruim para ativos emergentes, que sofrem com o ‘flight to quality’ em função da queda das commodities”, afirmou o economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano. “A liquidez baixa também acaba afetando a dinâmica”, acrescentou.

Moedas emergentes como um todo apanharam do dólar, que no Brasil bateu máxima nos R$ 5,60 logo pela manhã para fechar em R$ 5,5863 no segmento à vista. A divisa americana voltou a flertar com esta marca no período da tarde, levando as taxas a acelerarem o avanço para mais de 15 pontos-base nos vencimentos longos. O recuo das matérias-primas – petróleo caiu quase 2% e o minério, mais de 3% – também respondeu pela queda do Ibovespa.

No exterior, os rendimentos dos Treasuries oscilaram ao redor da estabilidade, enquanto o mercado aguarda a oficialização de Kamala Harris para substituir Joe Biden como candidato democrata à presidência. A vice de Biden conseguiu apoio suficiente de delegados para garantir sua nomeação e já aparece ligeiramente à frente do republicano Donald Trump em pesquisas relâmpago de intenções de votos. No fim do dia, a taxa da T-Note de dez anos estava em 4,249%.