Economia
Desaceleração

CNI revisa projeção de crescimento do PIB em 2023

De acordo com o Informe Conjuntural da CNI, “a desaceleração deve caracterizar a atividade econômica em 2023”.

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12 de abril de 2023
Vinicius Palermo
CNI revisa projeção de crescimento do PIB em 2023
A previsão da CNI para a expansão da economia brasileira passou de uma alta de 1,6% para 1,2%.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) revisou para baixo sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. De acordo com o Informe Conjuntural do 1º trimestre de 2023, divulgado na quarta-feira, a previsão da entidade para a expansão da economia brasileira passou de uma alta de 1,6% para 1,2%.

Mesmo com a redução na projeção, a indústria ainda está mais otimista que as expectativas do mercado. Segundo o Boletim Focus, divulgado na última segunda-feira, 10, pelo Banco Central, a mediana para a alta do PIB neste ano é de 0,91%.

De acordo com o Informe Conjuntural, “a desaceleração deve caracterizar a atividade econômica em 2023”. “Presente já nos últimos meses de 2022, parte desse comportamento se deve à perda do ritmo de crescimento do setor de serviços, que foi o responsável por grande parte do avanço do mercado de trabalho até o terceiro trimestre de 2022.

Outra parte da desaceleração se deve aos efeitos restritivos da política monetária, que já vinham impactando negativamente a indústria e impedindo a recuperação do varejo ao longo de 2022″, diz o documento.

A avaliação do presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, é de que as taxas de juros elevadas vão continuar inibindo a atividade econômica e, consequentemente, a industrial, ao longo do ano. A entidade projeta que a taxa Selic ainda será mantida em patamar elevado, com efeitos negativos sobre o crédito, investimentos, consumo e comércio. A previsão da CNI é de que o ano feche com IPCA de 6% e uma taxa básica de juros de 11,75% ao ano.

Para a indústria, a economia brasileira sofre as consequências da falta de planejamento de longo prazo e da ausência de política industrial nos últimos 30 anos. “O Brasil não tem política industrial e a indústria tem perdido fôlego, sufocada por uma série de disfunções, principalmente no sistema tributário. Quando a indústria vai mal, o Brasil perde, porque é a indústria que paga os melhores salários, desenvolve tecnologia e inovação”, afirma Robson Andrade.

Com esse cenário, a CNI prevê que a indústria ficará estagnada em 2023, com um crescimento de apenas 0,1%. Em dezembro, a previsão da entidade era de uma alta de 0,8% do PIB industrial. Segundo o Informe, a queda da confiança colocou os investimentos e as contratações em compasso de espera. “Além disso, um dos principais problemas que preocupa o empresário industrial é o enfraquecimento da demanda, provocado pelos juros altos, elevado grau de inadimplência e de endividamento das famílias”, diz a entidade.

O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, afirma que a queda na demanda já é percebida na redução do faturamento da indústria. “Observamos a redução da demanda, não apenas do consumidor final, mas entre empresas, como menor consumo de insumos industriais e bens de capital, por exemplo”, explica o economista.

Com o desaquecimento do comércio internacional, as exportações e importações em 2023 devem vir menores que as registradas em 2022. A previsão da entidade é que as exportações fechem o ano em US$ 320,5 bilhões ante US$ 334,5 bilhões de 2022; e as importações, em US$ 264,8 bilhões ante US$ 272,7 bilhões do ano passado. Assim, a projeção da CNI é de que a balança comercial brasileira no ano seja superavitária em US$ 55,7 bilhões. Em 2022, o saldo comercial foi positivo em US$ 61,7 bilhões.

Com relação à valorização cambial, a CNI destaca que o ano começou com um cenário externo mais otimista que o final de 2022 para a cotação de moedas de países emergentes, como o Real. Mas, esse cenário, na avaliação da entidade, já dá sinais de reversão. “As recentes notícias sobre a inflação nos EUA e na Europa revisaram as expectativas no sentido de uma política monetária um pouco mais austera por mais tempo nessas economias, o que deve estimular a saída de capitais das economias emergentes em busca de ativos de menor risco, como os títulos públicos americanos.”

A CNI volta a criticar a taxa de juros Selic, em patamar elevado, o que gera um dos maiores diferenciais de juros em relação à taxa norte-americana no mundo. “Esse diferencial de juros contribui para evitar uma desvalorização do Real, em comparação com outras moedas de economias emergentes, que ainda estão em processo de escalada da taxa básica de juros.”

O Informe destaca que, por outro lado, os preços menores das commodities em relação aos preços de 2022 contribuem para inibir a valorização cambial, apesar dos preços ainda estarem em patamares elevados na comparação com os praticados antes da pandemia.

O documento lembra que a apresentação da nova âncora fiscal pelo governo federal e o anúncio de compromisso com o controle de gastos públicos reduz parte das incertezas sobre os riscos fiscais, contribuindo para reduzir a volatilidade cambial ao longo do ano. Mas destaca que a regra ainda precisa ser discutida e aprovada pelo Congresso Nacional, o que pode trazer de volta a volatilidade.

Com isso, a CNI revisou a previsão de taxa de câmbio para dezembro de 2023 de R$ 5,45 por dólar para R$ 5,35. A projeção para taxa de câmbio média do ano também foi revisada de R$ 5,33 para R$ 5,27.